Provavelmente deve estar muito ocupado nesta altura do ano, com milhares de meninos e meninas a escreverem-lhe cartas, a organizar os presentes de maneira a que não haja enganos e a ver quem se porta mal.

Deve também estar surpreendido por esta carta, pois durante muito tempo não teve notícias minhas. Mas, na verdade, sabe, estou muito aborrecida com o que que se tem vindo a passar.

Descanse, não vou mencionar a falta de comida no mundo, o surto de Ébola ou de Legionella, o conflito na Síria, nem mesmo o escândalo do BES, mas sim outro tema que me anda a incomodar bastante e sobre o qual acho que é altura de realmente pormos tudo em pratos limpos.

O que se passa é que o Sr Pai Natal não tem cumprido o nosso acordo, formulado e adjudicado  no ano em que o meu filho mais velho começou a ter consciência do que era o Natal, acordo esse que contemplava duas partes:

A mim cabia o dever de criar e educar duas crianças de forma responsável e saudável, nutrir-lhes o gosto pelo Natal, cultivar o espírito natalício, bem como fomentar só sentimentos de partilha, amor, solidariedade, amizade, honestidade, bondade, enfim, esses todos representativos desta época.

Sinceramente, acho que cumpri com todos os meus requisitos.

A si, bem mais fácil, diga-se de passagem, pois implica apenas um momento de presença (ou de semi-presença), cabia-lhe a tarefa de fomentar a noção de que os meninos têm que se portar bem senão o Pai Natal não trará os presentes.

E é precisamente aqui que começa o problema!

Ora, a mim, parece-me uma tarefa bem fácil e simples. Mas na verdade não foi cumprida, nem sequer foi feito um esforço considerável para ser cumprida.

Sabe quantas vezes eu proclamei alto e bom som que se o mais novo não se portasse em condições adequadas não teria o dito presente? Muitas!!!

E tive algum resultado?? Nãoooooooo!!!!!!

Nada! Nadinha! Niente!!!! Nicles!!!!!

Fechou a boca e recusou-se a comer o arroz.

Ora isto assim é inadmissível!

E ainda na semana passada, quando, depois de muitas tentativas sem sucesso, recorri ao uso da arma "Pai Natal", que, se bem me recordo era muito poderosa na minha infância, não surtiu qualquer efeito, não teve qualquer reação. Bem sei que os tempos são outros,e que os anos passam para todos, mas se continuar a querer usar a chancela de PAI NATAL não pode ir-se abaixo com a idade nem com o desgaste.

Isto assim não pode continuar, pois eu tenho-me esforçado para cumprir com tudo, até cartas escrevemos, e temos bastantes imagens do Pai Natal para se recordarem. Eles estão grandes, saudáveis, bem alimentados, nutridos, e de alguma forma educadinhos (ainda que apenas mais aparente com terceiros), e sinto que fiz isto tudo sozinha. Não houve nenhuma ajuda nem tentativa de ajuda da sua parte. Não sinto que tenha havido um esforço daí do Polo Norte para fazer sentir que o Pai Natal era uma espécie de todo-poderoso e que tinha os poderes de tirar os brinquedos caso o miúdo não se portasse em condições.

Não sinto que nenhum elemento da sua equipa tenha feito as tais visitas periódicas referidas no nosso acordo, e logicamente, não houve nenhum relatório elaborado dos meninos que se portaram  mal.  E aquela lenga-lenga de que o Pai Natal sabe tudo o que se passa, entra no descrédito, quando afinal o Pai Natal nada faz.

Há uma regra muito simples que aprendi com os miúdos: não podemos ameaçar se não vamos cumprir. E aqui reside o cerne da questão. Pois quando dizemos "come o esparregado, senão o Pai Natal vai saber e põe o teu nome da lista má" , algo tem mesmo que acontecer, caso contrário  caímos no descrédito. E já é tão complicado fazer tudo sozinha, ao menos podia dar aqui uma mãozinha e tentar facilitar minimamente a minha vida. Não é que me queixe muito, nem pretendo que venha aqui dar uma de mauzão e assustar os miúdos, mas incutir um respeitinho nunca fez mal a ninguém, e ajudaria aqui bastante esta mãe que por vezes tem que fazer de mãe e pai ao mesmo tempo. 

Como havemos nós, mães, apenas seres humanos, de continuar sem o apoio do senhor barbudo e simpático que faz magia e maravilha todos os miúdos? Somos só mães, em carne e osso, não temos super poderes, não viajamos pelo mundo fora numa só noite, nem sabemos de tudo o que se passa em cada lar. Precisamos da sua ajuda e apoio. E sinceramente, tem que se esforçar mais do que isto, pois se continuar assim, serei obrigada a rescindir contrato e procurar outra tradição que ofereça mais regalias e acompanhamento às mães .

Marta Andrade Maia

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