“É muito normal [os ouriços-do-mar] serem vendidos por 80 euros o quilo, se formos para os preços só das gónadas, das ovas, daquilo que se come, já começamos a falar de preços de cento e tal a duzentos e tal euros e, para alguns mercados, até superiores”, disse à agência Lusa Tiago Verdelhos, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade de Coimbra (UC).

O investigador, que coordenou, no laboratório MAREFOZ, na Figueira da Foz, o projeto OtimO, de criação de ouriços-do-mar em aquacultura, notou que “em alguns mercados, está a haver cada vez mais procura, cada vez mais interesse” pelos ouriços-do-mar, ao contrário do que sucede no nosso país.

“Em Portugal consome-se muito pouco. Há algumas zonas localizadas onde é um produto conhecido, um produto tradicional e tem muita procura, mas é só”, frisou Tiago Verdelhos, aludindo às zonas de Viana do Castelo, Peniche e Ericeira, esta última que possui um festival gastronómico daquele invertebrado marinho.

Na sequência do projeto de otimização dos processos de produção de ouriço-do-mar que liderou, Tiago Verdelhos chegou a ter um contacto com um restaurante de Viana do Castelo: “o senhor disse-me ‘se vocês arranjarem sempre, eu compro sempre’, portanto procura há”, notou, mesmo se o mercado nacional é abastecido “em exclusivo por organismos do meio natural”, nomeadamente os existentes em zonas rochosas da costa atlântica.

“No caso da Figueira, nas plataformas rochosas [de Buarcos e Cabo Mondego] temos ouriço do mar, as quantidades não são grandes, se houvesse aqui um esforço de apanha como há, por exemplo, em Peniche, facilmente dizimávamos a população existente”, argumentou o investigador, uma potencial situação idêntica às que já sucederam “na zona de Peniche e na zona da Ericeira”.

“Já houve praias onde o stock de ouriço do mar foi completamente esgotado e depois houve que tomar medidas para evitar a apanha, para que o sistema pudesse recuperar”, afirmou.

Deste modo, Tiago Verdelhos considera que a aquacultura de ouriços-do-mar “pode ter um papel importante”, já que, ao poder vir a suprir as necessidades do mercado, também reduz a pressão no meio ambiente.

Embora confessando não ser “grande apreciador” das ovas de cor amarela ou laranja dos ouriços-do-mar, Tiago Verdelhos admitiu a diferença entre o sabor e a textura dos organismos do meio natural, quando comparados com os de aquacultura.

“O que normalmente é descrito é que os organismos do meio natural, quando estão nas melhores alturas de captura, com a melhor qualidade, são uma iguaria extremamente apreciada. Os de aquacultura, ainda, na maior parte dos casos, não conseguem atingir esse nível de sabor, da textura e o próprio desenvolvimento das ovas, por vezes, não ocorre da mesma forma”, sustentou.

“Mas numa produção controlada de aquacultura há sempre a possibilidade de se tentar melhorar, de tentar aumentar taxas de crescimento, a rapidez de desenvolvimento das ovas, para dar maior rentabilidade ao processo e também de tentar melhorar a sua qualidade, para depois no mercado ter mais aceitação e ter mais procura”, observou o investigador.