O ano de 2024 é histórico no que toca à presença do Guia Michelin em Portugal. Pela primeira vez na já longa história desta cartilha das boas escolhas à mesa, o nosso país acolhe uma edição exclusiva da obra. Uma estreia que vem acompanhada de uma cerimónia autónoma para Portugal de apresentação dos restaurantes brindados com estrelas Michelin (uma, duas ou três estrelas). Desde 2009, cada edição era apresentada numa cerimónia ibérica, quase sempre numa cidade espanhola, à exceção de 2018, ano em que Lisboa acolheu o evento. Em 2022, a cidade escolhida foi Toledo, em Espanha.
Desta feita, Albufeira, no Algarve, acolhe este 27 de fevereiro, a partir das 19h00, a Gala Michelin na sua versão lusa. O palco escolhido para fazer desfilar os vencedores da noite é o Palácio de Congressos NAU Salgados. Ao momento de atribuição das estrelas Michelin, transmitido em streaming, segue-se um jantar para 500 convidados preparado por sete chefs a trabalhar em Portugal. A cerimónia conta com apresentação de Catarina Furtada. No decorrer do anúncio das estrelas Michelin subirão ao palco os restaurantes distinguidos com os galardões, assim como os distinguidos com o Bib Gourmand (restaurantes com boa relação qualidade/preço) ou com a Recomendação do guia.
“A decisão que tomámos em apresentar a seleção do Guia Michelin na edição de 2024 em Portugal é porque acreditamos no potencial de desenvolvimento do panorama gastronómico português e queremos contribuir para posicionar Portugal também internacionalmente”, referia Nuno Ferreira, Regional Sales Manager da Michelin, em junho de 2023, momento que serviu para anunciar o evento em terras lusas.
Na mesma conferência de imprensa, o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, salientou que “a gastronomia é o segundo fator mais elogiado pelos turistas que visitam o país, logo após a simpatia dos portugueses, o que obriga a um trabalho intenso para manter esse reconhecimento”. O responsável acrescentou ainda que “o Turismo de Portugal tem reservada uma verba de 700 mil exclusivamente para investir no setor da gastronomia, durante este ano (2023) e o próximo”.
A mesma entidade sublinha que “os restaurantes premiados com estrelas Michelin atraem clientes de todo o mundo. A procura da excelência que as estrelas Michelin representam, estimula os chefs a serem criativos, inovadores e constantemente melhorarem as suas criações culinárias. Por outro lado, a presença de restaurantes com estrelas Michelin coloca Portugal no mapa gastronómico global, aumentando a sua reputação como destino culinário de primeira classe”.
Os chefs coordenadores do evento são Rui Silvestre, do restaurante Fifty Seconds, em Lisboa, com uma estrela Michelin, e Dieter Koschina, do restaurante Vila Joya, em Albufeira, com duas estrelas Michelin.
Portugal e as suas 45 estrelas
Após a cerimónia decorrida em novembro de 2023, o saldo de restaurantes portugueses com uma nova estrela Michelin, contabilizou cinco estabelecimentos, três em Lisboa e dois no Porto. De sublinhar a conquista da primeira estrela Michelin para um restaurante vegetariano português, o Encanto, com a cozinha entregue ao multipremiado chef José Avillez. Ainda nas novidades, o restaurante Mesa de Lemos (Diogo Rocha) arrecadou um segundo galardão, na categoria estrela Verde.
Portugal conta com 38 restaurantes galardoados com a estrela Michelin (entretanto, no decorrer de 2023, encerrou o restaurante Eneko Lisboa), num total de 45 estrelas distribuídas, respetivamente, por 31 restaurantes com uma estrela e sete com duas.
O guia de 2023 reúne um total de 1.401 restaurantes em Espanha, Portugal e Andorra, incluindo 13 com três estrelas, 41 com duas estrelas e 235 com uma estrela, além de 831 recomendados pela sua qualidade (135 novos, 15 em Portugal).
Uma história que recua ao início do século XX
Viajando para longe deste tempo de mediatismo Michelin, recuemos perto de nove décadas para encontrar algo que, por analogia, podemos ver como os tetravós dos atuais templos da gastronomia passível de merecer estrela. Nas páginas amarelecidas do Guia Michelin de 1936 para Portugal e Espanha ou, preferindo-se, Espanha e Portugal, vamos ver citados seis restaurantes com a digna estrela e uma casa com a dupla distinção.
Nesses anos que antecediam a Segunda Guerra Mundial, período que somado à Guerra Civil de Espanha, ditaria a ausência do guia por estas bandas, o Escondidinho, no Porto, alcançava as duas estrelas Michelin. Também no norte do país, o Santa Luzia (Viana do Castelo) e o Hotel Mesquita (Vila Nova de Famalicão) erguiam a primeira estrela. No sul, o Clube Naval, em Setúbal, e o trio lisboeta Petermann, Chave D´Ouro e Avenida, arrecadavam uma estrela.
A restauração portuguesa já andava pelas páginas do guia desde 1910, ainda os fulgores da República ecoavam frescos. Os já citados Santa Luzia e Mesquita mereciam menção na publicação (teriam a primeira estrela em 1929) que nascera dez anos antes, em 1900, na viragem do século XIX para o XX, como forma de apoio na estrada dos clientes que adquiriam pneus da marca francesa. Uma empresa criada em 1888 pelos irmãos Édouard e André Michelin.
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