É muito fácil fazer uma rápida associação: se o bebé chora e não cresce ou cresce pouco, então, necessariamente, ou a mãe não tem leite ou o leite é fraco.
Mas tantas vezes não é nenhuma destas respostas. Tantas vezes são mães industriadas para oferecer uma maminha de cada vez, de 2 em 2 horas, a sofrer de privação de sono e com a sensação de impotência perante um recém-nascido demasiado adormecido para conseguir mamar. Aqui surgem pela primeira vez as velhas mezinhas e receitas: chá de funcho, cerveja preta e bacalhau são alguns dos exemplos de alimentos aos quais se atribui propriedades mágicas e indutoras da lactação.
O que a ciência nos diz é que, mais importante do que este ou aquele nutriente, é a riqueza e diversidade da alimentação. Em média, uma mulher que amamenta requer mais 500 kcal por dia que, frequentemente, na azáfama de recuperação do peso pré-natal, não são ingeridas e como tal, a mãe não consegue ter uma produção óptima de leite. Existem também micronutrientes cuja importância não pode ser ignorada, daí a vantagem de uma dieta rica e variada, com recurso a legumes, proteína e fruta.
E depois, mal ou bem, com muitas ou poucas lágrimas, a amamentação lá se estabelece. Mas os problemas não ficam por aqui: o bebé começa com cólicas. Muitas cólicas. E as mães, no desespero de controlarem o desconforto abdominal do seu bebé, começam a eliminar um por um os alimentos que, no folclore mais comum, se associam a desconforto abdominal do bebé.
Então, um por um, vão à vida lacticínios, ovos, frutos secos, peixe, glúten, cebola, abacaxi e chocolate. Percebem onde isto vai levar? De repente, a mãe que amamenta tem uma dieta restrita que contribui ainda mais para a carência de calorias e nutrientes no leite.
Mesmo que jurem a pés juntos que os brócolos ou as castanhas que comeram na véspera deram cabo da barriguinha do bebé, esqueçam!
E de onde vem este folclore?
A verdade é que, quando toca a alimentos específicos a eliminar da dieta, as mães têm muito em conta a opinião de familiares e amigas, mais até do que dos profissionais de saúde. Os estudos sobre este fenómeno espelham um problema muito específico: são mães que procuram aprovação de terceiros e que não conseguem sequer conceber a hipótese de poderem ser, nem que remotamente, responsáveis pelas cólicas dos filhos.
E o que nos diz a ciência sobre a restrição de alimentos na dieta materna e o respectivo impacto no bem-estar abdominal dos seus bebés?
Em 2016 foi publicada uma enorme análise comparativa de vários estudos que pretendiam perceber exatamente o impacto da dieta das mães no padrão de desconforto abdominal dos filhos. O que a revisão de 15 estudos e 1.121 bebés conseguiu compreender é que a esmagadora maioria da informação é de má qualidade e os achados encontrados são frequentemente inexplicáveis e contraditórios, com um estudo a dizer que mães que comiam cebola tinham bebés com mais cólicas e mães que consumiam limão e uvas tinham bebés protegidos e menos chorões.
Por isso, o que a ciência nos diz é relativamente simples! Não existe evidência sobre um alimento ou um grupo alimentar que seja causador de desconforto abdominal do bebé, excluindo o leite de vaca para os bebés com intolerância às proteínas do leite de vaca (todo um outro assunto).
Dietas restritivas, de que jeito ou forma que sejam, não estão indicadas para o controlo de cólica infantil. Não, mesmo que jurem a pés juntos que os brócolos ou as castanhas que comeram na véspera deram cabo da barriguinha do bebé, esqueçam! Não está minimamente comprovado.
Um artigo da médica pediatra Joana Martins.
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