“As farmacêuticas foram financiadas com dinheiro público para desenvolver a vacina, já ganharam muito dinheiro com todas as encomendas dos países mais ricos do mundo”, afirmou, alertando: “Está mais do que na altura de garantirmos que a vacina chegue a toda a gente e que chegue aos países mais pobres.”
Catarina Martins falava aos jornalistas no Funchal, após uma reunião com o reitor da Universidade da Madeira, na sequência de uma visita de poucas horas à região autónoma.
“O nosso maior problema neste momento com a pandemia não é a vacinação das crianças, é o facto de haver sítios do mundo onde não chegam vacinas e haver novas variantes”, disse a coordenadora do BE, numa altura em que Direção-Geral de Saúde não tinha ainda emitido qualquer recomendação sobre a vacinação de crianças entre os cinco e os 11 anos.
Na Madeira, porém, o Governo Regional (PSD/CDS-PP) já indicou que prevê começar a vacinar as 14.715 crianças entre os cinco e os 11 anos a partir de 14 de dezembro, um dia depois de receber a primeira tranche do total 25% das vacinas adquiridas por Portugal, estando previsto chegar à região cerca de 17.500 doses até ao final do ano.
“Felizmente que Portugal é uma democracia, em que a vacinação, embora seja um apelo que fazemos de segurança para todos, é também uma decisão das pessoas”, disse Catarina Martins, reforçando: “Acho que os pais e as mães poderão decidir na Madeira de acordo com o que for a opinião dos especialistas e julgo que isso será o mais sensato.”
A coordenadora do Bloco de Esquerda avisou, no entanto, que o Governo Regional já tomou “decisões contraditórias” e algumas sem “respaldo constitucional” no âmbito do combate a pandemia de covid-19.
“Felizmente Portugal é uma democracia, com todo os mecanismos de equilíbrio de poderes e com todos os mecanismos também de as pessoas decidirem”, disse, acrescentando: “Espero que, na Madeira, como em todo o país, como em todo o mundo, se aceitem as orientações da saúde.”
Catarina Martins sublinhou que o combate à covid-19 exige, acima de tudo, medidas políticas que façam com que a vacina chegue a todo o mundo e, por outro lado, advertiu que a “evidência científica é que deve dirigir as opções”.
“As variantes [do SARS-CoV-2] estão a surgir porque há muitos sítios do mundo onde não há acesso à vacina, e nem as doações que Portugal e outros países prometeram fazer chegam a tempo, nem se libertaram as patentes para países que podiam ter capacidade de produzir vacinas e de as distribuir”, disse.
E reforçou: “Vamos aguardar com a maior serenidade, com a maior confiança sobre o que dirão as autoridades de saúde sobre a vacina [administrada em crianças], mas não podemos deixar, do ponto de vista político, de voltar a alertar para a necessidade de Portugal defender a quebra das patentes, para garantir que em todo o mundo há vacinas.”
Comentários