O primeiro confinamento marcou o momento em que as instituições de ensino se confrontaram, pela primeira vez, com a necessidade do recurso exclusivo ao e-learning. Um estudo do ISAG – European Business School e do Centro de Investigação de Ciências Empresariais e de Turismo da Fundação Consuelo Vieira da Costa (CICET-FCVC) analisou o impacto que tal mudança trouxe para os estudantes do Ensino Superior, em termos dos níveis da aprendizagem e das emoções geradas pelo isolamento social.

Apesar de a maioria dos estudantes inquiridos revelar que preferia o ensino presencial (56,5%), o estudo encontrou alguma abertura a formatos que conciliem o ensino presencial com o ensino online. Os modelos híbridos (ou b-learning) foram mesmo indicados como os preferidos por 35,5% dos estudantes, enquanto o e-learning, em exclusividade, recolheu apenas a preferência de 8%.

O estudo “Práticas de Lazer, Emoções e Ensino E-learning dos Estudantes do Ensino Superior”, realizado com dados obtidos entre março e maio de 2020, através de um questionário disseminado online, concluiu ainda que os alunos não sentiram o seu percurso afetado pela transição para o ensino a distância. De facto, uma parte significativa dos 527 inquiridos indicou que se manteve igual o seu interesse pelo curso (56%), pela unidade curricular (55%) e pelo estudo em geral (45,2%). Continuou também igual a relação com os colegas (46,9%) e, para 46,3%, a relação com os professores.

Responderam ao inquérito estudantes do Ensino Superior de todo o país (cerca de 48% da Área Metropolitana do Porto), que indicaram utilizar as plataformas de ensino a distância, sobretudo, para a frequência das aulas (80,5% indicaram fazê-lo “sempre”). Não tão frequente foi o pedido de esclarecimento de dúvidas aos professores (36,6% indicaram fazê-lo apenas “às vezes” e 35,3% só “raramente”) e com colegas (27,9% nunca o fizeram, 28,8% fizeram-no “raramente” e 27,5% “às vezes”).

Apesar da preferência pelo ensino presencial, os estudantes inquiridos reconheceram as vantagens trazidas pelo e-learning. Nomeadamente, 70,8% concordaram ou concordaram totalmente que as atividades em e-learning eram relevantes para a sua aprendizagem, 69,8% apontaram que o uso da plataforma não era complexo nem difícil e 68,5% afirmaram que os docentes estavam sempre disponíveis em todo o processo de ensino/aprendizagem. Mais de metade afirmaram, ainda, que o número de atividades solicitadas era adequado em relação ao tempo disponível (52,2%) e que o e-learning concedia maior flexibilidade na gestão do tempo (58,2%). Foram também mais os estudantes que indicaram que os professores facultavam mais materiais de apoio (46,1%) do que os aqueles que referiram o contrário (27,1%).

Confrontados com um modelo de ensino que, para muitos, foi uma total novidade, 67,4% dos estudantes concordaram ou concordaram totalmente que o e-learning exige muito esforço de aprendizagem, 31,7% assinalaram que o ensino a distância funciona em todas as unidades curriculares e 31,3% defenderam que o modelo de avaliação dos conteúdos/matérias se encontrava bem definido para todas as unidades curriculares.

“Os primeiros momentos do uso exclusivo do e-learning foram de extraordinária adaptação para as instituições de ensino, para os seus docentes e estudantes. É natural que, pela rapidez da transição, tenha havido espaço para melhorias nos métodos de aprendizagem, contacto e no modelo de avaliação”, refere a equipa deste estudo (Cristina Cunha Mocetão, Catarina Nadais e Rosa Conde), constituída por docentes do ISAG – European Business School e investigadoras do CICET-FCVC. “Esta experiência global com o e-learning trouxe, sem dúvida, um grande aperfeiçoamento tecnológico e um reconhecimento exponencial, que nos fizeram caminhar, posteriormente, para uma conciliação mais eficaz entre os regimes presenciais e à distância. Estes formatos híbridos irão continuar a marcar, cada vez mais, o ensino em Portugal e no mundo, e este estudo revelou já alguma predisposição dos estudantes do Ensino Superior para essa nova realidade”, acrescentam as responsáveis pelo estudo.

Como se sentiram e o que fizeram os estudantes para além das atividades letivas?

Apesar de os respondentes afirmarem estar preocupados com a pandemia (7 em 10 estudantes), o estudo do ISAG – European Business School e do CICET-FCVC mostrou que o isolamento social, durante o primeiro confinamento, não despertou sentimentos negativos extremos entre os estudantes do Ensino Superior. Nessa altura, os inquiridos afirmaram que se sentiam pouco ou nada envergonhados (83,9%), agressivos (78,9%), amedrontados (69,3%), aflitos (66,4%), transtornados (64,5%), abatidos (63%), deprimidos (61,8%), incomodados, tristes ou agitados (cerca de 61%) e chateados (60,3%).

“Os resultados mostraram que as capacidades de iniciativa e tomada de ação destes jovens ficaram mais condicionadas”, afirmam as investigadoras. O estudo aponta que os estudantes se sentiram, de facto, pouco ou nada vigorosos (63,3%), empolgados (62,8%), estimulados (60,7%), inspirados (55,6%) ou entusiasmados (52,4%).

“De sublinhar que as próprias instituições de Ensino Superior, para além de procurarem garantir os recursos necessários ao normal decorrer da atividade letiva, tiveram um papel determinante na procura do bem-estar dos seus estudantes, pois muitas criaram mecanismos de apoio emocional e fortaleceram os canais de contacto à disposição dos alunos”, reforçam as investigadoras.

O inquérito procurou também perceber quais as atividades não letivas que, em confinamento, mais ocuparam o tempo dos estudantes. Ouvir música (62,4%), ver séries e filmes (51,4%) e fazer as lides domésticas (41,2%) foram as atividades que mais inquiridos fizeram com uma maior regularidade. No extremo oposto, estão a prática de exercício físico fora de casa (53,5%), bricolage (49,1%) e a ida às compras (29,6%).

As investigadoras concluem que “a pandemia ocasionou um panorama de isolamento físico e social que transformou a vida de um momento para o outro dos agentes sociais (estudantes e professores), que tiveram de, não apenas lidar com as dificuldades emocionais, físicas e económicas decorrentes da pandemia, mas também adaptar-se a um contexto de mudança e de continuidade”.