Data: 7 de março. A poucas horas do início da tão aguardada edição dos Prémios Grandes Escolhas 2024, promovida pela revista Grandes Escolhas pela oitava vez, a excitação é palpável no ar. Este evento, realizado no Centro de Congressos do Estoril deixa a promessa de mais uma vez ser uma noite inesquecível, repleta de brilho, celebração e, claro, muita qualidade. Afinal, esta cerimónia de entrega de prémios é um dos pontos altos do ano no universo do vinho e da gastronomia em Portugal, a par dos prémios atribuídos pela Revista de Vinhos, que aconteceu no passado mês de fevereiro no Porto, reunindo os maiores nomes do setor para reconhecer aqueles que se descaram ao longo de 2024 e que têm contribuído para o sucesso e crescimento contínuo desta indústria.

Falamos de uma gala com mais de 800 convidados de diversos setores, do vinho, à gastronomia, do turismo aos profissionais do setor. Segundo João Geirinhas, diretor de negócios da Grandes Escolhas, esta cerimónia representa a celebração anual da excelência nos setores do vinho e da gastronomia, destacando-se como uma das maiores e mais prestigiadas do país. “Uma coisa que temos vindo a notar, e isso é importante, é que os vinhos estão cada vez melhores e é mais difícil escolher”, confidencia ao SAPO Lifestyle.

Gala Grandes Escolhas 2024. O momento que celebra a qualidade e a inovação no vinho e gastronomia em Portugal
Gala Grandes Escolhas 2024. O momento que celebra a qualidade e a inovação no vinho e gastronomia em Portugal João Geirinhas, diretor de negócio da revista Grandes Escolhas. créditos: Joao E Cutileiro

No entanto, a escolha dos vencedores é rigorosa e imparcial, realizada exclusivamente pela redação da Grandes Escolhas, que, ao longo do ano, prova milhares de vinhos e avalia o desempenho de profissionais e empresas. "Não há ninguém com tanta experiência quanto nós, embora tenhamos agregado vários especialistas mais jovens nos últimos dois anos, pois é necessário garantir a renovação. Mas os clássicos continuam cá, como o João Paulo Martins, o Nuno Oliveira Garcia, a Valéria Zeferino, o Luís Antunes, e eu próprio. Esse núcleo duro tem muitos anos de experiência", relembra-nos Luís Lopes, diretor da revista, cuja experiência se tem vindo a acumular desde 1998.

A seleção final culmina no tão cobiçado Top 30, que engloba vinhos de todas as regiões e estilos, desde espumantes a vinhos fortificados. "Os vinhos são classificados ao longo do ano por todos os provadores, que se distribuem pelas viagens, reportagens e lançamentos. No final, fazemos uma reunião com duração de um dia inteiro para debater e votar os méritos dos vinhos. Chegamos a um entendimento democrático para selecionar os vencedores", destaca Luís Lopes. Além disso, João Geirinhas evidencia que “um vinho para ir para o top 30 não pode ter sido provado só por um provador, tem de ser provado por mais do que um provador ou em mais de uma ocasião. Não basta um de nós provar e vir dizer que está muito bom para ser do top 30. Tem de haver alguma coerência na equipa”.

Para Valéria Zeferino, uma das integrantes do painel de provadores, o gosto pessoal nunca se pode sobrepor quando se pretende imparcialidade na avaliação dos vinhos: “Temos de esquecer um bocadinho o nosso gosto pessoal. Não podemos gerir a avaliação com a escala 'gosto ou não gosto'. O mais importante é avaliar o vinho de forma fria, quase técnica. Embora existam vinhos que, para além de uma abordagem técnica, criam uma emoção. Aí, temos de nos abstrair disso para garantir que a avaliação é imparcial."

Gala Grandes Escolhas 2024. O momento que celebra a qualidade e a inovação no vinho e gastronomia em Portugal
Gala Grandes Escolhas 2024. O momento que celebra a qualidade e a inovação no vinho e gastronomia em Portugal Luís Lopes e equipa da Grandes Escolhas. créditos: Joao E Cutileiro

A jornalista destaca que o segredo para essa imparcialidade está no treino constante: "Conseguimos isso com o treino. Posso considerar que um vinho está extremamente bem feito e que é de grande qualidade, mesmo que eu, pessoalmente, preferisse outro estilo. Isso não afeta a minha avaliação final."

Sendo esta entrega de prémios uma das maiores concentrações anuais do setor do vinho, reunindo profissionais e personalidades de destaque em várias áreas, organizar um evento desta magnitude exige um grande cuidado e dedicação. “A organização começa meses antes, desde a lista de convidados até ao catering, onde fazemos questão de experimentar todos os pratos que serão servidos, garantindo que complementam os vinhos que vamos ter”, destaca João Geirinhas que recorda o grande caminho feito nos últimos anos: “Nós começámos isto com um powerpoint, hoje evoluiu para uma apresentação multimédia que é muito complexa e difícil de organizar. Mas tentamos fazer isto com gosto, é uma responsabilidade grande e também é isso que o mercado espera.”

Este ano, a gala contará com a presença de representantes do Turismo de Portugal e do próprio Secretário de Estado, reforçando a ligação entre o evento e o turismo, principalmente o enoturismo.

No total, falamos de 20 troféus que premeiam categorias tão distintas como Restaurante Cozinha Tradicional Portuguesa, Restaurante Cozinha do Mundo, Restaurante (mais dedicado ao fine dining), Sommelier, Prémio David Lopes Ramos, Loja Gourmet, Garrafeira Wine Bar, Enoturismo, Organização, Viticultura, Adega Cooperativa, Produtor Revelação, Produtor, Empresa Vinhos Generosos, Empresa, Singularidade, Enólogo Vinhos Generosos, Enólogo e Senhor/a do Vinho.

Do enoturismo à ascensão dos brancos

O enoturismo tem-se afirmado como um dos grandes motores do crescimento da viticultura e da gastronomia em Portugal. "O enoturismo tem evoluído de um departamento de marketing a um verdadeiro negócio. Para muitos produtores, o enoturismo já representa uma parte significativa da sua atividade", explica João Geirinhas. Muitas adegas oferecem experiências completas aos visitantes, incluindo alojamento, restaurantes e provas de vinhos, o que tem contribuído para o aumento do turismo rural e para o desenvolvimento de regiões fora dos grandes centros urbanos.

A ligação entre a Gala Grandes Escolhas e o enoturismo é evidente, com a atribuição de um prémio específico para a categoria de enoturismo. "É um setor que contribui muito para o desenvolvimento do turismo em Portugal, tanto no mercado interno como internacional. O enoturismo tem permitido atrair turistas com elevado poder de compra e tem promovido um turismo sustentável em regiões que, de outra forma, poderiam estar em declínio", sublinha.

Em termos globais, o consumo de vinho tem vindo a diminuir, uma tendência que também se reflete no mercado nacional. No entanto, como João Geirinhas destaca, essa diminuição é acompanhada por uma maior consciência do consumidor, que prefere consumir vinhos de qualidade, mesmo que em menor quantidade. "Hoje em dia, consome-se menos, mas consome-se de forma mais consciente. Os consumidores estão mais atentos à qualidade do que à quantidade", explica.

No contexto português, a diminuição do consumo interno de vinho é atenuada pelo crescimento do enoturismo e pelas exportações. "Portugal tem um mercado maduro, sem grande capacidade de crescimento interno. Mas o enoturismo e o turismo em geral têm sido fundamentais para sustentar a indústria, especialmente nos restaurantes, hotéis e bares", afirma. Na sua opinião, Portugal tem-se destacado na exportação de vinhos, principalmente devido à sua grande diversidade de castas. "Portugal tem castas muito próprias, como o Arinto, a Touriga Nacional, o Encruzado, o Alvarinho e o Tinto Cão, que conferem aos vinhos portugueses uma originalidade única", sublinha. Na opinião do especialista, esta originalidade tem atraído consumidores de todo o mundo, que procuram vinhos com grande personalidade e uma forte ligação ao terroir.

Gala Grandes Escolhas 2024. O momento que celebra a qualidade e a inovação no vinho e gastronomia em Portugal
Gala Grandes Escolhas 2024. O momento que celebra a qualidade e a inovação no vinho e gastronomia em Portugal créditos: Joao E Cutileiro

Luís Lopes também destaca uma mudança importante na produção de vinhos nos últimos anos: “Se pensarmos nos últimos 5, 6, 7 anos, a principal mudança tem sido a valorização e o crescimento dos vinhos brancos, não apenas pela melhoria gigantesca na qualidade desses vinhos, mas também pelo aumento do próprio mercado. Hoje, os vinhos brancos têm uma valorização muito maior, e essa transição está clara, já que estamos a ver uma mudança do consumo de vinhos tintos para brancos em muitos mercados. Em Portugal, felizmente, os vinhos brancos estão extraordinários neste momento”, comenta Luís Lopes.

Apesar dessa mudança, Luís Lopes também aponta um desafio importante para o setor: “Infelizmente, teremos menos uvas brancas do que gostaríamos, sobretudo em regiões onde a pressão sobre as vinhas é muito grande, como no Alentejo, Douro e na própria Bairrada.” No entanto, o impacto positivo dessa mudança, que vê no aumento da valorização e atenção ao vinho branco, reflete-se de forma bastante significativa no cenário global, onde o consumo de vinho branco tem vindo a crescer.

A sustentabilidade e inovação têm sido áreas em crescimento no setor vitivinícola em Portugal, com os produtores a demonstrarem um grande empenho em adaptar-se às tendências globais e em implementar práticas mais sustentáveis. “Os projetos e planos de sustentabilidade que vemos, principalmente no Alentejo, têm sido pioneiros. A nível regional e nacional, os produtores estão a adotar indicadores rigorosos de sustentabilidade, com cadernos de encargos que incluem exigências muito específicas”, evidencia Luís Lopes. Essa mudança tem sido crucial para garantir a competitividade dos vinhos portugueses no mercado mundial, especialmente à medida que os consumidores procuram vinhos produzidos de maneira mais responsável, com um menor impacto ambiental.

Neste contexto de menor intervenção, Luís Lopes faz um contraponto importante: "De facto, uma menor intervenção química está sempre associada a uma maior intervenção física. Se os vinhos não têm proteção química, isso implica uma intervenção muito maior por parte do produtor, que precisa estar muito mais atento a todos os detalhes do processo na vinha. Portanto, não existem vinhos de 'baixa intervenção' no verdadeiro sentido, mas sim vinhos que fazem uso menor de produtos farmacológicos. Nos vinhos de topo, a tendência é para se usar menos desses produtos, o que se reflete na qualidade do vinho, mas nos vinhos de volume, a utilização de tais produtos é perfeitamente legal e integrada na legislação".

Adaptação ao mercado e o desafio de criar valor

Luís Lopes também destaca a importância de os produtores se adaptarem às mudanças no mercado, especialmente com o consumo de vinho a cair a nível global. "O mercado de vinhos não é sexy, digamos assim. Cada vez mais, os consumidores estão a procurar alternativas. Não é tanto uma questão de álcool, pois, enquanto o consumo de vinho está a cair, os espirituosos continuam em alta.” Para o jornalista de vinhos, o caminho é claro: “Temos de adaptar-nos a isso no sentido de criar valor, em vez de fazer vinhos de 2,20€ no supermercado. Precisamos de subir a fasquia em termos de ambição e valorização dos vinhos, vendendo menos quantidade, mas vinhos de maior qualidade".

A exportação também tem sido uma das principais alavancas do crescimento da indústria dos vinhos portuguesa, que, apesar das dificuldades globais, continua a encontrar novos mercados e a consolidar a sua posição no mercado internacional. João Geirinhas lembra-nos de alguns desafios futuros, como as possíveis tarifas impostas pelo mercado americano, mas “o setor tem mostrado uma enorme resiliência. Se houver dificuldades, Portugal já provou, no passado, que consegue adaptar-se", observa.

João Geirinhas acredita que, em 2024, as exportações de vinho português deverão superar os 1.000 milhões de euros, um valor significativo para o setor agrícola português. Além disso, a promoção internacional, através de entidades como a ViniPortugal, tem contribuído para consolidar a imagem do país num mercado altamente competitivo, onde a singularidade é a nossa distinção.