A atual geração de adolescentes cresceu numa realidade francamente diferente de outras gerações anteriores. Desde idades muito precoces habituaram-se à omnipresença da tecnologia (televisão, computadores, tablets, videojogos, telemóveis etc.). É natural e expectável que tenham uma relação com estes meios de comunicação e divertimento muito diferente da que têm e tiveram os seus pais. Apercebemo-nos, em consulta, que esta diferença origina muitos conflitos e incompreensões.
É fundamental que façamos um esforço de entendimento, tentando perceber o papel fundamental que estes meios têm na vida dos jovens, ao interpretar e avaliar determinados comportamentos. Ainda assim, precisamos de ter alguns cuidados pois a utilização excessiva e desregrada acarreta alguns riscos e consequências que importa ter em conta.
Vantagens das novas tecnologias
A familiaridade e facilidade de utilização da internet, redes sociais e novas tecnologias é fundamental enquanto ferramenta futura.
- Permite um acesso ilimitado, fácil, rápido a uma quantidade inimaginável de informação.
- É uma ferramenta importantíssima de literacia, cultura e educação.
- Facilita o contacto social rápido e instantâneo. Tanto o contacto social com pessoas que já se conhecem (colegas de escola e amigos), como com pessoas distantes de culturas diferentes. Esta facilidade pode ser altamente enriquecedora ao promover o contacto com outras realidades.
- A familiaridade e competência na utilização das ferramentas informáticas e de comunicação são uma enorme mais-valia no futuro académico e profissional dos jovens.
Riscos associados ao excesso de utilização das novas tecnologias
- Sedentarismo
- Obesidade e excesso de peso
- Alterações do sono
- Insucesso escolar
- Depressão (Isolamento)
- Dependência e vício
- Cyberbullying
- Violência, pornografia, pedofilia
Parece claro que a forma como as novas gerações sociabilizam é extremamente diferente daquela das gerações passadas. A sociabilização é atualmente independente da distância ou do isolamento físico e a presença nas redes sociais é cada vez mais indispensável para a inclusão nos grupos de jovens. É nelas que se organizam festas ou eventos, que se discutem trabalhos de grupo e que se acertam pormenores de organização na escola.
Devemos contudo estar alerta para alguns riscos e problemáticas que são emergentes e têm estado associadas ao crescimento das redes sociais.
Quando olhamos para a forma como os adolescentes utilizam as redes sociais, há um aspeto que impressiona particularmente: a ausência de períodos de sossego distante dos amigos. As redes sociais estão presentes constantemente, com notificações e mensagens a chegar a cada instante, a solicitação é permanente e há cada vez menos espaço para os momentos de solidão e quietude, que são fundamentais para processos de introspeção, estudo, leitura, sono, etc.
O sono é uma preocupação crescente, existe um défice de sono nos adolescentes das sociedades modernas, com graves consequências para a saúde, desenvolvimento e rendimento escolar. A presença do telemóvel no quarto, ligado e online nas redes sociais atrasa muito a hora a que os jovens adormecem. De pouco serve irem para a cama às 22 h, se estão a trocar mensagens ou comentar publicações nas redes sociais, no seu telemóvel, até à 1 ou 2 h da manhã.
Uma outra preocupação crescente é o cyberbullying. É um tipo de bullying particularmente grave e poderoso. O bullying online tem o potencial de chegar à totalidade dos amigos e/ou familiares da vítima, está ativo 24 h por dia e muitas vezes é extremamente difícil de apagar após publicação e partilha. É fácil perceber que as consequências podem ser desastrosas, podendo levar a isolamento social, absentismo escolar, depressão e, em raros casos extremos, ao suicídio.
O uso massivo da internet e redes sociais tem ainda o potencial de levar ao desinteresse por outras experiências tão fundamentais como as atividades sociais «ao vivo» ou o desporto, aumentando o sedentarismo e reduzindo a atividade física com as múltiplas consequências tão conhecidas para a saúde (obesidade, hipertensão arterial, risco cardiovascular, etc.).
Recentemente tem-se reconhecido a problemática da dependência destas novas tecnologias (videojogos ou internet e redes sociais), que constitui uma doença séria com múltiplas consequências, como o isolamento social, a depressão, as perturbações do sono ou o absentismo escolar.
É fundamental que os pais mantenham vigilância da utilização que os filhos fazem da internet e redes sociais. Estabelecendo regras quanto ao tempo de utilização, tipo de utilização e vigilância dos «amigos online», acompanhando a actividade on-line e explicando e ajudando a interpretar correctamente a informação acedida. Esta vigilância é um dever qualquer pai.
Regras de segurança online
Supervisão parental:
- Regras bem definidas
- Patilha
- Ferramentas de “parenting”
- Bloqueio de sites
- Filtros
- Consulta de Histórico
Ensinar sobre:
- Evitar a partilha de dados pessoais
- Desconfiar de desconhecidos
- Denunciar
- Reforçar que nem tudo o que está online é verdade
Um estudo recente realizado com crianças e adolescentes na consulta do Hospital CUF Descobertas, mostrou que os níveis de utilização dos novos meios de são extremamente altos, o que contrasta com níveis muito baixos de supervisão parental:
- Entre os 0 e os 3 anos 67% utiliza estes meios e apenas 35 % dos pais exerce controlo parental
- Entre os 4 e os 6 anos 89% utiliza e apenas 44% do pais exerce controlo parental
- Entre os 7 e os 10 anos 98 % de utilização e 50 % controlo parental
- Entre 11 e 14 anos 100 % utiliza e 57 % de controlo parental
- Entre os 15 e os 18 anos 100 % utiliza e apenas 26 % controlo parental.
Nestes números impressiona sobretudo a baixa percentagem de controlo exercido pelos pais, o que revela uma grande falta de sensibilização para os riscos envolvidos.
As recomendações são do médico Hugo de Castro Faria, Pediatra no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas.
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