A saúde deve sempre ser considerada de forma ampla e como um reflexo de bem-estar bio-psico-social. Apesar disso, muitas vezes, caímos no erro de olhar para a saúde física sem esta perspectiva global, o que - inevitavelmente - coloca de parte a variável emocional essencial à compreensão de uma situação de doença.

O nosso mundo emocional muitas vezes não tem espaço para se expressar ao nível psicológico, pois é muito comum reprimirmos e controlarmos as nossas emoções. No entanto, é indiscutível que as nossas emoções têm de sair de dentro de nós. Qquando não lhes damos espaço para se expressarem através do psicológico, acabam por se expressar de forma física, seja através de tiques, por exemplo, seja através da doença, num fenómeno a que chamamos de somatização.

Um medo ou uma ansiedade à qual não prestamos atenção pode acabar por ser expressar através de um distúrbio gastrointestinal. Ou, por sua vez, a raiva contida a longo prazo pode acabar por se expressar através de uma alergia dermatológica. Ou a tristeza e a preocupação, quando ignoradas, podem expressar-se através de tonturas ou dores de cabeça.

Tudo isto são exemplos de como o nosso corpo procura a saída da somatização, quando rejeitamos os sinais das nossas emoções.

Em suma, em termos práticos, é absolutamente imprescindível olhar para um sinal ou um sintoma (físico ou comportamental) como parte de um processo emocional, identificar a sua função expressiva e adaptativa e os fatores que a desencadearam. Pois, regra geral, a manifestação física - quer de saúde, quer de doença - representa a parte visível que envolve corpo, pensamento, emoções e comportamentos.

 

Por tudo isto, é importante frisar que urge na atual compreensão das doenças físicas uma integração da forma como os fatores emocionais e psicológicos podem desencadear o desequilíbrio funcional do organismo físico, devendo a saúde ser considerada de forma global e os cuidados de saúde alinharem o físico e o psicológico, para que uma intervenção possa ter sucesso a longo prazo.

Nunca nos podemos esquecer que as relações entre fatores psicológicos e doença física - seja ela de que índole for - assumem sempre um caminho bi-direccional, que exige uma resposta nos dois sentidos.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.