O verão está a chegar e com ele são muitas as questões sobre os efeitos nocivos do sol na saúde ocular das crianças. Uma das perguntas mais frequentes nas nossas consultas de Oftalmologia Pediátrica é: O meu filho deve usar óculos de sol?
A luz solar emite no seu espectro luminoso, entre outras, a radiação ultravioleta (UV). A radiação UV é a que pode causar mais danos no sistema visual, e pode ser dividida em UV-A, UV-B e UV-C. Os efeitos da radiação UV na saúde humana dependem da quantidade e tipo de radiação que atingem a superfície terrestre.
Os tipos A e B são os que apresentam maior repercussão na saúde humana. Os olhos apresentam mecanismos e estruturas que os protegem naturalmente da radiação UV, recebendo sob circunstâncias normais apenas uma pequena porção de UV do ambiente.
Quais são as lesões oculares relacionadas com a exposição solar?
O excesso de exposição solar pode causar lesões oculares a curto e a longo prazo. Estes vão depender da intensidade da radiação (índice de radiação UV) e do tempo de exposição.
A exposição ocular a luz solar intensa sem proteção, pode provocar patologia aguda com diminuição transitória da visão e dor por queimadura solar da córnea (fotoqueratite). Este tipo de lesão é mais frequente em situações de exposição prolongada a UV-B, como por exemplo, na neve, que reflete boa parte da radiação.
A exposição a radiação solar a longo prazo está ligada a um aumento do risco de patologia degenerativa e neoplasias da pele, conjuntiva, córnea, retina e alguns tipos de catarata. Nestas situações os efeitos da radiação UV são cumulativos ao longo da vida. De notar que as crianças são particularmente susceptíveis pois o seu cristalino apresenta um teor proteico diferente do adulto permitindo maior transmissão de radiação à retina.
O que fazer para proteger os olhos das crianças?
A melhor proteção é evitar a radiação solar, principalmente quando o índice de radiação UV é superior a 10 (numa escala de 0 a 15). Evitar a exposição direta ao sol nas horas de maior intensidade de radiação (entre as 10h e as 16h). Utilizar óculos de sol e boné/chapéus com abas largas que proporcionem sombra sobre a face. Em crianças com menos de 6 meses de idade a melhor proteção é evitar completamente a exposição solar.
Quando é que as crianças devem usar óculos de sol?
Existem situações em que o uso de óculos de sol se torna obrigatório, nomeadamente em crianças que já apresentem patologia ocular. As crianças que se encontram em maior risco de exposição são as que apresentam patologia da retina (p.e. retinopatia pigmentar), albinismo, aniridia, as que foram operadas a catarata (nas quais a proteção conferida pelo cristalino não existe), e as que fazem tratamentos que aumentem a fotossensibilidade (p.e. tetraciclinas). Nas crianças sem factores de risco deve ponderar-se o uso de óculos de sol durante as atividades ao ar livre, no Verão, em grandes altitudes, regiões próximas do equador e zonas de grande reflexão de luz (neve e mar) em que os níveis de radiação UV são mais elevados.
Qual a idade mínima para iniciar o uso de óculos de sol?
Não existe uma idade mínima, as crianças podem usar óculos de sol em qualquer idade, no entanto só o devem fazer quando iniciam as atividades ao ar livre e quando conseguem manusear os óculos de forma autónoma. Mesmo com idade inferior a 1 ano, podem usar óculos de sol desde que estes obedeçam aos critérios padrão de segurança, que incluem a proteção UV e a proteção contra o impacto. Os óculos de sol tornam o meio ambiente mais escuro, e por isso deve ter-se em atenção que em crianças que apresentem uma marcha ainda instável as lentes escuras podem interferir com a sua percepção do espaço e navegação.
O que comprar?
Esta é uma pergunta frequente e que importa esclarecer. Os pais devem certificar-se da presença do símbolo CE, o que significa que o fabricante obedeceu à norma EN ISO 12312-2:2015.
A característica essencial na compra dos óculos de sol é a proteção UV. As lentes devem ter filtro UV próximo dos 100% ou bloquear a radiação UV até aos 400nm, independentemente da sua cor. As lentes devem ter boa qualidade óptica para evitar a distorção da imagem.
Os óculos não necessitam de ser caros para oferecer uma boa proteção UV. Na maioria dos casos o valor elevado está relacionado com a marca.
As crianças estão mais sujeitas a traumatismos, por isso a armação e as lentes devem ser resistentes (policarbonato é o ideal).
Quanto mais escuras as lentes melhor a proteção?
Não. As lentes mais escuras não protegem necessariamente mais contra a radiação. É importante notar que a cor e o grau de coloração não estão relacionados com o grau de proteção UV. As lentes devem ter uma coloração que proporcione conforto na presença de luz solar, mas não devem ser demasiado escuras para não alterarem a visão e as cores naturais dos objetos.
E a armação? A armação dos óculos deve ser o mais envolvente possível, de modo a não permitir a entrada dos raios solares pelos lados, por baixo e por cima, protegendo os olhos das crianças por todos os ângulos. Estudos mostraram que a entrada de radiação UV refletida à volta de determinado tipo de armação, reduz o efeito benéfico da proteção das lentes.
As explicações são da médica Paula Bompastor, oftalmologista do Instituto CUF Porto.
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