Como se formam as novas estirpes?
As estirpes formam-se quando uma espécie sofre mutações significativas ou quando novas gerações se adaptam a condições ambientais apresentando novas características que passam aos descendentes.
É no fundo uma questão adaptativa dos vírus e é essa capacidade que lhe confere sobrevivência.
São esperadas outras mutações?
Uma vez que os vírus estão em constante mutação são então esperadas novas variantes.
Em relação ao vírus responsável pela COVID-19, sabemos neste momento que existem três variantes mais perigosas: a que surgiu no Reino Unido, a da África do Sul e a brasileira.
Quais as diferenças entre as três estirpes mais preocupantes?
As diferentes residem sobretudo na sua capacidade de causar infeção, uma vez que os indivíduos por elas infetados tendem a apresentar uma carga viral superior.
O que se sabe sobre a variante britânica?
A variante que surgiu no Reino Unido - B.1.1.7 - transmite-se mais facilmente (até cerca de 70% vezes mais) do que todas as outras variantes, uma vez que os infetados apresentam também uma carga viral superior. Foi identificada em setembro de 2020.
Inicialmente em Londres, chegou rapidamente a Portugal e já temos milhares de pessoas infetadas com esta estirpe. Sabemos também que é responsável por grande parte das novas infeções em Lisboa e Vale do Tejo e prevê-se que já afete mais de metade do total de novos infetados em Portugal. Tem uma mortalidade associada à doença grave superior em 30%.
Uma questão interessante desta estirpe, é que no Reino Unido infetou em proporção mais jovens dos 10-19 anos, do que adultos dos 60-69 anos. Isto é algo completamente novo e apoiou a decisão do encerramento das escolas.
O que se sabe sobre a variante sul-africana?
A do Sul de África chamada B1.351 foi originalmente detetada em outubro de 2020 e tem algumas mutações iguais às da inglesa. Talvez por isso também seja mais agressiva nos jovens.
Aliás, o Ministro da Saúde da África do Sul, Zweli Mkhize, revelou que a descoberta desta nova estirpe se deu quando se reparou que havia maior proporção de doentes mais jovens, sem comorbilidades e com doença grave.
Esta descoberta foi feita pela Universidade do KwaZulu-Natal (KRISP) que sequenciou amostras de todo o país. A África do Sul é o país do continente africano mais afetado pela pandemia.
Já foi detetado em Portugal pelo menos um homem com esta estirpe, que viajava da África do Sul.
E sobre a brasileira?
A brasileira, de Manaus, P.1, tem mutações adicionais que foram detetadas em dezembro de 2020.
Tem duas mutações que a tornam mais perigosa. Uma que a torna 50% mais transmissível e outra que parece defendê-la dos anticorpos que nós já possamos ter, permitindo uma reinfeção como se fosse uma nova infeção (parece que a da África do Sul também tem esta mutação).
Ainda não chegou a Portugal, mas é uma possibilidade a cada dia que passa. Em França já foram detetados quatro casos.
O que ainda não se sabe?
Ainda há várias coisas para explicar. Porque é que estas estirpes se transmitem mais rápido de pessoa para pessoa?
Será que respondem da mesma forma à terapêutica que as outras estirpes de COVID-19?
Será que alteram a efetividade da vacina?
O melhor mesmo é ficarmos resguardados. Por enquanto, a comunidade científica aguarda novos artigos com novidades sobre estas estirpes.
Como proteger-me?
As recomendações para se proteger das novas variantes são exatamente as mesmas utilizadas para o vírus inicial.
- Use máscara em espaços públicos fechados e na rua quando não for possível manter o distanciamento físico;
- Lave as mãos frequentemente;
- Evite tocar nos olhos e na cara;
- Espirre e tussa para a dobra do cotovelo;
- Descarte com segurança os lenços que usar para se assoar ou espirrar;
- Mantenha o distanciamento social;
- Mantenha-se em teletrabalho;
- Conviva em bolha e de preferência apenas com os membros do seu agregado familiar.
As explicações são da médica Ana Isabel Pedroso, Assistente Hospitalar de Medicina Interna no Hospital de Cascais.
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