Anna enfrentou desafios como a pandemia de Covid-19, que a obrigou reinventar o seu serviço com um modelo de atendimento ao domicílio em Maputo, Moçambique, e, mais tarde, a expansão da sua marca para Portugal, trazendo para Lisboa a essência do seu salão de luxo, com toques inovadores como o sushi e champanhe para os clientes. A sua visão e capacidade de adaptação mostram que o empreendedorismo é muito mais do que apenas criar um negócio, é saber inovar e crescer perante adversidades.
Deixa uma mensagem clara para outras mulheres que querem criar o seu próprio negócio: persistência, foco e respeito pelo ritmo de cada uma são essenciais para alcançar o sucesso.
Como surgiu o cuidado das unhas como uma paixão e como oportunidade para empreender?
Desde a adolescência que sempre tive uma paixão por unhas, porque roía as unhas e admirava mãos bem cuidadas. Sempre disse que um dia, quando estivesse reformada, iria abrir um salão de unhas e em 2019 decidi começar a preparar-me para concretizar esse sonho. Fiz um estudo de mercado, pesquisei sobre o mundo das unhas, que é vasto, e comecei a planear.
A minha formação é em Linguística e Literatura e tenho uma pós-graduação em Comunicação e Design, áreas onde trabalhei durante muitos anos. Estive oito anos numa mineradora, em Moçambique, como diretora de comunicação sénior e conselheira do CEO.
Ao longo dos anos, frequentei vários salões e via o que poderia ser melhorado. Fui anotando ideias até que um dia, durante as minhas pesquisas, encontrei o espaço ideal, com vista para o mar, e percebi que seria o momento de avançar. Com o apoio da minha família, decidi lançar-me à concretização do projeto e, para isso, fiz várias formações em Portugal. Aprendi muito sobre verniz e unhas com formadoras incríveis. Trouxe especialistas internacionais para Moçambique e comecei a montar a minha equipa. Aos poucos, o projeto foi ganhando forma.
O público-alvo é de classe média-alta, atraído pela experiência oferecida.
Em que momento do processo surgiu o nome e o conceito ‘Executive Nails by Anna Sousa’?
Inicialmente, o plano era fazer uma parceria em que eu ficaria apenas como investidora e o projeto seria gerido por outra pessoa, mas ela acabou por desistir. Foi então que decidi avançar sozinha e disse: "Vou fazer isto acontecer por mim. Será a minha marca e terá a minha essência." No fundo, foi nesse momento que nasceu a ‘Executive Nails by Anna Sousa’.
O material já estava em Moçambique, e enquanto formávamos a equipa, eu idealizava o espaço. Queria que a Executive fosse diferente, já que se tratava de um negócio que existe em todas as esquinas. Então, criei um espaço com requinte, algum luxo, vista para o mar e um conceito inovador, incluindo sushi e champanhe para as clientes, oferecendo bebidas alcoólicas e não alcoólicas como cortesia. Além disso, a equipa foi formada com certificação internacional, o que, juntamente com a localização, estacionamento, casa de banho privativa e gerador, preenchia as lacunas que eu identificava noutros espaços em Maputo.
O público-alvo é de classe média-alta, atraído pela experiência oferecida, o que se reflete no preço, que é médio. Depois de abrir, percebi que precisava estar presente para garantir que a equipa compreendia exatamente o que eu queria para a marca. Assim, tornei-me consultora externa na empresa onde trabalhava, para poder dedicar-me mais ao meu negócio. Abrimos em agosto e, seis meses depois, surgiu a pandemia de Covid-19, o que trouxe novos desafios, mas também me diferenciou ainda mais no mercado.
Como foi este primeiro teste real ao espírito empreendedor?
Foi um grande desafio. Em Maputo, as novidades têm sempre muita procura no início, mas é preciso ser resiliente e inovadora para manter os clientes. Estávamos no auge, com a casa cheia, quando surgiu a Covid-19. O pânico era global, e sabíamos que era algo sério. Tivemos de nos reinventar. Durante os três anos de pandemia, nunca fechámos as portas, o que é motivo de orgulho, mas precisei criar novos serviços, como o ‘Executive Nails Delivery’.
Esse serviço consistia em atender grupos de pelo menos quatro pessoas nas suas casas, o que compensava para nós e para as famílias. Fiz uma parceria com uma empresa de segurança e saúde para equipar as minhas trabalhadoras, pareciam "as meninas da NASA", com capacetes e todo o material de proteção, o que dava tranquilidade às clientes. Além disso, vacinei toda a equipa assim que as vacinas ficaram disponíveis.
Sabia que, mesmo que a Covid acabasse, as pessoas iriam ter receio de se aproximar como antes. Por isso, expandi o salão com cabines privadas para uma ou duas pessoas, com vista para o mar e outros diferenciais. Quando retomámos alguma normalidade, as pessoas aderiram bastante a essa novidade. Continuo a estudar formas de agregar valor e acredito que, como empreendedora, é fundamental ter várias ferramentas e investir em formação contínua.
Empreender é um processo que precisa de respeito. Não adianta correr ou comparar com outros, porque cada história é diferente.
Essa veia empreendedora que se revelou foi uma surpresa?
No início, eu nem sabia o que era empreendedorismo. Para mim, tratava-se de um sonho, de uma paixão que eu queria realizar. Só depois percebi que isso se chama empreendedorismo. Eu via o meu negócio como algo que ia fazer com coração e paixão, e se desse rentabilidade, ótimo. Não pensei muito a longo prazo, fui fazendo e, de repente, tinha a casa cheia. As pessoas começaram a perguntar de onde veio essa ideia de empreendedorismo, e, nessa altura, percebi que precisava estudar para entender o que era.
No começo, eu geria tudo: tinha oito trabalhadoras, pagava salários, fazia o mapa de férias. Era possível porque eu tinha algum background de gestão. Mas quando a equipa cresceu para 20 pessoas, comecei a sentir-me sufocada, porque queria pensar em projetos, mas também tinha que gerir tudo. Então, percebi que precisava estruturar a empresa e delegar tarefas.
Empreender é um processo que precisa de respeito. Não adianta correr ou comparar com outros, porque cada história é diferente.
Terá o empreendedorismo feminino um cariz diferenciado? Será que estes negócios, com a força das mulheres, conseguem atingir o mercado de uma forma diferente?
Sim, acredito que o empreendedorismo feminino tem uma abordagem diferenciada, porque a mulher é uma gestora nata. Nós já gerimos famílias, e quando uma mulher se torna empreendedora, apenas aplica aquilo que já faz no dia a dia. Depois de gerir marido, filhos, casa e família, quando chega a um negócio ou empresa, traz essa experiência e trata todos os aspetos com naturalidade. Essa é, na minha opinião, a grande mais-valia do género feminino.
Crescemos a ver as nossas mães e avós como empreendedoras. Faziam bolos, cortavam e vendiam à porta de casa, e isso já era empreendedorismo. Em Moçambique, a maior parte da economia vem do negócio informal, não das grandes empresas. A senhora dos bolos, que me lembro do tempo da minha avó, continua a vender, só que nunca transformou isso numa empresa com nome.
Como se deu este salto para a Europa e a internacionalização da marca?
(Risos) Foi um atrevimento, mas estava nos meus planos a médio-longo prazo, também a nível pessoal. Muitas marcas europeias e americanas expandem para África, mas o contrário quase não acontece. Há marcas moçambicanas com ótimos produtos que não têm essa oportunidade de sair e representar-se lá fora. Sempre tive o plano pessoal de, quando os meus filhos chegassem à idade universitária, e se Moçambique não tivesse as opções adequadas, juntar a vida pessoal com a profissional. Este ano, com o meu filho a vir para a universidade em Lisboa, aproveitei para dar este passo e internacionalizar a ‘Executive Nails’.
Tenho dupla nacionalidade, sou portuguesa e moçambicana, e sempre que vinha a Portugal de férias via que havia espaço para a marca. Fiz um estudo de mercado e percebi que o conceito que temos, de um espaço requintado, acolhedor, com sushi, champanhe e mimos para o cliente, tinha potencial. Em Lisboa, além do conceito original, acrescentámos serviços extra, como motorista privado para as clientes, pestanas e micropigmentação, que ainda não temos em Moçambique. A resposta tem sido muito positiva, e as pessoas têm acolhido bem a nossa abordagem.
A chave é não perder o foco, manter a disciplina e a resiliência, porque com dedicação e empenho, todas temos o potencial para brilhar.
Enquanto empreendedora, que competências foram necessárias aperfeiçoar para persistir e percorrer este caminho fora da chamada zona de conforto?
Eu já tinha experiência como gestora, mas gerir um negócio à distância, em Moçambique, com mais de 20 trabalhadoras, foi um desafio diferente. Tive de aprender a comunicar bem a essência da minha marca a uma nova equipa, transmitir o meu plano e a minha visão, tudo isto enquanto persistia num ambiente novo, fora da minha zona de conforto. A marca é nova em Portugal, e tive de desenvolver muita paciência e serenidade para respeitar o processo e não me apressar. Apesar dos desafios, tem sido uma experiência gratificante e uma nova forma de estar no empreendedorismo.
Que mensagem poderia deixar a outras mulheres que procuram criar o seu próprio negócio?
Não desistam dos vossos sonhos. Cada uma tem o seu ritmo, e é importante respeitar esse processo. Às vezes, podemos sentir que outras pessoas estão mais avançadas, mas cada uma tem o seu caminho. A chave é não perder o foco, manter a disciplina e a resiliência, porque com dedicação e empenho, todas temos o potencial para brilhar.
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