Apesar dos esforços para aumentar a consciencialização das taxas crescentes da obesidade e dos riscos significativos que representa para a saúde, um relatório recente da Federação Mundial de Obesidade sugere que, em 2035, cerca de 39% dos portugueses adultos sofrerão de obesidade. O atual ambiente obesogênico, isto é, que potencia os maus hábitos alimentares e estimula o sedentarismo, é o principal contributo para as taxas de obesidade. No entanto, são os aspetos psicológicos que nos ajudam a explicar os comportamentos alimentares e a manutenção do peso nestas pessoas.

Que aspetos psicológicos podem contribuir para a obesidade?

Os fatores psicológicos que mais contribuem para a obesidade são o stress, a imagem corporal e o estigma do peso. Estudos sugerem que o stress contribui para o consumo excessivo de alimentos ricos em açúcar e em gorduras, tendo como função regular os estados emocionais negativos ao aumentar os níveis de dopamina responsáveis por induzir o prazer, a satisfação e a motivação. O consumo destes alimentos torna-se rapidamente um mecanismo para lidar com o stress e as emoções negativas, podendo levar à dependência da comida. A imagem corporal também está relacionada com a obesidade. Um peso mais elevado leva à insatisfação corporal, o que inicia um círculo vicioso de estados emocionais negativos e padrões alimentares mal adaptativos, que aumentam ainda mais o peso. Por fim, de acordo com um estudo recente publicado em 2022, no International Journal of Environmental Public Health, o estigma do peso é a principal razão para a inatividade física e o evitamento de ambientes promotores da perda de peso.

Porque é importante o acompanhamento psicológico?

A Psicologia permite orientar as pessoas que vivem com obesidade. O psicólogo clínico faz uma avaliação psicossocial para compreender o que está a manter a obesidade e desenvolve um plano de intervenção para estimular as mudanças mentais e comportamentais necessárias para a perda de peso.
De acordo com uma metanálise publicada em 2023 no Journal of Clinical Psychology in Medical Settings, a Terapia Cognitivo-Comportamental é o tratamento psicológico mais eficaz no tratamento da obesidade, podendo apoiar a perda de 7% a 10% do peso corporal e promover um estilo de vida mais saudável.

Em que consiste a Terapia Cognitivo-Comportamental?

A Terapia Cognitivo-Comportamental centra-se na redução dos pensamentos negativos relacionados com a alimentação, o corpo e a atividade física, substituindo-os por pensamentos mais realistas que promovem comportamentos adaptativos. Uma técnica comportamental central é a exposição gradual e controlada a locais promotores da perda de peso, que anteriormente geravam ansiedade, como ginásios ou centros desportivos, para que possa proceder à sua dessensibilização. A Terapia Cognitivo-Comportamental também explora estratégias alternativas, para lidar com o stress e os estados emocionais negativos sem recorrer à alimentação excessiva.

Existem outras abordagens?

Outra abordagem terapêutica que pode contribuir para o tratamento da obesidade é a Terapia de Aceitação e Compromisso.
Ao contrário das técnicas utilizadas na Terapia Cognitivo-Comportamental, que se centram na redução dos estados internos negativos, na Terapia de Aceitação e Compromisso a pessoa é orientada a aceitá-los. O objetivo é que o doente aumente a confiança na sua capacidade para lidar com experiências aversivas como a fome, o afeto negativo ou o cansaço derivado do exercício físico. Esta abordagem também utiliza técnicas de mindfulness, para aumentar a consciencialização dos comportamentos alimentares automáticos e inconscientes. Dessa forma, reduz a impulsividade relacionada com a alimentação emocional e as compulsões alimentares. Promove ainda a ação baseada em valores e objetivos de vida para reduzir o desconforto da transição comportamental. De acordo com um estudo de 2022, na Behavioural Psychology, a Terapia de Aceitação e Compromisso promove uma perda de peso média de 2,8% a 3,9% e uma melhor relação com o corpo.

Independentemente da abordagem utilizada, os estudos demonstram que a Psicologia é uma disciplina científica com resultados comprovados no tratamento da obesidade.

Um artigo de Catherina Maria Jönsson, Psicóloga Clínica no Hospital CUF Porto.