Estamos na rentrée vinícola. As vindimas e o lançamento de novos vinhos portugueses estão aí.
Mas enquanto não temos vinhos novos, vamos tentar organizar uma garrafeira em casa para este outono.
A garrafeira familiar é um desafio de grande interesse, quer pelo prazer que pode proporcionar a sua organização e manutenção, quer pela economia que pode representar a aquisição do vinho em boas condições.
A existência de uma garrafeira é também uma prova de requinte e de consideração pelos convidados, uma vez que permite aos donos da casa oferecer produtos criteriosamente escolhidos e, por vezes, conservados durante muito tempo.
-A localização
Os vinhos necessitam de estar em repouso, por isso deve-se optar por um local não sujeito a grandes vibrações e com reduzida iluminação. A humidade (na ordem dos 70%) e as temperaturas (entre 8 e 12°C) ao longo de todo o ano, são questões muito importantes. Também não deve guardar, juntamente com os vinhos, quaisquer tipos de produtos que lhes possam comunicar cheiros estranhos.
-O posicionamento das garrafas
Fator de extrema importância, pois dele depende a boa evolução e conservação dos vinhos, sobretudo se desejamos guardá-los durante bastante tempo. Nessas circunstâncias, a posição deitada é a única conveniente para os vinhos tintos, vinhos do porto de Estilo Ruby, Espumantes e Champanhes. Mantém-se assim a rolha sempre húmida, o que evita a sua contração e a consequente entrada de oxigénio na garrafa. A entrada de oxigénio pode arruinar o seu melhor vinho. Sabor e aroma alteram-se completamente e começa a transformar-se em vinagre. Excetuam-se as garrafas de Porto Tawny, vinho da Madeira e outras bebidas que já não evoluam dentro da garrafa, essas podem ser guardadas na vertical.
Uma garrafeira deve, naturalmente, apresentar uma certa variedade. Assim sendo, não fará sentido só ter um tipo de vinho, nem mesmo ter vinhos de uma só região vinícola. A quem pretenda fazer uma garrafeira indicar-se-ia, de uma maneira genérica, uma escolha o mais ampla possível no sentido de cobrir as principais regiões vinícolas nacionais.
No entanto, aqueles que pretendem começar a organizar uma garrafeira sentem, por vezes, naturais dificuldades por falta de adequada informação. Por isso, seguem as primeiras sugestões, neste caso, tintos alentejanos.
Começamos com este CARTUXA Tinto 2011, vinho que associa a sua qualidade ao nome dos monges Cartuxos, que desde 1587 levam uma vida solitária de oração no Convento de Santa Maria Scala Coeli, em Évora. Foi produzido pela primeira vez em 1987. Produto da Fundação Eugénio de Almeida, feito a partir das castas Alicante Bouschet, Aragonês e Trincadeira, este vinho estagiou durante 12 meses em tonéis e barricas de carvalho francês e 6 meses em garrafa. Encorpado, com taninos de seda, maduro mas com garra e frescura, é um vinho com muito carácter alentejano.
Seguimos caminho para este AVENTURA Tinto 2013, de Susana Esteban, que depois de 15 anos a trabalhar como enóloga decidiu embarcar na AVENTURA de tornar-se produtora de vinhos. Produzido a partir das castas Aragonês, Touriga Nacional, e castas tradicionais de Portalegre. A frescura transparece desde o primeiro instante, percetível na vertente floral e elegante que é complementada por uma fruta viçosa e equilibrada. Um vinho que termina sedutor e sedoso embora contido pelos taninos firmes e uma acidez refrescante.
De Portalegre segui para perto da Vidigueira, para encontrar este HERDADE GRANDE Gerações Tinto 2011, comemorativo da 2ª geração da mesma família, que há cerca de 1 século gere a propriedade, e também as 17 vindimas com este blend, produzido a partir de Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Syrah e Cabernet Sauvignon.
Um vinho de perfil aromático intenso, sugerindo frutos maduros, com suaves notas de madeira, e especiarias. No palato mostra-se encorpado e bem equilibrado, com taninos robustos e acidez bem combinada, o final é longo e elegante.
Para terminar, dos enólogos David Baverstock e Luís Patrão nasceu este HERDADE DO ESPORÃO Quatro Castas Tinto 2011, produzido a partir das castas Aragonês, Alicante Bouschet, Petit Verdot e Syrah, embora no nariz, predominem os frutos vermelhos do Aragonês. Na boca, a Syrah confere corpo e estrutura, a Alicante Bouschet cede a textura e o Petit Verdot a elegância e o equilíbrio. Tudo isto após um estágio de seis meses em barricas de carvalho americano e francês, seguido de mais seis meses em garrafa antes de ir para o mercado.
Durante os próximos meses, seguiremos para Norte, na busca de néctares para compor a nossa garrafeira.
Venha daí!
José Faria
Sommelier OUT OFF THE BOTTLE
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