“Nós temos um problema gravíssimo de envelhecimento. As pessoas que estão muitas vezes internadas e a quem teimam em chamar casos sociais não são casos sociais. São pessoas que não estão em doença aguda e, portanto, poderiam ter alta do hospital, mas que precisam na mesma de cuidados de saúde 24 horas por dia, sobretudo de enfermagem”, adiantou hoje à Lusa, após ter-se reunido com a administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN).
Para Ana Rita Cavaco, a situação, que também acontece em outras unidades hospitalares do país, “tem a ver com as decisões (…) que o Governo não toma”.
“As pessoas vêm à urgência porque é o único sítio que encontram com uma porta aberta 24 horas”, realçou, sustentando que “esses cuidados não podem ser prestados em lares”.
“Depois é aquilo que vemos nas notícias, que as pessoas estão ao abandono, porque não há enfermeiros nesses lares e aqueles que há são um número muito reduzido de horas (…). Isto exige medidas urgentes, estruturais, cuidados de proximidade. Eu tenho de ter as equipas dos centros de saúde, dos cuidados domiciliários uma vez por todas a funcionar 24 horas por dia, [mas] não tenho”, acrescentou.
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros disse ainda que a administração do CHULN está a tentar dar resposta, como os outros hospitais, “libertando mais camas” e “fazendo uma gestão de altas”.
“Aqui no [Hospital de] Santa Maria temos um problema grave, que é termos algumas camas disponíveis no internamento e os doentes permanecerem na urgência internados”, indicou.
Ana Rita Cavaco lembrou também que os “hospitais são dos doentes”, criticando a forma como são geridos os recursos humanos no CHULN.
“Isto é um centro hospitalar que detém o Hospital Pulido Valente e que detém o Hospital de Santa Maria. Da mesma forma que os enfermeiros têm de se adaptar e trabalham por turnos e, muitas vezes, têm de ir prestar serviço ao hospital Pulido Valente, os outros profissionais, nomeadamente os médicos, também têm de o fazer”, acrescentou.
Na terça-feira, após uma visita ao Serviço de Urgência Geral do Hospital Fernando Fonseca, que serve os concelhos de Amadora e Sintra, Ana Rita Cavaco defendeu que são precisas soluções para os doentes que precisam de cuidados, mas já não estão em doença aguda.
“As administrações gostam de chamar casos sociais. Na verdade, não são casos sociais. São pessoas que não estão em doença aguda, têm condições para ter alta do hospital, mas precisam de cuidados de enfermagem, sobretudo de cuidados de saúde, 24 horas por dia e isso não é compatível com um lar, porque os lares da Segurança Social não têm essa função”, defendeu.
A bastonária revelou que neste momento há lares da Segurança Social que têm 90% de doentes acamados, o que significa que já não são lares, mas deviam antes pertencer à rede de cuidados continuados.
“Os espaços de cuidados continuados são muito poucos e o que nós temos de fazer enquanto país e que o governo tem de se preocupar rapidamente é com esta questão do envelhecimento e repensar a rede de cuidados continuados em conjunto com a Segurança Social”, defendeu.
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