Quase todos gostamos de nos assumir contra a violência e a favor da bondade. No entanto, ao mesmo tempo que o fazemos, facilmente resvalamos para a crítica destrutiva e para o julgamento. E, de forma contraproducente, enquanto nos dizemos bondosos e contra a violência tornamo-nos, com muita frequência, excessivamente violentos com quem está à nossa volta.
Esta expressão de violência sob a forma de crítica e do julgamento constantes acontece quer nas nossas relações mais próximas, quer nas relações profissionais, e ganha proporções ainda maiores quando falamos das redes sociais, tornando-se fácil criticar e julgar a frio, sem medir o impacto que isso vai gerar em quem está atrás de um ecrã.
Ora, quando temos à nossa disposição a crítica destrutiva - que é uma forma de violência - e a bondade, porque será que tantas vezes, o nosso interior nos leva a optar pela crítica destrutiva?
Muitas vezes, isto acontece porque não somos capazes de gerir e dar significado à nossa agressividade. Isto é, às vezes - porque estamos magoados com tantas coisas dentro de nós - acabamos por descarregar as nossas mágoas em qualquer lugar, e fazemo-lo quase por uma questão de sobrevivência. Precisamos que tudo aquilo que foi guardado dentro de nós consiga expressar-se, mesmo que essa expressão esteja a acontecer de forma pouco adaptada. Uma grande parte das vezes acabamos por fazê-lo sem que nós próprios nos apercebemos verdadeiramente do que o estamos a fazer. Neste contexto, é importante distinguirmos agressividade e violência, uma vez que destruir sob a forma de crítica alguém é um ato de violência com a intenção de magoar o outro que, por vezes, resulta da forma como somos pouco aptos a gerir a agressividade - que precisa de ser saudavelmente expressa e utilizada a nosso favor.
Também a insegurança interna é um dos grandes contributos para esta crítica destrutiva, isto é, sempre que nos sentimos mais inseguros, menos capazes e inferiores aos outros, torna-se naturalmente mais fácil utilizar a arma da crítica destrutiva e do julgamento para nos protegermos e para, de alguma forma, nos sentirmos superiores e melhor connosco próprios. Esta é apenas uma forma de nos iludirmos a nós próprios e que, naturalmente, é apenas um ‘penso rápido’ imediato para esconder o vazio e os medos que, por vezes, vivem dentro de nós.
A verdade é que, se pensarmos bem, muitas vezes crescemos a receber e a fazer demasiadas críticas, acabamos, assim, por seguir aquilo que aprendemos sem nos apercebermos. No entanto, se fizermos o esforço de tornar este processo consciente, podemos passar a ser mais bondosos, mais empáticos, podemos - aos poucos - fazer mais elogios e sorrir mais. Só assim podemos aprender que, nem sempre tudo está bem, que os outros - tal como nós - por vezes, falham, mas podemos arranjar uma maneira de o transmitirmos com cuidado e sem magoar quem está à nossa volta.
Para isso, é essencial que, de uma vez por todas, se mude o paradigma, e que todos nós possamos ter espaço para aprender a gerir a nossa agressividade e para desenvolvermos a nossa segurança interna. Só assim, mais seguros de nós e mais capazes de gerir a nossa agressividade podemos, por fim, ter menos violência - seja qual for a sua forma de se expressar - e sermos todos mais bondosos e tolerantes nas nossas relações com os outros.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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