Quando vi o documentário Earthlings, pouco sabia sobre esta ideologia de vida. Este é um conhecido e muito bem conseguido documentário, que aborda de forma bastante clara e explícita toda a temática da exploração animal, no que diz respeito à alimentação, ao entretenimento, à indústria da moda e da cosmética, entre outros.
Para além da questão Animal, aborda também aspetos importantes como a Saúde e o impacto do consumo de animais no Meio ambiente. Ter assistido a este documentário mudou do dia para a noite a minha perceção sobre o Mundo. Fez-me perceber todo o sofrimento infligido pelo ser humano nos animais, a forma como a indústria (alimentar e não só) funciona e os benefícios de uma alimentação à base de plantas na nossa saúde e no ambiente.
Este documentário permitiu-me voltar a humanizar (ao invés de objetificar) os animais. E escrevo “voltar a” porque acredito que todos nós nascemos a sentir empatia pelos animais, a olhar para eles como amigos, como pares. Até que nos apresentam pela primeira vez um animal no prato.
Gera-se alguma confusão no nosso cérebro, ainda tão maleável, mas aceitamos, e vamos assimilando todas aquelas frases (ditas quase sempre pelas pessoas que amamos e que vemos como uma referência): “precisas disto para crescer”, “é para comer”. Podemos questionar, uns mais do que outros, mas quase todos nós, ao fim de pouco tempo, desistimos. Esquecemos. E não voltamos a fazer a ligação.
Comer já não é apenas uma opção individual, é cada vez mais ato político e um ato progressista. As opções alimentares de cada um têm hoje em dia um impacto colossal no equilíbrio e na vida de terceiros: nos animais, no planeta e em culturas e povos que estão a ser dizimados e extintos pelo abismo do agronegócio. O veganismo é por isso a noção genuína de que a exploração dos outros é errada. André Silva (deputado e porta-voz do PAN) excerto do livro “A Cozinha Verde”
No meu caso a ligação voltou a ser feita no dia em que vi aquele documentário. Mesmo que quisesse, não conseguia voltar atrás. Decidi naquele momento eliminar os animais do meu prato e do meu estilo de vida.
A mudança, um processo de (auto)conhecimento
No meu caso, a mudança aconteceu no dia em que vi o documentário. Não foi pensada nem gradual. Mas atenção, importa referir que não somos todos iguais, e é normal que este tipo de mudanças leve mais tempo a acontecer para muitos de nós. Esta foi apenas a minha experiência pessoal. Não foi difícil. Como estava certa e segura do que queria, iniciei uma procura incessante por tudo o que estivesse relacionado com o tema.
No que diz respeito à alimentação, ganhei um gosto enorme pela nutrição vegetariana, por perceber o impacto dos alimentos que comemos no nosso organismo. Estudei (e estudo) muito. Foi como se tivesse voltado à universidade, mas agora para estudar um tema que realmente me apaixonava e que poderia fazer a diferença. Foi um processo de (auto)conhecimento desafiante mas muito recompensador. Aprendi a olhar para mim como parte de um todo e a respeitar esse todo. Tornei-me mais consciente das minhas escolhas e do impacto das mesmas.
Comecei a alimentar-me bem, a saber nutrir o meu corpo e a retirar prazer disso. Até então, não tinha grandes cuidados nem preocupações com o que comia. Aprendi a ser mais tolerante e empática. A pôr tudo em perspetiva. Talvez o mais desafiante tenha sido lidar com o lado social. Responder a tantas dúvidas e principalmente receios, por parte das pessoas mais próximas. Hoje, já todos aceitam as minhas opções, mas numa fase inicial gerou alguma discórdia e discussões sobre o tema. Procurei sempre lembrar-me de que aquela resistência era perfeitamente natural. É muito difícil para o ser humano quebrar hábitos e ideologias que já foram perpetuadas durante tanto tempo. Passados cinco anos, não dou ainda por terminado o meu processo de mudança mas estou muito orgulhosa de todo o meu caminho.
Filipa Range
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