Não tenho conhecimentos aprofundados em teorias New Age, ou em mindfulness e afins, nem muito menos vivo constantemente num estado de meditação zen ou pratico o peace & love dos nossos queridos hippies, mas tento aceitar a vida tal como ela é.
Penso que enquanto estivemos muito ocupados a olhar para o jardim da vizinha, a comparar a altura das árvores, o verde da relva, a cor das flores, o cheiro fresco que se sente, a frescura que se vê, o agradável que seria passar lá uma tarde, o bem que sabia em ler um livro ou dormitar naquele banquinho charmoso, e a concluir que a vida seria muito melhor daquele lado do muro, não conseguimos desfrutar do nosso próprio jardim.
O jardim da vizinha pode ser maior, mas o nosso foi feito com carinho. O jardim da vizinha pode ter mais flores, mas cada flor no nosso foi plantada e cuidada por mãozinhas pequeninas e cada árvore representa uma geração. O jardim da vizinha pode ter uma piscina para aqueles dias mais quentes refrescar, mas o nosso tem uma chafariz que encanta as crianças e consola os adultos. O jardim do lado tem mais pássaros e a relva está mais cortada, mas aqui no nosso as sombras da árvores favorecem os piqueniques e a relva maior acaricia os pés quando andamos descalços.
E não é bom vermos um jardim mais bonito que o nosso? Vermos que há coisas que podemos aprender e fazer igual, e há outras que afinal não queremos repetir. Vermos que pode haver flores cheirem melhor que as nossas mas que não significa que sejam más nem murchas. Que vai haver sempre quem tenha mais, e quem tenha melhor, e que merecem tanto como nós.
Enquanto estivermos sempre com um olho no outro lado do muro, o nosso jardim nunca vai crescer e florescer tanto como poderia. Nunca vamos cheirar o aroma fresco da primavera nem sentir o calor do sol quente do verão. Enquanto estivermos a contar quantas roseiras o outro jardim tem, não iremos mostrar aos nossos filhos os ninhos que aqui nasceram, nem as joaninhas que aqui pousaram. Enquanto que vivermos do outro lado do muro, nunca vamos estar felizes com os presentes que a nossa vida nos oferece.
O jardim da vizinha tem sempre sol, parece ser tudo mais fácil, e está sempre mais bonito, mas o nosso conta histórias, conta momentos, conta vidas.
Marta Andrade Maia
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