O desporto é frequentemente celebrado como um espaço de superação e crescimento, onde os jovens aprendem valores como o trabalho em equipa, a disciplina e a resiliência. Um excelente exemplo disso é a seleção nacional de andebol, que, no Mundial da modalidade, continua invicta e tem demonstrado um nível superior, sendo considerada um dos grandes destaques da competição. O trabalho em equipa e a ajuda mútua entre os atletas, muitos dos quais se conhecem desde os escalões de formação, são visíveis e fundamentais para o sucesso alcançado.
No entanto, o desporto não é apenas sobre vitórias. A pressão para obter bons resultados pode transformar-se em um problema, especialmente quando se cruza com comportamentos negativos, como o bullying. No bullying, não há vitórias morais. O bullying no desporto é um fenómeno insidioso que pode afetar gravemente a saúde física e mental dos jovens atletas. Resultados de investigação realizados em Portugal sugerem que 1 em cada 10 jovens já foi vítima de bullying no desporto! Valores que podem ainda estar camuflados pela mentalidade de dureza presente na prática desportiva, que associa a imagem do atleta ao estereótipo masculino e ao corpo ideal de forma exacerbada.
A cultura de treino extremamente rígida e severa em algumas modalidades faz com que comportamentos de bullying – inclusive vindos dos próprios treinadores – sejam vistos como parte integrante do desporto, uma prova que o atleta tem de aguentar para se tornar mais resiliente e alcançar o sucesso. No entanto, métodos como castigos físicos, insultos ou provocações não são apenas ineficazes, como demonstram inúmeros estudos, mas também prejudiciais ao desenvolvimento emocional dos atletas. Estas práticas podem aumentar os níveis de stress, ansiedade na formação de atletas e até resultar no abandono precoce da prática desportiva.
Os episódios de bullying no desporto, maioritariamente verbais, incluem comentários depreciativos sobre o desempenho, críticas desmotivadoras ou até insinuações que afetam a autoestima e o bem-estar dos atletas. Estes episódios acontecem frequentemente no balneário ou em locais de treino, áreas onde a vigilância é muitas vezes mais limitada e onde se escondem estes comportamentos.
Os clubes desportivos devem estar atentos a sinais de alerta, como a saída de atletas, especialmente aqueles que mostram bom desempenho. A saída repentina de atleta(s) pode ser um sinal de que algo não está a ser bem feito no ambiente do clube, e isso deve ser questionado. Além disso, a diminuição do número de atletas nas equipas, a resistência em comparecer aos treinos ou uma queda no rendimento também podem indicar desconforto emocional ou psicológico. É crucial que os jogadores se sintam à vontade para comunicar com os treinadores quando algo não está bem, e que os pais possam falar com os dirigentes sobre quaisquer preocupações.
Neste contexto, as federações desportivas têm um papel importante na monitorização das práticas nos clubes, criando políticas de prevenção do bullying e estratégias para acompanhar os atletas de forma eficaz. A implementação de canais de feedback anónimos pode ser uma ferramenta útil para que os atletas compartilhem as suas experiências, ajudando a identificar possíveis problemas e dando voz a quem está dentro do sistema.
Por fim, é fundamental que todos os envolvidos no desporto, desde os treinadores até os responsáveis pelos clubes, reconheçam que o bullying não tem lugar no desporto e que cada atleta deve ser tratado com respeito e dignidade. O desporto deve ser um espaço de desenvolvimento pessoal e coletivo, onde os jovens possam crescer de forma saudável. Estudos mostram que apenas uma pequena percentagem de atletas jovens chega à categoria sénior, destacando a importância de focar no desenvolvimento integral dos jovens, como futuros adultos [ler estudo aqui].
O apoio adequado e uma prática desportiva inclusiva são fundamentais para que todos os atletas, independentemente da sua performance, se sintam motivados a continuar e a alcançar o seu verdadeiro potencial, tanto como desportistas quanto como futuros adultos. É igualmente importante que os atletas e os seus pais se sintam ouvidos e que as suas preocupações sejam levadas a sério pelos treinadores e dirigentes. Ignorar esses feedbacks e não tomar medidas é errado e pode comprometer o desenvolvimento integral dos jovens.
Para mais informações sobre como combater o bullying no desporto, consultem o site Desporto Sem Bullying.
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