Napoleão e os 23 frangos

No início do século XIX, Napoleão Bonaparte era, no que respeita aos hábitos alimentares, um modelo de sobriedade, bem longe do perfil megalómano que lhe é reconhecido nas conquistas militares. A ementa diária do imperador francês não se distanciava da dos seus soldados. Bonaparte cumpria as refeições com um rigor militar, não excedendo os 15 minutos para cada uma. Somente ao domingo, junto da família e de alguns dignitários, se prestava a uma refeição mais prolongada.

De tal forma vivia, alheio aos prazeres da mesa, que certa vez, conta-se, ter-se-á esquecido do jantar. Os moços de cozinha do palácio, esmerados no serviço, foram colocando, sucessivamente no espeto, 23 frangos, preocupados como estavam em levar a peça de carne ainda quente à mesa.

Na ocasião terá alguém comentado que: “Quando um homem faz perder, assim, 23 frangos, tem-se direito a concluir daí que ele nada percebe de cozinha”.

Napoleão e os 23 frangos

A invenção do pão industrial fatiado

Grandes invenções ou pelo menos com a capacidade de mudar uma parte deste nosso mundo, apenas fazem sentido depois de criadas. Algumas parecem estar condenadas ao insucesso mesmo quando são ainda meras ideias. Foi o caso do pão comercializado já fatiado, uma obsessão do norte-americano Otto Rohwedder, que parecia não fazer sentido na época, princípio do século XX. Conceber uma máquina que cortasse o pão às fatias não constituía um grande problema. Maior era mantê-las juntas e frescas.

Em 1912 Rohwedder concebeu um protótipo utilizando ganchos de cabelo, mas uma doença quase fatal e a perda de tudo num incêndio, na sua fábrica, desviou-o desse objetivo. Contudo, a invenção de uma máquina de embalar pão, em 1925, incitou-o a redobrar os esforços e, em janeiro de 1928, alcançou o objetivo.

Em apenas poucos anos, 80% do total de pão vendido nos Estados Unidos da América, vinha cortado às fatias. No entanto, Otto Rohwedder nunca conheceu a fama e a fortuna, tendo morrido quase incógnito em 1960.

Otto Rohwedder

Margarina engenhosa

Para fazer face à crise que grassava dentro das fronteiras francesas, Napoleão III, em 1869, lançou um concurso público para encontrar um substituto mais barato para a manteiga.

O químico Hippolyte Megè-Mouriés, apresentou ao monarca uma pasta à base de gordura de vaca. O químico derreteu sebo de vaca, extraindo uma gordura que misturou com leite desnatado, estômago de porco, úbere de vaca e bicarbonato de sódio.

Apelidava-se margarina devido à sua cor pérola, que em grego significa margarites.

Não tardou para que uma família holandesa construísse a primeira fábrica, divulgando a invenção Europa fora.

Atualmente a margarina é feita em condições industriais muito diferentes, utilizando gordura vegetal.

Margarina engenhosa

Luís XIV e a nobre gula dada ao desperdício

Têm as modas culinárias destas coisas: o que hoje é prática comum à mesa, apenas há alguns anos, estaria no campo da ficção científica.

Serve isto para dizer que o hábito de nos refastelarmos com um só prato a cada refeição seria, por exemplo na França de Luís XIV, no século XVII, entendido pelas classes altas, como uma verdadeira infâmia e ofensa ao apetite.

Vigorava na época o hábito de apenas debicar o que de melhor tinha para oferecer cada pitéu. No caso do monarca aqui citado, consta que comia de uma assentada, perdizes, capões, tetrazes e perus. Entenda-se que não os ingeria na totalidade, mas apenas aquilo que, no entendimento da época, era o regalo de cada prato.

Assim, do capão comia o soberano as asas, da perdiz o pescoço e do peru a mitra. Saciava assim a nobre gula e o que restava, com alguma sorte, apaziguava a fome de alguns súbditos.

Luís XIV e a nobre gula dada ao desperdício