Surgiu de uma forma inesperada e teve um impacto imensurável. Hoje, não há dúvidas de que a zumba, modalidade de fitness que combina movimentos aeróbicos com coreografias acompanhadas, tradicionalmente, de música latina, conquistou o mundo. Prova disso, são os milhões de pessoas que praticam a modalidade, incluindo celebridades como Natalie Portman, Shakira e Madonna. Tudo começou em 1999, nos Estados Unidos da América, no dia em que o seu fundador, Alberto Perez, mais conhecido por Beto Perez, coreógrafo colombiano, se esqueceu das cassetes que iria usar na sua aula de aeróbica e improvisou com a música latina que tinha no carro. O sucesso foi tal que, pouco tempo depois, estava criado o fenómeno zumba fitness.
Mas, afinal, o que tem de tão especial? Que efeito tem no organismo? Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica e adepta da modalidade, explica-nos tudo. A adesão massificada à zumba pode ser justificada pelos efeitos biológicos que a sua prática regular desencadeia. «Por ser uma prática física ritmada, ao som de música e num ambiente que se quer alegre, a segregação de serotonina (neurotransmissor que atua no cérebro responsável pela regulação do humor) e endorfinas (neurotransmissores que influenciam os níveis de prazer e energia) é potenciada, o que tem impacto direto no bem-estar», confirma Filipa Jardim da Silva. Mas esse não é o seu único benefício.
De acordo com a psicóloga clínica, um dos trunfos da disciplina está na mistura de «movimentos rápidos com movimentos mais lentos, a diferentes ritmos, o que beneficia igualmente a coordenação motora, contribuindo para um melhor equilíbrio». A saúde cardiovascular e cognitiva também sai a ganhar, pois a modalidade «estimula a memória, uma vez que a coreografia ensinada pelo professor é repetida nas aulas seguintes, adicionando novos movimentos. O sistema cardiovascular é estimulado a funcionar melhor, graças aos movimentos de respiração», refere.
Poder transformador
A prática regular de zumba é um verdadeiro antídoto para o stresse. Aos efeitos positivos de uma atividade física ritmada, alia-se o ambiente da aula que é acompanhada com músicas que estimulam boas energias. «A atividade física ritmada, ao longo de quase uma hora, favorece a transformação de tensão em energia», explica a psicóloga. A zumba tem ainda a capacidade de melhorar a autoestima. Pode ser praticada por qualquer pessoa, independentemente da idade, peso ou condição física, como refere Filipa Jardim da Silva.
«Assume-se como um espaço de aceitação e reconhecimento do corpo como um corpo que se quer saudável, mais do que magro ou gordo, pelo que contribui para uma melhoria da autoestima. Além disso, todos conseguem acompanhar uma aula de zumba, com mais ou menos ritmo, o que gera uma sensação de superação no final da aula», diz. Por ser uma atividade física divertida, «que melhora o humor, aumenta a energia e a capacidade de concentração, a adesão é mais fácil. Por outro lado, tratando-se de uma aula de grupo, a socialização inerente também contribuirá para níveis mais satisfatórios de partilha e sentimento de integração», refere.
Vício, paixão ou ambos?
Há quem compare o entusiasmo sentido por esta modalidade ao de estarmos apaixonadas e não é por acaso. Biologicamente, há uma explicação para esta semelhança. Segundo Filipa Jardim da Silva, a prática regular de zumba, a um ritmo moderado, além de despoletar a segregação de neurotransmissores responsáveis pelo humor e bem-estar (serotonina e endorfinas), também desencadeia a libertação de oxitocina, a hormona do amor. «Esta é produzida sempre que realizamos atividades que nos dão prazer», salienta.
«Logo, se a prática de zumba nos dá realmente prazer e a praticamos de forma regular, é possível que a sensação de bem-estar e satisfação, que se sente durante e após a aula, seja semelhante à de estarmos apaixonados», confirma a especialista. Ao mesmo tempo, esta pode ser mesmo uma atividade viciante. «O nosso cérebro procura bem-estar, pelo que as atividades que potenciem mais a segregação de serotonina ativarão, de uma forma mais intensa, o nosso centro de prazer e serão essas que tendemos a querer repetir pela sensação que já nos provocaram», explica.
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A modalidade ideal
Abrangente por natureza, a zumba poderá ser indicada nos casos em que a pessoa quer realmente mudar o seu estilo de vida, mas sente-se complexada, tem uma preparação física fraca, excesso de peso e/ou se sente desmotivada para a prática de exercício por falta de companhia, por exemplo. «Esta é uma aula em grupo em que ninguém tem demasiada atenção e em que existe um incentivo e inspiração mútuos. Além disso, é uma aula com pessoas de todas as idades, tamanhos e preparações físicas, em que a diferença se esbate», aponta a especialista. Na sua prática clínica, Filipa Jardim da Silva tem percebido os efeitos positivos desta atividade no bem-estar psicológico e emocional dos seus pacientes.
«Considero o exercício físico um dos pilares fundamentais para o bem-estar físico e psicológico, pelo que reforço sempre a importância de um estilo de vida ativo, procurando encontrar, caso a caso, o que funcionará para a pessoa», diz. «Nalgumas situações, a zumba tem sido a atividade que permite a adesão a um estilo de vida mais ativo, contribuindo para uma melhoria do humor e uma diminuição do sentimento de solidão», conclui ainda a psicóloga.
Texto: Sofia Cardoso com Filipa Jardim da Silva (psicóloga clínica da Oficina de Psicologia)
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