Há uns anos, pressupôs uma revolução estética que tornou possível minimizar as rugas de expressão ou exibir lábios carnudos com umas pequenas picadas e sem necessidade de recorrer ao bisturi. Nos dias que correm, as injeções de colagénio transformaram-se quase num tratamento convencional que, apesar do boom do botox e de outras técnicas vanguardistas que têm vindo a ganhar adeptos, continua a ter um público (muito) fiel que recorre a elas sempre que sente a necessidade de se ver com melhor imagem.

A sua inocuidade, a temporalidade e facilidade de aplicação fizeram com que muitas pessoas o considerassem uma opção mais próxima da maquilhagem do que das intervenções de estética. "O colagénio é uma proteína existente em todos os seres multicelulares, sobretudo animais, embora apresente diferenças estruturais entre espécies. Está distribuído em determinados tecidos como a pele, os tendões, o cabelo e os pelos, a cartilagem e até as unhas", explica Francisco Carvalho Domingues.

Bioestimulação. Uso de células plasmáticas devolve firmeza e luminosidade à pele
Bioestimulação. Uso de células plasmáticas devolve firmeza e luminosidade à pele
Ver artigo

"Em função da sua localização, apresenta algumas variações moleculares, sendo conhecidos cerca de 16 tipos de colagénio no organismo humano", esclarece ainda o especialista, mestre em medicina estética. No processo natural de envelhecimento cutâneo, a quantidade de colagénio diminui gradualmente, dando lugar às rugas e às linhas de expressão. "A sua produção vai tornando-se mais lenta ao longo da vida, após os 20 anos, pois é a partir desta idade que se atinge o pico máximo do anabolismo [crescimento] a nível biológico e bioquímico na maior parte das nossas células", refere ainda Francisco Carvalho Domingues.

Este especialista aponta ainda alguns fatores exógenos que contribuem para a diminuição de colagénio nesses tecidos, nomeadamente a existência de hábitos tabágicos ou a convivência regular com fumadores, uma alimentação deficiente e desequilibrada em proteínas essenciais, a radiação UV do sol e dos solários e/ou ainda a exposição a climas mais ventosos e/ou agrestes. As injeções desta substância são um tratamento eficaz para repor o colagénio orgânico perdido e para dar firmeza à epiderme.

A origem do colagénio

Até há relativamente pouco tempo, os implantes de colagénio mais utilizados eram os de origem animal, sobretudo de origem bovina. "Há alguns anos, o aparecimento da BSE [sigla anglo-saxónica da doença encefalopatia espongiforme transmissível, uma doença do gado bovino] e o concomitante risco de transmissão ao homem, aumentou a pressão sobre a produção de colagénio de origem bovina, que viu o seu uso reduzir-se por todo o mundo. Surgiu, então, a produção de colagénio de origem suína", esclarece.

"Só depois e, mais recentemente, é que surgiu o colagénio de origem humana, que tem permitido reduzir os receios inicialmente desencadeados pelo colagénio bovino", referiu Francisco Carvalho Domingues em declarações à edição impressa da revista Ultimate Beauty, no final da década de 2000. As primeiras aplicações de colagénio requeriam a realização prévia de um teste de sensibilidade para evitar possíveis reações alérgicas. Nos dias que correm, essa exigência deixou de ser uma imposição.

Atualmente, este teste já não é necessário porque o colagénio utilizado nestes procedimentos deriva do tecido suíno, que é semelhante e compatível com o tecido humano, como confirmaram os cientistas ao longo das últimas décadas. No entanto, o médico deve, ainda assim, fazer um questionário completo ao paciente para descartar alguma doença relacionada com colagénio e/ou para verificar se já teve alguma intolerância a esta substância no passado, como por vezes se vem a descobrir.

O eterno receio da dor

Dói ou não? Depende! É normal sentir-se um ligeiro incómodo durante a injeção, dependendo do limite de dor de cada um. Algumas pessoas precisam de recorrer a um anestésico local mas também há quem o dispense. "O implante na região peri-bucal, para aumento do volume dos lábios, por exemplo, poderá justificar um anestesia de bloqueio nervoso, tal como a anestesia dentária", acrescenta Francisco Carvalho Domingues. Em qualquer dos casos, depois da sua aplicação, pode fazer-se uma vida normal.

Ao longo dos últimos anos, o colagénio tem apresentado bons resultados na correção de pequenas rugas e rídulas e nas cicatrizes produzidas pela acne, quando são muito profundas. Também tem sido muito usado para dar espessura aos lábios muito finos, já que permite aumentar o volume de forma controlada. Apesar do colagénio ser um produto de preenchimento utilizado para as rugas, também existem, no mercado, cosméticos à base de colagénio que servem para hidratar e nutrir a epiderme.

As pessoas que não o devem aplicar

A aplicação médico-estética de colagénio está indicada para o preenchimento de pequenas rugas e rídulas, para manifestações iniciais ou moderadas de flacidez facial, para a correção de algumas cicatrizes, para o aumento do volume dos lábios ou, ainda, integrada na correção de uma pele desidratada, já que o colagénio, sendo uma proteína fibrosa, tem a capacidade de aumentar a concentração de água na pele. Este prótido complexo não se aplica em grávidas nem em pessoas alérgicas a esta substância.

Aplicação tópica de ozono. Saiba para que serve
Aplicação tópica de ozono. Saiba para que serve
Ver artigo

Os pacientes com doenças autoimunes também se excluem desta lista, assim como os portadores de doenças do colagénio como a artrite reumatóide, a artrite reumatóide juvenil, a esclerodermia, a dermatomiosite, o lúpus eritematoso e os portadores de asma e/ou de outras doenças alérgicas importantes, que também não devem receber colagénio. Um dos prós é que permite ir medindo o muito (ou o pouco) que se requer em cada sessão, uma qualidade especialmente favorável em zonas como os lábios, nas quais um excesso de volume pode não ir ao encontro do resultado desejado.

O principal contra do colagénio é que, ao fim de três a seis meses, é reabsorvido pelo organismo, pelo que os seus efeitos desaparecem. E está apenas reservado ao rosto. Aplica-se, por norma, apenas na cara, no pescoço e no decote. Para conseguir resultados visíveis no resto do corpo, seriam precisas quantidades tão grandes que o tratamento ficaria demasiado dispendioso. A sua duração limitada também condiciona a sua utilização. A sua aplicação demora apenas entre 10 a 30 minutos, uma vantagem.

Os resultados são imediatos e os seus efeitos mantêm-se, em média, cerca de seis meses, dependendo, entre outros fatores, da concentração de colagénio que o produto tem, uma vez que nem todos os especialistas utilizam o mesmo tipo de colagénio. A idade, a qualidade da pele e o estilo de vida também podem influenciar a duração do tratamento. Para estimular a produção natural desta substância, deve ingerir fontes de proteína de origem animal. A carne, o peixe e a gelatina são as melhores opções a considerar.