“O serviço de apoio ao domicílio ainda não é uma realidade a que os portugueses recorram frequentemente, apesar de a maioria dos inquiridos – 57% - considerar ser uma alternativa ao internamento hospitalar em caso de necessidade”, referem as conclusões do inquérito que são hoje apresentadas numa conferência sobre Hospitalização Domiciliária que decorre em Lisboa.
Embora a esmagadora maioria dos inquiridos (quase 90%) tenha já ouvido falar de serviços de hospitalização domiciliária, apenas 15% indicou recorrer a serviços médicos ou de enfermagem ao domicílio para tratar de doenças crónicas.
Quanto à Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, mais de 75% considera que é atualmente insuficiente para as necessidades e que o acesso à rede é difícil, segundo as conclusões do estudo que foi elaborado por uma empresa privada do setor da saúde e da indústria farmacêutica, com base em 750 questionários feitos entre junho e outubro deste ano.
O inquérito concluiu ainda que quatro em cada dez inquiridos diz não ter disponibilidade para cuidar de familiares ou amigos próximos que optassem por um modelo de hospitalização domiciliária, sobretudo devido à sua ocupação profissional.
Aliás, 98% dos inquiridos indica que os cuidadores informais deviam receber apoio, seja através de maiores compensações ou facilidades na atividade laboral ou através de meios financeiros.
Há cerca de um mês, a ministra da Saúde anunciou que o Governo quer alargar a hospitalização domiciliária a todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Atualmente existem cerca de 20 hospitais com esta resposta, que permite aos doentes que estariam internados recuperar em casa de uma doença aguda, recebendo cuidados hospitalares.
Em entrevista à agência Lusa a propósito dos 40 anos do SNS, no dia 15 de setembro, Marta Temido avançou que o objetivo é que todos os hospitais do sistema, perto de meia centena, tenham “a hospitalização domiciliária como resposta na sua carteira de serviços”.
Segundo a ministra, há hospitais de “grande dimensão”, como o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, que ainda não têm este projeto, que teve como hospital pioneiro o Garcia de Orta, em Almada.
Sobre a aceitação desta medida por parte dos doentes, a ministra afirmou que tem sido de “enorme satisfação”.
“Aquilo que temos ainda de uma forma empírica, e não resultado de um período de avaliação medido em inquéritos de satisfação, são reportes individuais que revelam uma enorme satisfação”, sublinhou.
Por outro lado, os profissionais também mostram “uma grande apetência” por entrarem nestes projetos, que são de “alguma forma um estímulo” ao seu trabalho.
Este modelo, adiantou a ministra, veio romper com o paradigma instituído há 40 anos, que assentava na criação de mais camas nos hospitais.
“As expectativas das pessoas mudaram, os cidadãos tornaram-se mais informados, mais exigentes e naturalmente que isso traz uma pressão para a própria capacidade de resposta e para a forma como temos que responder em termos de tempo, de qualidade que é muito distinta da que existia há 40 anos”, salientou.
Por isso, as respostas são hoje de outro tipo: “Nós queremos manter as pessoas nas suas casas e queremos que o hospital saia de portas para ir a casa das pessoas”, apontou.
A hospitalização domiciliária é exemplo disso. “É como se em poucos meses tivéssemos construído um pequeno hospital com cerca de 100 camas que hoje estão espalhadas na casa de muitos portugueses”, salientou Marta Temido, que foi na terça-feira reconduzida no cargo de ministra da Saúde.
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