Aos 38 anos, Alfred Wong ofereceu-se como voluntário para se juntar à equipa médica que trata as pessoas infetadas pela nova pneumonia viral e que estão isoladas num dos principais hospitais de Hong Kong. Para Wong, é uma forma de evitar trabalhar daqui a uns meses e, dessa forma, assistir ao nascimento da sua filha, previsto para abril.

Por enquanto, para evitar qualquer risco de contágio, limita ao máximo os contactos com a família. "Tudo o que posso fazer é proteger-me e ficar longe de todos, da minha família e dos meus amigos", explica à AFP.

Recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS)

  • Caso apresente sintomas de doença respiratória, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.
  • Evitar o contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas; evitar o contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto direto com pessoas doentes, com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir;
  • Evitar o contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Adotar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo);
  • Seguir as recomendações das autoridades de saúde do país onde se encontra.

Desde que se juntou a esta equipa médica no início de fevereiro, Wong dorme num hotel perto do hospital e, para minimizar qualquer risco de contaminação, rapou o cabelo.

"O melhor presente que lhes posso dar é, talvez, continuar a ser um marido vivo", observa, enquanto coça as mãos já irritadas pelas lavagens frequentes.

Wong planeia celebrar o dia de hoje, Dia dos Namorados, com a esposa, mas no restaurante que escolheu vão sentar-se em mesas diferentes. Como ele, centenas de médicos e enfermeiros de Hong Kong vão ficar separados das suas famílias por causa do novo coronavírus, que já fez quase 1.400 mortos na China continental.

Em Hong Kong, território chinês semiautónomo, foram registados 53 casos de contaminação e uma morte.

Material limitado

Embora os números em Hong Kong pareçam muito baixos em comparação com os casos da China continental, o pessoal médico vive sob grande pressão nos hospitais, já por si sobrecarregados nesta metrópole de 7 milhões de habitantes.

Atualmente, nos hospitais públicos de Hong Kong, 60% das salas de isolamento estão ocupadas por pessoas portadoras do novo coronavírus ou com essa suspeita.

"Precisamos de visitar cada paciente duas vezes por dia e temos três reuniões diárias com nossa equipa para avaliar a situação de cada um", diz o médico.

Veja em baixo o mapa interativo com os casos de coronavírus confirmados até agora

Se não conseguir ver o mapa desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, siga para este link.

A falta de material de proteção individual - máscaras, óculos, luvas - traz ainda mais pressão ao já forte impacto psicológico. As autoridades de Hong Kong reconheceram ter apenas um mês de reserva de máscaras para o pessoal médico e estão a tentar importar mais, mas o contexto internacional é de escassez.

As associações de médicos estão preocupadas, afirmando que, à taxa de utilização atual, essas reservas podem esgotar-se antes do esperado.

Alguém deve fazer este trabalho e nós somos as pessoas treinadas para isso

Milhares de médicos entraram em greve no início de fevereiro para exigir o encerramento total da fronteira com a China. Agora, quase todos os pontos de trânsito estão bloqueados e qualquer viajante vindo da China continental deve ficar isolado duas semanas.

Alfred Wong
Alfred Wong Alfred Wong à saída do seu hospital em Hong Kong créditos: AFP

Wong admite não se ter juntado a esse movimento, que, no entanto, apoiou. Por outro lado, lamenta que o governo não se tenha preparado melhor para esta epidemia, pois, segundo ele, "a história repete-se".

Em 2003, 299 pessoas morreram em Hong Kong vítimas da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), causada por outro coronavírus. Oito funcionários de saúde estavam entre as vítimas, incluindo um jovem médico do hospital onde Wong trabalha agora.

Wong, que era estudante de medicina na época, diz que não sabe se não se arrependerá de ser voluntário nesta dura missão. Mas, para ele, uma coisa é certa: "Alguém deve fazer este trabalho e nós somos as pessoas treinadas para isso".