Quando falamos em crianças com necessidades especiais, sabemos que muitas destas crianças, ainda em idades muito precoces podem apresentar lacunas em uma ou mais áreas do desenvolvimento.
Assim, é fundamental conhecermos quais as práticas de qualidade, que exibem resultados comprovados, para providenciarmos melhores serviços e os recursos necessários para estas crianças e para as suas famílias.
É inquestionável a importância que uma intervenção nos contextos de vida naturais poderá ter, ou seja, que uma intervenção nos contextos de casa, escola e comunidade trará ganhos para estas crianças, suas famílias e a comunidade em geral. Um trabalho de equipa (família, escola e terapeutas,…) com uma colaboração eficaz é também um aspeto essencial. Contudo, estas abordagens por si só não são suficientes.
Se pensarmos no dia a dia das famílias e crianças conseguimos identificar diversas rotinas e atividades regulares que acontecem naturalmente. Estas rotinas possibilitam que as crianças aprendam novas competências porque são previsíveis, funcionais e podem ocorrer diversas vezes ao longo do dia, ou seja representam inúmeras possibilidades de “treino”.
Quando as intervenções e a promoção do desenvolvimento infantil são incorporadas nas rotinas e atividades regulares, as habilidades aprendidas são mais funcionais e significativas para as crianças e suas famílias, melhorando o seu envolvimento e participação.
Existem, no entanto, alguns ingredientes a ter em conta para obtermos melhores resultados:
-A identificação das rotinas que trazem maior satisfação à criança e família - pois se uma criança não gostar do momento do banho não fará sentido utilizar esta rotina para “ensinar” por exemplo as diferentes partes do corpo humano.
-Que estratégias já são utilizadas, em casa e na escola, e quais os ganhos – ou seja, o que já esta a resultar e que devemos potenciar ou o que devemos sugerir alterar.
-Quais os objetivos definidos, e que queremos alcançar
-E quais as estratégias a utilizar.
Quando iniciamos um plano de intervenção os pais perguntam muitas vezes se necessitam de utilizar um tempo específico durante o seu dia a dia, por vezes muito exigente, para se dedicarem à estimulação do desenvolvimento dos seus filhos. Ora, isto não é necessário, nem o mais eficaz.
Mas como fazer?
Apresentamos alguns exemplos de como tirar partido das rotinas para promover o desenvolvimento
Hora do jantar – A Joana, que adora comer fruta tem 4 anos e a sua família janta sempre em casa, ou seja, pelo menos sete vezes por semana, têm este momento e esta oportunidade de aprendizagem. Os pais da Joana, optaram por jantar mais cedo e assim conseguem aproveitar este momento. Agora todas as noites levam um cesto cheio de fruta para a mesa. Neste momento, mostram as diferentes frutas aos 3 filhos dizendo os seus nomes para que eles escolham a que mais gostam. Enquanto comem a fruta, os pais e os filhos, fazem jogos com as outras peças de fruta, dizem os seus nomes, separam-nas por cores, por tamanhos, contam quantas peças existem de cada variedade e os filhos mais velhos até já fazem contas com as frutas.
Hora do banho – A Joana, tem 3 anos, adora água, e esta rotina é diária, ou seja pelo menos sete vezes por semana existe este momento. Neste momento, quem esta em casa é a mãe da Joana, que adora que a filha fique a brincar no banho. A Joana, tem na sua banheira diferentes animais da quinta, durante esta rotina a mãe e a Joana brincam com os animais, dizem os seus nomes e imitam os seus sons, enquanto os mergulham na àgua. Esta rotina é também utilizada pela mãe e pela Joana, para aprenderem as diferentes partes do corpo, a mãe coloca um pouco de gel de banho nos pés, mãos e barriga e a Joana já repete o que a mãe diz.
Hora da brincadeira livre – O Ricardo, tem 5 anos, gosta muito de brincar com os seus pais e irmão, com blocos de encaixe. Esta rotina acontece geralmente ao sábado e domingo, com os pais e irmão, mas pode repetir-se mais vezes no jardim de infância. O Ricardo, os pais e o seu irmão constroem uma torre muito alta com os blocos, mas as peças são colocadas uma de cada vez por cada um dos elementos da família, respeitando a vez de cada um, para além disso colocam primeiro só as peças vermelhas, de seguidas as azuis e por fim as amarelas. O Ricardo, neste momento já nomeia e identifica estas três cores e consegue esperar pela sua vez na brincadeira.
Estes são apenas alguns exemplo que estas famílias escolheram, tendo em conta as suas disponibilidades, os objetivos a atingir e as preferências das crianças.
Estas famílias não se sentem mais sobrecarregadas por estarem a “trabalhar” com os seus filhos, neste momento elas próprias descobrem todos os dias novas oportunidades de aprendizagem dentro do seu dia a dia, de forma a alcançarmos os objetivos pensados por todos com vista à promoção do desenvolvimento dos seus filhos.
Assim, tudo se torna mais fácil e eficaz!
Texto: Sara Figueiredo, Psicóloga Clínica
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