No entanto, independentemente da faixa etária, os pais não devem esconder a doença dos filhos mas sim informá-los sobre a patologia, os exames que vão realizar, os tipos de tratamento que existem, bem como as alterações que irão ocorrer na sua rotina, de acordo com a idade e capacidade de compreensão da criança.

As crianças rapidamente compreendem ou sentem, no caso das mais pequenas, alterações que afetam a sua rotina. Por isso, logo que se sintam preparados para falar com elas sobre a doença, os pais devem fazê-lo.

Quanto mais tarde for o momento escolhido para dar a notícia ao filho, maior será o período em que a criança irá perceber as mudanças comportamentais sem saber ou compreender o motivo das transformações. Esta atitude pode gerar instabilidade emocional, pois a criança vai perceber que algo está errado e vai querer saber o porquê.

Os pais são as pessoas mais indicadas para falar com a criança sobre a doença, dada a forte ligação afectiva, sendo fundamental o papel do médico quando se trata de informar sobre o diagnóstico.

No momento de informar o filho sobre a doença, os pais não devem recear uma maior fragilidade, nem impedir a expressão das suas emoções, mesmo as mais difíceis e negativas. Ter uma conversa verdadeira e sem medo é a melhor forma de informar a criança sobre a doença e de lhe transmitir apoio e segurança. Se os pais sentirem dificuldade em falar com o seu filho sobre o cancro, poderão ser ajudados por outro familiar ou amigo para facilitar o diálogo e permitir que a criança se sinta confortável e segura.

Durante a conversa que vão ter com o filho, é importante que os pais respeitem os seus sentimentos, bem como a sua opinião sobre os factos, adoptando uma atitude de confiança e esperança relativamente ao futuro e à recuperação. Todas as questões que a criança ou o adolescente possa vir a fazer devem ser respondidas com verdade e de forma clara, para evitar interpretações dúbias sobre a situação.

As informações sobre a doença e os tratamentos deverão ser dadas em função das necessidades da criança e da fase actual da doença e suas implicações. A patologia também poderá ser explicada à medida que a criança vai fazendo perguntas sobre a sua condição e sobre as mudanças que observa e sente, utilizando sempre um tipo de vocabulário que a criança entenda, sem palavras difíceis e que façam parte do seu quotidiano.

Até aos 5 anos de idade, a criança poderá não conseguir perceber a dimensão do problema e a doença que tem, mas pode levantar questões percebendo que tem um “dói-dói” que precisa de tratar. Facilmente se apercebe que algo está errado, sobretudo quando se depara com mudanças na sua rotina e possível alteração no comportamento dos pais, sendo fundamental que receba muito carinho e protecção de todos os que a rodeiam. Os pais conseguirão explicar que ela está doente e que, por isso, terá de ir muitas vezes ao médico e passar algum tempo no hospital para que fique boa depressa.

Dos 5 aos 7 anos, a criança atinge progressivamente um nível de maturidade mental superior que lhe permite compreender, faseadamente, o que é a sua doença e quais as suas consequências, tentando explorar ao máximo o porquê de estar doente, de sentir as dores que tem e o motivo para ir tantas vezes ao médico. Reforçar a importância das idas ao hospital e os benefícios de consultar o médico - que vai tornar as células “doentes” do cancro em células “boas” - será um bom ponto de partida.

Dos 7 aos 12 anos, a criança já conseguirá compreender melhor a doença e sua complexidade, sendo capaz de a identificar como um conjunto de sintomas que está a vivenciar. Nesta fase será importante reforçar a ideia de que a recuperação também dependerá da sua colaboração e adesão ao tratamento e indicações médicas.

Na Adolescência, será mais fácil compreender o estado de saúde embora possa ser difícil encarar e aceitar a situação com tranquilidade devido ao misto de sentimentos e emoções próprias desta idade. O impacto da doença, a ideia de mudanças profundas na sua vida e o medo do futuro podem desencadear sentimentos de ansiedade, raiva, medo e estados depressivos. Procurar acompanhamento psicológico para o adolescente pode ser importante para ajudar a tratar eventual sintomatologia ansiosa e depressiva, assim como outras preocupações que possam surgir, nomeadamente ligadas à imagem corporal, sexualidade e relacionamentos interpessoais.

É importante que a criança possa fazer parte de todo o processo, falando com os pais sobre o seu tratamento, participando e opinando sobre as decisões. Se não persistir a clareza e a verdade, tal poderá gerar instabilidade emocional e medo no filho. Não deixe que a doença isole a criança do mundo!

Conteúdo retirado do portal PIPOP (www.pipop.info), um projeto da Fundação Rui Osório de Castro (www.froc.pt)