A transpiração excessiva é um fenómeno que ocorre ao longo do dia e que não desaparece totalmente, mesmo quando a temperatura ambiente se torna mais fresca. Apesar de não ser uma patologia, a hiperidrose é um distúrbio dermatológico. É uma espécie de reação excessiva, que se traduz em níveis de transpiração que vão além do que é fisiologicamente necessário para o organismo regular a temperatura.
Hiperidrose primária e secundária
A hiperidrose primária é mais comum, estimando-se que afete 93% das pessoas que produzem suor em excesso. Surge de forma espontânea, geralmente, na infância ou na adolescência, e permanece ao longo da vida. Incide sobre áreas específicas do corpo: daí também se chamar “focal primária”, afetando vulgarmente as axilas, a testa, as palmas das mãos e as plantas dos pés. Mas pode atingir outros locais, como o rosto, o couro cabeludo, a região inguinal e a área inframamária.
A causa da hiperidrose primária não é bem conhecida. As glândulas sudoríparas écrinas – distribuídas por todo o corpo, mas fortemente concentradas nas palmas das mãos, nas plantas dos pés, nas axilas e na face – são estimuladas por fibras nervosas e pelo neurotransmissor denominado acetilcolina. Pensa-se, ainda sem certezas, que a estimulação inusitada das glândulas sudoríparas écrinas é a causa do aumento da transpiração, e não o número ou tamanho aumentado das glândulas.
Pessoas com hiperidrose primária produzem quantidades de suor acima do normal e manifestam uma resposta aumentada a estímulos normais, como stresse emocional ou físico, o que indicia o envolvimento do sistema nervoso central neste processo. Outros estudos referem que também pode haver a relação inversa, ou seja, que a transpiração excessiva pode provocar alterações emocionais e psicológicas. Suspeita-se igualmente da implicação de alguns genes.
Já a hiperidrose secundária tende a ser generalizada, ou seja, não se limita a determinadas zonas do corpo. Surge na idade adulta e ocorre tanto durante os períodos de vigília, como durante o sono. Pode ser causada por uma condição médica subjacente − alcoolismo, ansiedade, diabetes, doença cardíaca, obesidade, doença de Parkinson, problemas oncológicos ou menopausa – ou pelo uso de medicamentos, como determinados antidepressivos e hipoglicémicos.
Tratamentos para a transpiração excessiva
Para fazer frente à transpiração excessiva primária, os antitranspirantes, em especial, os que possuem 20% de cloridrato de alumínio, em roll-on, spray ou pó, são o tratamento de primeira linha. Os antitranspirantes reduzem a quantidade de suor através da formação de pequenos “tampões” na parte superior das glândulas sudoríparas. Os cosméticos não são obrigados a indicar a quantidade de ingredientes na embalagem, pelo que pode não ser fácil identificar um antitranspirante com 20% de cloridrato de alumínio. Procure, por exemplo, numa farmácia ou numa parafarmácia.
Caso o tratamento de primeira linha se revele ineficaz ou cause irritação da pele, o melhor é consultar um dermatologista. As opções de tratamento dependem da gravidade dos sintomas, da região corporal afetada, dos possíveis efeitos adversos, da disponibilidade do tratamento e da força de vontade da pessoa, mas também da sua disponibilidade financeira.
Uma das hipóteses é a iontoforese, que consiste na utilização de elétrodos ligados a uma corrente elétrica de baixa intensidade, que inibe a função das glândulas sudoríferas na área aplicada. Deve ser feita em intervalos de uma a quatro semanas, pois a recorrência dos sintomas é comum após a interrupção do tratamento. Os efeitos adversos incluem desconforto transitório, vermelhidão da pele (eritema) e formação de pequenas bolhas com líquido no local do tratamento.
As injeções de botox são outra solução. Geralmente, servem apenas para as axilas, uma vez que, nas mãos, nos pés e na área do crânio e da face, causam maior dor e desconforto. Vários estudos referem uma redução de 50% ou mais dos sintomas e melhoria da qualidade de vida. O efeito pode durar de seis a nove meses, mas o procedimento não é isento de risco. Pode, por exemplo, causar dor durante as injeções e sudação compensatória. Fraqueza muscular transitória e perda de controle motor fino foram também relatadas.
Cirurgia, em que situação?
A cirurgia deve ser uma hipótese de “fim de linha”. A extração ou, em termos técnicos, a resseção localizada das glândulas sudoríparas écrinas pode ser realizada com anestesia local e é útil para pequenas áreas de hiperidrose axilar, apesar de existir evidência limitada sobre a sua eficácia a longo prazo.
Se nada resultar, há ainda a possibilidade de remover o nervo simpático (simpatectomia torácica endoscópica), também responsável pela transpiração. Esta cirurgia está reservada a casos graves e pode desencadear complicações, incluindo a hiperidrose noutras partes do corpo, como as costas ou as pernas (muito comum), que, em geral, começa a manifestar-se seis a 12 meses após a operação.
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