A catarata continua a ser uma das principais causas de cegueira curável no mundo. Estar atento a pequenas alterações na visão e manter um acompanhamento regular pelo oftalmologista permite identificar a doença precocemente e consequentemente tratá-la o mais cedo possível evitando complicações.
Estas rotinas de vigilância e prevenção devem ser mantidas sempre e não devem ser adiadas. Lembre-se que teremos um inverno desafiante a todos os níveis e, mais do que nunca, é importante começar agora a preparar a nossa saúde.
Saiba mais sobre os sinais de alarme desta doença e o que se pode fazer para evitar uma das principais causas de perda de visão.
O que é uma catarata?
Uma catarata é uma alteração da transparência de uma das “lentes naturais” do olho humano, neste caso do Cristalino. O Cristalino tem duas funções fundamentais: poder de convergência da luz e capacidade de focagem das imagens ao perto. Esta lente natural sofre ao longo da vida de todos nós duas alterações fisiológicas, universais a todos os seres humanos: a perda de capacidade de acomodação (“perda de capacidade de focar as imagens ao perto”) e a perda de transparência.
A perda de acomodação ocorre por norma entre os 40 e os 50 anos de idade, leva à perda da capacidade de leitura ou de trabalhar ao computador, e chama-se Presbiopia. A Presbiopia é compensada numa fase inicial com o recurso ao uso de óculos de leitura.
A perda de transparência do Cristalino é também universal, ocorre mais tardiamente após os 60 a 70 anos e é designada por catarata. Habitualmente, a perda visual associada ao surgimento de uma catarata é lenta, progressiva e normalmente afeta os dois olhos.
Que sintomas surgem associados à presença de catarata?
O sintoma mais frequente é a perda progressiva de acuidade visual, que pode ter uma progressão distinta em cada um de nós. Muitas vezes, para além da diminuição da visão, os doentes podem também apresentar outro tipo de sintomas visuais tais como:
- Encadeamento mais intenso quando expostos a intensidades luminosas mais intensas;
- Presença de halos luminosos noturnos;
- Alteração da perceção das cores com perda do contraste das cores mais intensas;
- Em muitos casos, a progressão natural da catarata pode alterar frequentemente a “graduação” dos óculos que a pessoa usa - por vezes é frequente o doente descrever que nos últimos anos foi necessário alterar várias vezes a graduação dos óculos de correção que usa.
É importante consultar um oftalmologista sempre que notar alguma alteração na sua visão. Adiar a procura de cuidados de saúde pode significar consequências irreversíveis para a sua saúde visual.
Como se trata uma catarata?
O tratamento da catarata realiza-se através de uma cirurgia. Juntamente com a cirurgia a laser (conhecida como LASIK) para tratamento de miopia, hipermetropia e Astigmatismo, a cirurgia de catarata é uma das cirurgias mais eficazes e seguras de todo o corpo humano. A cirurgia de catarata é realizada em regime de ambulatório (o doente não necessita de ficar internado no hospital) e habitualmente utiliza-se apenas uma anestesia local (em forma de “gotas” que se aplicam antes de realizar o procedimento) ou com uma pequena sedação, permitindo ao doente mais ansioso tolerar perfeitamente toda a realização do procedimento. A cirurgia, feita por meio de ultrassons, é realizada recorrendo a uma incisão de 2,00 a 2,40 mm, onde não são utilizados pontos de sutura, e é colocada uma lente intraocular (um “implante”) que irá substituir e restabelecer a transparência do cristalino opaco removido. Habitualmente, as cirurgias de catarata são realizadas separadamente aos dois olhos, com um intervalo de 1 a 4 semanas entre as duas cirurgias.
Como é a recuperação após a cirurgia?
Como se trata de um procedimento minimamente invasivo, realizado através de uma incisão muito pequena, a recuperação ocorre sem dor e sem necessidade de tomar comprimidos. Os únicos medicamentos utilizados após a cirurgia pelo doente são aplicados sobre a forma de colírios (“gotas”), durante 2 a 4 semanas, conforme a necessidade. Nos primeiros 3 a 5 dias após a cirurgia recomenda-se evitar a realização de esforços físicos ou de frequentar espaços públicos, por forma a promover uma recuperação sem inflamação ou infeção. Nos primeiros dias após a cirurgia os doentes podem ler, ver televisão, cozinhar e trabalhar ao computador.
É seguro realizar uma cirurgia de catarata em tempo de pandemia?
Sim, e não deve adiar a realização de uma cirurgia ou outro procedimento - sejam exames de diagnóstico, consultas ou tratamentos - por receio de contaminação pela COVID-19. Os hospitais seguem todos os procedimentos de segurança recomendados pelas autoridades de saúde nacionais e internacionais.
Para nós Oftalmologistas, a realização da cirurgia de catarata não sofreu nenhuma alteração em termos do risco de saúde para os médicos, enfermeiros, auxiliares ou para o próprio doente que é submetido a cirurgia. Já antes da pandemia todos os profissionais de saúde presentes dentro da sala de cirurgia utilizavam um fato completo esterilizado de isolamento, touca, luvas esterilizadas e máscara facial completa. Os doentes que atualmente são submetidos a cirurgia de catarata usam também uma máscara facial para sua proteção pessoal e de todos os profissionais com quem contactam enquanto se encontram dentro do hospital ou da sala de cirurgia.
Os profissionais de saúde estão preparados para o receber e tratar da sua saúde ocular com toda a segurança.
Um artigo do médico Tiago Monteiro, oftalmologista no hospital CUF Porto.
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