Temos assistido a um número crescente de soluções tecnológicas para monitorizar o nosso estado de saúde. Os wearables, pequenos dispositivos eletrónicos com capacidade de comunicação sem fios e incorporados em objetos do nosso dia-a-dia, permitem avaliar várias variáveis biológicas com interesse cardiovascular. Os mais usados são os smartwatches, que têm a capacidade de medir a frequência cardíaca (vulgo “pulso”) e atividade física. Daí que sejam muito populares na prática desportiva, como forma de avaliar e comparar o desempenho do indivíduo.
Com o refinar do software e algoritmos de inteligência artificial, a integração destas variáveis pode ser muito útil na avaliação da saúde cardiovascular. Por exemplo, os smartwatches mais avançados conseguem rastrear o surgimento de uma arritmia muito frequente na população, a fibrilhação auricular, com uma acuidade bastante razoável. Alguns permitem mesmo registar uma tira de eletrocardiograma, que pode ser útil no diagnóstico de arritmias. Dependendo das aplicações instaladas, a análise que fazem continuamente à nossa atividade física permite que o cardiologista/médico assistente obtenha informação que tradicionalmente só estaria disponível numa prova de esforço.
Porém, a aplicação mais validada cientificamente dos smartwatches é a monitorização dos níveis de atividade física. O número de passos por dia é um determinante fundamental da saúde cardiovascular. Menos de 5000 passos/dia definem um indivíduo sedentário, portanto recomenda-se o dobro para melhorar o prognóstico cardiovascular. Está provado que os incentivos que estes dispositivos dão aos seus utilizadores para aumentar a atividade física resultam, ou seja, a pessoa tende a gastar mais energia para atingir os objetivos determinados pelas apps de saúde, como se de um jogo se tratasse.
Contudo, a vigilância contínua destes dados tem de ser feita com sensatez. Não raras vezes alguns utilizadores ficam muito ansiosos com as medições efetuadas. Há que realçar que as variáveis biológicas, tal como o nome indica, variam constantemente. É fundamental que o utilizador conheça as potencialidades, fontes de erro, e objetivos da monitorização que está a ser feita, pelo que é indispensável esclarecer todos estes pontos com o seu médico assistente.
Um artigo do médico Manuel Oliveira Santos, especialista em Cardiologia e membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.
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