Num comunicado o EEB, uma rede europeia de mais de 170 organizações ligadas ao ambiente, explica que a contaminação das fraldas foi revelada há anos pela agência nacional francesa para a segurança sanitária, alimentar, ambiental e do trabalho (ANSES), uma instituição pública tutelada pelos ministérios da Saúde, Ambiente, Agricultura, Trabalho e Consumo.
O alerta da ANSES foi feito em 2018 mas as instituições europeias têm falhado na criação de legislação que proteja os consumidores, o que voltou a acontecer na quarta-feira, explica o EEB.
A Comissão Europeia tinha um prazo de três meses para apresentar uma proposta legal sobre restrições na União Europeia (UE) de produtos químicos em fraldas, na sequência de um pedido francês nesse sentido feito a 20 de abril. Até agora nunca cumpriu os prazos de outros pedidos de França e voltou a falhar esse prazo na quarta-feira, nota a organização de ambiente.
As autoridades francesas dizem que 90% dos bebés europeus foram expostos a contaminação química “muito grave” através de fraldas vendidas em toda a Europa nos últimos anos, colocando os bebés em risco de “doenças potencialmente muito graves” mais tarde nas suas vidas.
A agência francesa testou em 2018 e 2019 as marcas mais vendidas de fraldas descartáveis, incluindo as chamadas “amigas do ambiente” e encontrou 38 produtos químicos de “risco muito grave”, formaldeído, classificado como cancerígeno e que já é proibido em brinquedos, e outros 37 produtos com impactos também na saúde, seja a nível cancerígeno seja a nível hepático, imunológico ou neurológico, entre outros.
A ANSES estimou que mais de 14 milhões de crianças europeias poderiam sofrer de “doenças potencialmente muito graves”, devido ao uso das fraldas.
A agência francesa voltou a fazer testes em 2020 em nove marcas de fraldas e encontrou apenas uma das substâncias químicas presentes, o formaldeído. Mas admitindo que a contaminação poderia voltar a acontecer e pediu à UE para que limitasse, de forma rigorosa, o uso de produtos químicos.
“As instituições europeias têm resistido a essa proposta. A Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) reconheceu riscos potenciais, disse que os produtos químicos não deveriam estar presentes, mas disse que os franceses não conseguiram demonstrar adequadamente um risco para as crianças”, diz-se no comunicado.
O EEB considera que a Comissão Europeia falhou e que na quarta-feira voltou a falhar um prazo legal para responder à proposta francesa, uma situação que se pode prolongar por meses ou anos.
Segundo o EEB 21 organizações não-governamentais escreveram à Comissão, afirmando que as consequências para a saúde das crianças poderiam ser irreversíveis e que a UE deveria, de forma preventiva, proibir os produtos químicos nas fraldas.
Dolores Romano, responsável na área dos produtos químicos no EEB, citada no comunicado, afirmou: "Dia após dia, semana após semana, recém-nascidos e bebés incrivelmente sensíveis podem ser expostos a algumas das substâncias mais tóxicas do planeta. Por incrível que pareça, esta situação é perfeitamente legal”.
A pressão francesa obrigou os fabricantes a modificar a composição das fraldas, mostrando que é perfeitamente possível, mas, “assim que os inspetores se forem embora, o problema poderá estar de volta. É por isso que é necessária uma lei”, acrescentou.
E no mesmo documento a vice-presidente da Comissão do Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar do Parlamento Europeu, Anja Hazekamp, afirmou: "É muito preocupante que milhões de recém-nascidos e crianças na Europa já estejam expostos a produtos químicos perigosos enquanto ainda estão de fraldas. É ainda mais preocupante que, apesar das provas disso, a agência oficial dos Produtos Químicos da UE opte por defender os interesses económicos da indústria, em vez de apoiar restrições de segurança que protegeriam a saúde destas crianças pequenas”.
A agência francesa diz que são feitas mil fraldas por minuto na Europa e que o mercado vale sete mil milhões de euros por ano, sendo dominado por duas marcas, Pampers (36%) e Huggies (26%). E que mais de 90% dos pais europeus as utilizam desde os anos 1990.
O EEB nota que, além das fraldas, a exposição diária a produtos químicos sintéticos em produtos do dia-a-dia está a contribuir para taxas crescentes de cancro, problemas reprodutivos e doenças metabólicas, tais como diabetes e obesidade, entre outros impactos.
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