Eu já andava a desconfiar, e tive a confirmação quando o João me pediu para começar a vestir T-shirts com bonecos, longsleeves à sua escolha, camisolas com carapuços, enfim, aquilo que ele chama de "roupa de menino crescido". Admito que não fiquei particularmente eufórica com a seleção que ele fez e foi um desafio tentar encontrar algo de que ambos gostássemos, mas tinha que lhe fazer a vontade.
Hoje ele usa e aplica um vocabulário diferente, frases como "Mega fixe!" e " Altamente cul" (deveria ser cool, mas os seus apenas quatro anos atraiçoam o seu vocabulário novo), preocupa-se com cromos do Skylander (não sei o que isso é), com "goladas menomnais" (fenomenais, outro pontapé, fruto dos seus quatro anos, no seu vocabulário novo), brinca com " maniquas (máquinas) poderosas", e tem amigos com pais "megamente (também não conheço a palavra) divertidos" que fazem "coisas muito mais divertidas" do que nós. Conduz o carro do pai ( se bem que é na garagem), está ansioso por fazer a barba, e mostra-me com muito entusiasmo um pelo que nasceu na perna! Não me deixa pegar nos sacos, pois "eu faço, ainda te magoas", e já consegue abrir o frigorífico sozinho, escreve "mils" (emails) à avó e "skipa" ( liga pelo skype) ao tio.
Começou a "ler" livros, gosta de Guns N’ Roses e Billy Idol (culpa absoluta do pai), distancia-se do irmão, com um ano e meio, ao assumir que "nós, os crescidos" já não brincamos com o Pocoyo e "nós, os grandes" podemos ficar até mais tarde na sala. Pergunta-me se sou muito velhinha ou só apenas velhinha, ao que nem sei o que responder, e bebe vinho tinto (sumo de framboesa) ao jantar. À frente dos amigos não me dá a mão, mas ao menos consola-me com um grande abraço. Vá lá, nem tudo está perdido.
Sim, está a crescer e a querer crescer rápido. E eu, de uma forma ou outra, adaptei-me e aceitei bem esta nova realidade imposta. Mas o que sinceramente me tira fora do juízo, é saber que ele recebeu um cartão de São Valentim da "minha morada" (namorada)!!!!!
Marta Andrade Maia
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