"A questão do freio lingual curto é pouco consensual entre os profissionais de saúde. Na maioria das situações, não há necessidade de intervenção, isto é, de fazer uma frenectomia", explica a médica Mariana Capela, pediatra no Hospital Lusíadas Porto.
"Este tratamento, que consiste num pequeno corte que se faz no freio da língua, trata-se de um procedimento simples, com uma taxa baixa de complicações. No entanto, só está indicado se o freio da língua for tão curto que impeça ou dificulte de forma significativa a amamentação, ou mais tarde, que interfira na linguagem", acrescenta.
"Há várias causas de dificuldades na amamentação e o acompanhamento das mães e dos bebés nesta fase é muito importante, mas cortar o freio da língua não vai resolver todos os problemas, pelo que só deve ser recomendado este procedimento se, de facto, houver indicação para tal", explica a especialista.
"Na maioria dos casos, isso não acontece, pelo que não é necessária correção. Assim sendo, mesmo que se trate de um procedimento pouco invasivo, não há beneficio em fazer. Quando feito, deve ser sempre realizado por profissionais de saúde", refere ainda.
Aumento de casos em França
Em França, há cada vez mais pais que pedem que se faça uma frenectomia lingual, uma medida que os médicos consideram ineficaz. "Devemos questionar-nos sobre o aumento vertiginoso a frenectomia lingual em França e em todo o mundo", alertou no final de abril a Academia de Medicina francesa.
Ao cortar esse diminuto apêndice debaixo da língua, teoricamente o recém-nascido poderia mamar com mais facilidade. Na realidade, porém, é "um gesto agressivo e potencialmente perigoso para os recém-nascidos e bebés", insiste a Academia de Medicina.
A moda "começou provavelmente nos Estados Unidos e no Canadá", assegura à AFP Virginie Rigourd, pediatra do hospital Necker em Paris.
Na Austrália, o número de frenectomias quintuplicou nos últimos dez anos. Segundo Virginie Rigourd, este tipo de operação chega a ser realizado por dois tipos de profissionais pouco qualificados para o caso: osteopatas e conselheiros de maternidade.
Comentários