"Identificar jovens talentos e acompanhá-los ao longo do seu desenvolvimento é um assunto aparentemente inesgotável e de debate em todo o mundo", disse à Lusa o investigador da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) José António Maia, um dos responsáveis pelo projeto "Em busca da excelência no desporto. Um estudo longitudinal-misto em jovens atletas".
No entanto, segundo indica o docente, especialista em Desenvolvimento Motor, não parece haver uma política concertada sobre esta matéria, uma vez que não estão disponíveis para consulta documentos baseados na evidência dos trajetos dos jovens atletas que chegaram ao topo da excelência, sobretudo quando se trata de jogos desportivos coletivos.
De acordo com o investigador, esta é a primeira vez que se realiza um estudo como tão "abrangente, multifacetado e integrador" na área das ciências do Desporto, envolvendo os atletas, as famílias, os treinadores e os clubes.
Com este estudo - englobando praticantes de futebol, andebol, basquetebol, voleibol e polo aquático, com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos, que serão seguidos durante três a quatro anos - pretende-se também averiguar a excelência desses atletas em competição.
Para José Maia e a equipa envolvida no projeto, a essência do desporto é a competição e a ideia de excelência deve ser considerada a partir dessa condição, "competindo-se para ganhar", embora existam outras dimensões merecedoras "da maior consideração" e "repletas de grande significado e valor psicológico e social".
Outra das motivações deste projeto é modelar o desenvolvimento das trajetórias individuais dos jovens jogadores, com o propósito de identificar o melhor conjunto de condições que afetem o seu sucesso.
Durante a investigação serão avaliados aspetos biológicos dos atletas, como o crescimento físico, a composição corporal, a maturação biológica e a 'performance' motora, bem como psicológicos, onde se destacam o clima motivacional, o stresse e as emoções, a regulação emocional e a perseverança.
Para além disso, serão analisadas a habilidade desportiva e percetivo-cognitivas e o conhecimento tático e processual, a par de aspetos contextuais, como o suporte parental, a estrutura familiar, as competências do treinador e as infraestruturas dos clubes.
A longo prazo, o intuito é desenvolver novas abordagens para identificar "jovens talentos" e mapear as características de desenvolvimento individual ajustadas ao perfil dos jovens com maior sucesso desportivo, ligando capacidades e habilidades individuais com as exigências do treino e da competição em cada uma das modalidades.
Até ao momento já foram realizados estudos piloto no basquetebol, no futebol e no polo aquático, para verificar a possibilidade de o projeto ser executado.
Nesse sentido, a equipa envolvida neste trabalho estabeleceu um conjunto variado de estratégias para a recolha da informação, utilização de equipamentos e materiais, armazenamento de dados e planos de divulgação dos dados mais importantes a todos os participantes.
Os investigadores acreditam que, com base na informação recolhida durante o projeto, estarão numa posição de aconselhamento para que sejam cometidos menos erros nas tomadas de decisão no processo de treino ou na seleção e no recrutamento dos atletas.
Neste projeto, que teve início há cerca de um ano, participam oito membros da FADEUP e os investigadores Adam Baxter-Jones, do Canadá, e Mark Williams, dos Estados Unidos.
A apresentação oficial do projeto bem como a assinatura dos protocolos de cooperação com as cinco associações envolvidas realiza-se ainda hoje, durante o último dia do 6.º Congresso Internacional de Jogos Desportivos, evento organizado pela FADEUP.
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