Lembro-me de quando tinha 16 anos e tinha tanta dificuldade em ver o tempo passar, e queria que ele mudasse do passo de caracol para um sprint até à meta dos 18 anos. Lembro-me de que comentei com o meu pai de que o tempo andava tão devagar e nunca parecia sair do sítio. Ele disse-me que quando chegasse aos 18 anos o tempo iria começar a andar cada vez mais depressa. Confesso que achei pouco provável tal coisa, pois se já na altura era tão difícil transformar dias em semanas, semanas em meses, e meses em anos, certamente seria sempre assim a minha vida.
Mas não, chegou o marco dos 18 anos e o tempo mudou de velocidade. Não vou referir que parece que foi na semana passada que me casei, e que afinal já lá vão quase 8 anos, nem que foi há uns dias que o João nasceu, mas sim quase há 5 anos, nem que foi ontem que o Tomás decidiu conhecer os pais, afinal quase há dois anos atrás. Nem sequer vou falar das saudades que tenho do cheirinho deles quando eram recém-nascidos, aquele cheirinho que envolve qualquer pessoa num abraço profundo cheio de mimos e beijinhos. Nem vou referir aquele momento meio estranho, meio intenso, meio avassalador de amor e medo quando os trazemos para casa pela primeira vez. Não, não vou ser lamechas, sem deixar que a comichão que tenho no canto do meu olho esquerdo se transforme numa lágrima que desça pela cara abaixo e me vá fazer buscar um lenço de papel.
Só vou referir que tenho um filho, com quase 5 anos mas que parece já ter 7, que decidiu usar roupa de "menino crescido" – nas suas palavras –, cuja nova euforia são as cartas dos Invizmals, que quer ter um iPad para poder jogar melhor com essas cartas e que convidou 2 amigos para virem cá lanchar um destes dias.
Enquanto brincavam, eu, parada no meio do hall dos quartos, estava a ouvir. "Meu, isto, "Meu, aquilo”, "Que cena!", "És altamente!", o "Teu pai é quase tão fixe como o meu avô". A conversa pouco derivou mais do que isto, com novos vocabulários e a (má) utilização de novos adjetivos. Enquanto eles brincavam no quarto, e eu estava parada no hall a ouvir, descobri um novo lado do meu filho, que já traz amigos para casa e que quer abrir asas e voar.
E mais importante ainda, enquanto eles brincavam no quarto, e eu estava parada no hall a ouvir, descobri que enquanto o tempo galopava, eu andava distraída.
Marta Andrade Maia
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