Nunca se falou tanto dos idosos como nos dias de hoje, talvez este seja um dos aspetos positivos que a Pandemia nos trouxe. A realidade dos lares, os efeitos do isolamento e os números de mortes chocaram muitos de nós. Qual o impacto de distanciar das nossas vidas os mais velhos?
O Idadismo é a 3ª causa de discriminação mais comum no mundo e de acordo com a Organização Mundial de Saúde, em Março de 2021 ( The global report on Ageism), uma em cada duas pessoas discrimina os mais velhos “adotando atitudes danosas para a sua saúde física e mental”.
Existem em Portugal alguns movimentos e associações que estão a desenvolver ações no sentido de alertar a população em geral para a violência e o preconceito existente contra os idosos –“Stopidadismo e “Os idosos são valiosos”, são dois exemplos.
A fundação Calouste Gulbenkian e a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima elaboraram, em outubro de 2020, o relatório “ Portugal mais velho” onde identificam algumas das necessidades em termos de políticas públicas e de legislação para o apoio aos mais velhos, assim como, apresentam recomendações e boas práticas relativamente ao envelhecimento e violência sobre esta população.
Quando falamos nos cuidados de saúde à população mais Idosa, algumas das questões que surgem com maior frequência são:
É importante o acompanhamento médico?
O envelhecimento pode ditar a perda de capacidades a vários níveis: cognitivo, físico, social. Deste modo, em várias instituições de saúde já existe consulta de Geriatria que visa fazer uma avaliação global e com mais precisão das necessidades do Idoso (Avaliação Geriatrica Global). Estão descritos, no documento do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade portuguesa de Medicina interna, os objetivos desta especialidade: aumentar a precisão do diagnóstico; tornar o prognóstico mais correto; diminuir o risco iatrogénico (interação de vários medicamentos, resultante da prescrição de várias especialidades médicas); facilitar condutas preventivas; orientar a escolha das intervenções; adequar as medidas assistenciais; facilitar o acompanhamento e melhorar a qualidade de vida.
A avaliação é realizada por equipa multidisciplinar (médico, enfermeiro, fisioterapeuta ou enfermeiro de reabilitação) e sustenta-se, inicialmente, na aplicação de instrumentos de Avaliação Geriátrica Global ( escalas creditadas a nível nacional e internacional) e nos resultados obtidos por estas.
Sinto que cada vez estou mais esquecido, será que tenho Alzheimer?
Quando se fala em perda de memória ou esquecimento, em pessoas idosas, pensa-se, na maioria das vezes, em demências. É natural perder capacidade de memória com o envelhecimento. No entanto, esta situação também poderá estar relacionada com outras doenças associadas ou até com alguma medicação em curso.
Deste modo, é importante fazer avaliação do Idoso, em consulta de memória, para um melhor diagnóstico e ajuste terapêutico. O acompanhamento por profissionais de saúde é essencial para aplicar estratégias capazes de melhorar ou atrasar esta dimensão cognitiva, através de atividades que promovam o envelhecimento ativo.
O que posso fazer para me manter ativo?
- atividade física regular, que pode passar por caminhadas diárias;
- o convívio social – falar com outras pessoas, trocar ideias;
- jogos que estimulam a memória : jogo das diferenças, palavras cruzadas e sudoku;
- atividades culturais, como o teatro, concertos e cinema;
- frequentar Universidade Sénior ou optar por aprender uma nova língua;
- contar histórias ou até escrevê-las;
-Iniciar e/ou dar continuidade a um diário;
O “olhar “sobre os idosos traz ao de cima o nosso lado mais Humano, por sentimento de culpa ou porque fica claro o futuro de cada um de nós?
Qualquer que seja a resposta a esta pergunta, implica ação. Existe ainda um caminho que a sociedade tem que percorrer no sentido de mudar mentalidades e criar estratégias direcionadas para a proteção e cuidados aos idosos em Portugal.
Um artigo da enfermeira Fátima Parreira, responsável pela Consulta de Enfermagem de Apoio Geriátrico do Hospital CUF Descobertas.
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