Para quem gosta de comer, de experimentar outros sabores e de viajar, este pode muito bem ser o brunch ideal para si. E tudo começa como se de uma verdadeira viagem se tratasse.

Para embarcar a bordo desta mesa há que reservar um dos 20 lugares que são disponibilizados semanalmente. As datas são anunciadas nas redes sociais do Brunch do Mundo, sim, porque não estamos a falar de um "simples" brunch, disponível num qualquer estabelecimento a qualquer dia ou qualquer hora. Arriscamo-nos a dizer que este é um dos brunchs mais exclusivos da cidade de Lisboa. E por isso pode não ser assim tão fácil reservar lugar. Mas comecemos pelo início.

Preparação do passaporte e check-in

Há algum tempo que tinha curiosidade de experimentar este brunch, exatamente pelo seu conceito. O Brunch do Mundo funciona em formato de temporada, de modo rotativo, ou seja, o menu disponível está sempre relacionado com um continente ou uma parte do mundo e convida a uma viagem gastronómica por vários países. O menu está disponível por algumas semanas e depois muda para outra região do globo. O conceito que nos é apresentado é mesmo como se fossemos fazer uma viagem e acompanha-nos desde o momento da reserva até ao final da refeição. É isso mesmo: íamos embarcar numa viagem gastronómica.

Neste caso, consegui reservar lugar para o menu do Médio Oriente, uma das novidades de 2018, no dia 27 de janeiro. Se não conseguir à primeira, não desanime. Também aconteceu e perdi a oportunidade de experimentar o brunch Europa, que decorreu no mês de novembro de 2017.

Depois de enviar um mail a solicitar a reserva, recebi a resposta a garantir que a reserva estava feita e a perguntar por possíveis intolerâncias e restrições alimentares, além de fornecer informações adicionais como a hora de início do brunch, o preço e o local. Nos dias que correm, estes são pormenores que contam e começam a mexer com as nossas expectativas. Analisando o primeiro mail, o brunch prometia.

Hora do embarque. Prepare-se para comer... muito e bem!

Nesse sábado desloquei-me ao espaço Kitschen, no Lx Factory, e apareci à hora indicada: 11h45. O brunch tem a duração de mais ou menos três horas, entre as 12h e as 15h. Fomos recebidos pela simpática Rita Gil Pires, uma das anfitriãs de serviço, e por Ana Gil Pires. O nome partilhado não é coincidência. O Brunch do Mundo é da responsabilidade de duas irmãs que nos explicaram que são apaixonadas por viagens e por comida. E como não havia nada dentro do género, em Lisboa, decidiram pôr mãos à obra, e criar o conceito que achavam que faltava na cidade.

Viajar até ao Médio Oriente sem sair de Lisboa. Bem-vindos ao Brunch do Mundo
Viajar até ao Médio Oriente sem sair de Lisboa. Bem-vindos ao Brunch do Mundo As irmãs Ana e Rita Gil Pires nos últimos preparativos antes do início do brunch.

"Isto começou na piada de 'Vamos a um brunch?, Vamos! Mas vamos comer o quê? Outra vez croissants? Outra vez ovo benedict? Pois é, não há muita variedade. E se nós fizemos algo que tenha a ver com comidas do mundo?'. Isto porque já fazíamos em casa, com os nossos amigos, comidas temáticas", explica Ana.

Rita completa: "Eu adoro brunch e ia imenso e a minha irmã dizia-me 'Mas vais comer o quê, não te cansas de comer sempre o mesmo?'". E assim nasceu um conceito que, inicialmente estava disponível apenas a dez pessoas, num terraço secreto de Lisboa, e que graças ao bom feedback mudou de lugar e aumentou os lugares disponíveis.

A simpatia de ambas é contagiante e depressa me colocaram à vontade para escolher um lugar na longa mesa corrida. Aos poucos, os viajantes daquele dia foram chegando e pelas 12h10 estávamos prontos para começar a nossa refeição.

O espaço em si lembra-nos a cozinha da casa dos nossos pais ou avós, com detalhes da década de 1970 e 1980 a comporem o espaço. O Brunch do Mundo proporcionou-nos uma banda sonora à altura do tema, com músicas de inspiração do Médio Oriente a ecoar no espaço.

A mesa corrida convida ao convívio entre os intervenientes, que ao longo da refeição foram trocando impressões sobre a comida, apesar de, em alguns casos, nunca se terem cruzado na vida. O que senti naquele dia foi uma verdadeira troca de experiências. Conheci outras pessoas interessadas naquilo que estavam a comer e descobri participantes que estavam a voltar porque já tinham experimentado outros menus e tinham curiosidade em descobrir este menu do Médio Oriente.

A prova dos sete pratos mais uma bebida

Depois de feitas as apresentações e dos agradecimentos por parte das organizadoras, tinha chegado a hora de começar a viajar pelos vários países presentes na ementa.

A viagem começa pela Jordânia com uma bebida: a limonana. No entanto, não se deixe enganar pelos ingredientes e pensar que se trata de uma simples limonada. O sabor desta bebida não é tão ácido e a própria textura não é tão densa. Se não é fã de limonadas é capaz de gostar desta bebida porque é de facto mais leve que a limonada. E foi servida à descrição, ao longo da refeição.

A refeição propriamente dita começa com a sopa Dizi, com origem no Irão, à base de grão e borrego. A minha versão veio sem o borrego, uma vez no mês de janeiro impus-me o desafio de não comer carne. O modo de comer a sopa é diferente daquilo que estamos à espera. Tivemos de escorrer o caldo, desfazer a mistura de grão (e borrego, para quem comeu a versão original) até fazer uma papa. Um dos avisos que nos deixaram no início foi que este é um menu para comer com as mãos. Os talheres estavam lá, mas a ideia era comer as sugestões apresentadas da forma mais aproximada possível ao país de origem. Para acompanhar esta pasta tínhamos à disposição pão lavash.

As especiarias deram logo sinal às papilas gustativas, sobretudo açafrão e canela. O sabor é um pouco amargo mas não é desagradável. Ficou a curiosidade de experimentar uma versão completa, ou seja, com borrego, para perceber a diferença no sabor.

A experiência gastronómica continua pelo Iémen com Iémen shakshouka que é como quem diz, uns ovos mexidos picantes, que foram acompanhados com pão pita.

Notei que, independentemente das conversas que estivessem a acontecer no momento, sempre que Rita se preparava para apresentar um novo prato, na sala fazia-se silêncio, como se de repetente alguém baixasse o som. Antes de comermos qualquer um dos pratos, a anfitriã explicou sempre o que íamos comer, como o devíamos fazer e o que poderíamos esperar daquele prato.

O picante foi uma preocupação demonstrada por alguns elementos da mesa mas, neste caso, não houve razões para alarme: as malaguetas usadas na confeção não eram especialmente fortes. O que não quer dizer que seja sempre assim. Fica a nota.

Passando ao prato seguinte, e entrando no domínio de um prato mais doce, aterramos em pleno Líbano com duas sugestões: um ataif com flor de laranjeira e ricotta e outro de flor de laranjeira e nozes, ambos servidos com uma calda de limão. Pessoalmente gostei de comer os dois em conjunto, um equilibrando o outro. Pela mesa, as opiniões dividiram-se.

De seguida o menu leva-nos de passagem pela Síria e por um prato que a maioria já estará familiarizada. O baba ganoush, que foi servido com palitos de cenoura e rodelas de pepino, é um húmus mas, em vez do grão, a base é beringela. Confesso que nunca tinha provado e que a iguaria não ficou na lista dos pratos que gostaria de voltar a experimentar. O sabor da beringela é bastante forte e, apesar de ter comido a porção que me colocaram, não é um prato para todos os gostos e que seja fácil de gostar.

Israel é o país que se segue com uma granola especial feita pelas irmãs com pistácio, tâmaras e cardamomo, acompanhada de creme de coco. Esta é, aliás, outra ideia de negócio que nasceu deste conceito: as granolas do mundo. Cada menu tem a sua granola específica, que pode ser adquirida no próprio local do brunch, ou através de uma encomenda online. Cada frasco tem o preço de 3 euros mas se levar dois, o preço fica em 5 euros. A ideia já valeu duas granolas especiais: uma versão de Natal e, mais recentemente, de Carnaval.

O desfile de pratos termina no Egipto com um bolo basbousa acompanhado de um gelado preparado por Ana e Rita à base de um ingrediente um pouco diferente do habitual: açafrão. A experiência não foi de toda má, muito pelo contrário. Se à partida podemos achar que um gelado de açafrão pode ser um pouco estranho, a verdade é que foi uma surpresa quase no encerramento da refeição.

Para terminar tivemos direito a uma bebida quente. Rita Gil Pires fez questão de sugerir a todos que experimentassem o chá, trazido especialmente para o Brunch do Mundo por Ana, que teve uns tempos antes uma estadia de um mês no Irão. Mas como não queremos estragar surpresas, deixamos este chá no segredo daquela mesa. Prometemos que, se experimentar, vai ter uma experiência muito diferente de tudo o que possa imaginar.

Quando viajar é sinónimo de inspiração gastronómica

A viagem de Ana Gil Pires ao Irão foi o grande ponto de partida para este menu Médio Oriente, que se juntou aos restantes menus: Ásia, América, África e Europa.

Os menus têm por base muitas das viagens feitas, tanto por Ana como por Rita. No entanto, apesar de não terem estado presentes em todos os países representados nos diferentes menus, as irmãs arranjaram uma forma de ultrapassar a distância.

"Tudo isto é um trabalho de pesquisa e beta testing com amigos em casa, em que provamos as receitas todas antes de as trazer para a mesa. Mas uma coisa a sério, com um papelinho ao lado, onde damos notas de zero a cinco. E nesses beta testings tentamos ter pessoas que já tenham estado nesses países ou que já viveram lá para perceber se o que estamos a fazer está parecido ou não está parecido", explica Rita Gil Pires, acrescentando que "claro que às vezes há limitação de ingredientes. Por isso é que tentamos trazer coisas das nossas viagens".

Viajar até ao Médio Oriente sem sair de Lisboa. Bem-vindos ao Brunch do Mundo
Viajar até ao Médio Oriente sem sair de Lisboa. Bem-vindos ao Brunch do Mundo

Ana Gil Pires confessa que foi mesmo isso que aconteceu com este menu. Na sua passagem pelo Irão, além de ideias de pratos, Ana trouxe o maior número possível de ingredientes para servir neste brunch. E ficou com contactos para fazer encomendas quando for necessário.

Brunch do Mundo

Onde: Kitschen

Morada: Rua Rodrigues Faria, 103, LX Factory, 4º piso (junto à CoworkLisboa)

Horário: Sábados, entre as 12h e as 15h

Contactos:

www.facebook.com/brunchdomundo

Isso já tinha acontecido anteriormente com o menu América, em que o doce de leite servido foi trazido por Rita Gil Pires quando fez uma viagem pela Patagónia.

Se ficou curioso espere mais novidades em breve. "De temporada em temporada tentamos de alguma forma inovar. Para esta nós estamos a incluir novos continentes ou novas regiões que não tenham sido explorados na primeira. Na terceira temporada vamos procurar fazer o mesmo, eventualmente segmentar os continentes. Ou seja, em vez de ser uma América geral, ser uma América do Norte, uma América do Sul ou uma América Central".

No final fica uma recordação para as organizadoras, que todas as edições fazem questão de tirar uma fotografia com os participantes de cada refeição. Neste dia houve um pequeno contratempo com o sol, mas nada que ensombrasse o sentimento de uma boa refeição.

Se quiser entrar a bordo desta experiência fique atento às redes sociais do Brunch do Mundo para poder fazer uma reserva. Porque para viajar só é preciso um pouco de imaginação. Mesmo que seja no prato.