Cristina Vaz de Almeida: Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde; Doutora em Ciências da Comunicação — Literacia em Saúde. Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde. Diretora da pós-graduação em Literacia em Saúde. Membro do Standard Committee IHLA — International Health Literacy Association.
A comunicação em saúde é como a tesoura que pode com cuidado a árvore da alfabetização em saúde: ajuda a moldar, ajustar e fortalecer o conhecimento das pessoas. Para cumprir esse papel, deve ser claro, acessível, construtivo, empático e orientador. No entanto, falhas frequentes — seja na comunicação pública ou privada, individual ou coletiva.
Por vezes, a forma como a informação em saúde é transmitida parece quase uma abordagem não solicitada. Tal como numa OPA (oferta pública de aquisição) hostil — em que uma empresa tenta assumir o controlo de outra sem o seu consentimento —, a má comunicação exige-se sem diálogo, sem preparação, e gera resistência.
De acordo com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, uma OPA hostil diz respeito a uma oferta que não é solicitada, não é previamente conhecida pelo Conselho da Administração da sociedade visada e não é bem recebida. Este tipo de oferta é realizado normalmente por empresas concorrentes da sociedade visada.
A analogia aplica-se: os cidadãos são frequentemente alvo de mensagens técnicas, mal explicadas, que não compreendem, mas das quais se espera que se aposentem complementares e ajam em conformidade. Em quase 60% dos casos acaba por falhar na compreensão dos vários e complexos meandros da saúde. Os números de pessoas com baixa alfabetização em saúde aumentam: cerca de 50% da população não consegue compreender a linguagem técnica da saúde.
Este cenário é particularmente visível em todas as faixas etárias: dos mais jovens aos mais velhos, muitos se sentem invadidos por imposições mal comunicadas, que geram confusão e desconfiança. A desconfiança leva também à falta de adesão.
Transformar a comunicação em saúde numa ferramenta de literacia em saúde eficaz é essencial para promover a saúde, prevenir doenças e garantir cuidados adequados. Para isso, é necessário um esforço conjunto e coordenado.
Sociedades científicas, ordens profissionais, associações de pacientes, jornalistas especializados, universidades e outros agentes devem preparar-se melhor. Precisam de comunicar com mais empatia, simplicidade e foco nas necessidades reais das pessoas, evitando que a má comunicação continue a funcionar como uma OPA hostil ao direito à saúde.
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