Viver a dois nem sempre é fácil. A forma como devemos gerir a paixão inicial e depois o amor depende, antes de mais, dos nossos objetivos. Naturalmente, sendo uma emoção agradável, queremos prolongá-la o máximo de tempo possível, à semelhança do que acontece nos romances, mas é certo, sabido e provado pela ciência que a paixão tem uma duração limitada, acabando por se transformar, com o tempo, noutro sentimento ou, simplesmente, por definhar.
Comece por pensar no que quer. A sua relação atual pode ajudá-lo a chegar onde deseja a médio ou a longo prazo? Também pode optar por simplesmente aproveitar viver a paixão um dia de cada vez. Se essa escolha for consciente, já estará a gerir esse estado emocional. As estratégias que tornam os relacionamentos amorosos mais saudáveis e felizes apontadas por Vítor Rodrigues, conceituado psicólogo clínico português, autor do livro "Constrói a tua felicidade".
O exercício que obriga a pensar
Conheça-se a si mesmo. Seja o mais honesto possível. Pegue num lápis e numa folha de papel ou no telemóvel, no computador ou no tablet e escreva as respostas que encontrar para as questões que aqui apontamos, com a colaboração do psicólogo clínico Vítor Rodrigues:
- O que pretendo desta paixão/relação?
- Aceito os defeitos da pessoa com quem estou, recuso-me a reconhecer que existem ou isso é-me indiferente?
- Projeto nesta relação e/ou no outro os meus desejos, frustrações, medos ou expetativas?
- Sinto-me à vontade para ser como sou ou mostro apenas uma parte de mim? Creio que se o outro souber realmente como sou deixará de estar comigo?
- Esta pessoa é estranhamente parecida com a minha mãe ou com o meu pai?
- O que sinto por essa pessoa é-me retribuído por ela?
- Estou constantemente à procura de uma paixão e nunca fico satisfeito?
A reflexão que tem (mesmo) de fazer
Não se fique pela teoria. Depois de refletir, é tempo de passar à prática. Leia as suas respostas às perguntas anteriores. Se percebeu que não é correspondido, que está a desenvolver um sentimento de posse, que está a projetar no outro uma imagem fixa de si próprio, que pode estar a procurar nessa pessoa compensações para situações mal resolvidas com os seus pais, ou se tem saltado de paixão em paixão sem que isso o faça feliz, algo de errado se pode estar a passar.
Se sentir que não está a conseguir lidar sozinho com a situação, procure ajuda especializada. Se, muito pelo contrário, percebeu que a sua relação é saudável e quer investir emocionalmente nela (e/ou que o outro também está em sintonia consigo), há várias estratégias que deve por em prática para ter sucesso porque, ainda assim, nem tudo sempre é um mar de rosas, como também alerta o autor de outros livros, como "Terras de mentes" ou ainda "Portas e caminhos".
12 passos para construir uma relação de sucesso
Eis as ideias-chave dos psicólogos Janet Reibstein, John Gottman, John Gray, David Níven e María Jesús Álava Reyes, do conselheiro matrimonial Ian Kerner e ainda do psiquiatra Scott Haltzman, que Vítor Rodrigues também subscreve:
1. Encare a relação como um emprego a tempo inteiro. Questione-se diariamente sobre o que fez e pode fazer para cuidar dela
2. Assumam o compromisso de viver novas experiências enquanto casal. Desenvolvam atividades em conjunto
3. Não abdiquem de momentos a sós
4. Compartilhem prazeres, mesmo quando são atividades em que um de vocês não está presente
5. Estimulem a química sexual, introduzindo novidades e partilhando fantasias com o parceiro. É essencial encontrar um equilíbrio entre a vontade de um e os desejos do outro.
6. Aceitem que o conflito faz parte das relações
7. Exprimam frequentemente gratidão pelo que o outro faz
8. Iniciem as discussões com expressões de afeto
9. Respirem fundo, tentem ouvir-se e usem expressões como "Compreendo o teu ponto de vista"
10. Façam um intervalo quando se exaltarem demasiado. Afastem-se durante 20 minutos se excederem as 100 pulsações por minuto
11. Encerrem as discussões de forma positiva, lembrando-se do que foi possível esclarecer com o outro
12. Mantenham sempre a educação e a delicadeza
5 erros a evitar na vida de casal
Os alertas dos psicólogos Janet Reibstein, John Gottman, John Gray, David Níven e María Jesús Álava Reyes, do conselheiro matrimonial Ian Kerner e ainda do psiquiatra Scott Haltzman, que Vítor Rodrigues também subscreve:
1. Esperar que o seu parceiro o faça feliz, em vez de se preocupar em torná-lo feliz
2. Tentar mudar a essência do seu parceiro, em vez de se recordar que foi essa a pessoa por quem se apaixonou
3. Perder a própria identidade, autonomia ou independência. Lembre-se que foi por si que o seu parceiro se apaixonou e não por uma cópia dele mesmo
4. Pensar que a relação está a definhar porque a paixão diminuiu
5. Não respeitar a igualdade de ambos na tomada de decisões, os sacrifícios feitos em benefício da relação e a realização de tarefas domésticas
Para o sucesso da relação é ainda essencial que esteja consciente das diferenças entre os sexos e que tente sempre decifrar a linguagem do outro. Se a mulher tende a ver o diálogo como uma forma de procurar proximidade, o homem vê-o como forma de estabelecer uma hierarquia de poder e vice-versa. Assim, ele avança com soluções para mostrar que é capaz de a defender do que a preocupa, atitude que ela interpreta como forma de controlo. O contrário também sucede.
Texto: Rita Miguel com Vítor Rodrigues (psicólogo clínico e ex-presidente da Eurotas - Associação Transpessoal Europeia)
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