Na interpelação ao Governo requerida pelo CDS-PP, no parlamento, sobre a gestão da pandemia no pós-estado de emergência, a socialista Ana Catarina Mendes trouxe a debate o tema do evento que decorreu no fim-de-semana, criticando a “incoerência das bancadas à direita”.
“Quando a DGS [Direção-Geral da Saúde] dá pareceres positivos a algumas manifestações de alguns partidos, há um clamor nesta câmara. Quando esta semana se assistiu a um arraial negacionista, irresponsável, com o parecer negativo da DGS o senhor deputado daquela bancada não tem nada a dizer”, apontou a líder parlamentar a Telmo Correia, do CDS.
Na resposta, o deputado democrata-cristão defendeu-se: “Há uma crítica que não encaixa de todo na minha bancada e no CDS, que é a afirmação de qualquer tipo de negacionismo porque é verdade, que houve na minha opinião, algum negacionismo nesta câmara”.
“Quando, por exemplo, algumas bancadas à esquerda e ao centro direita e à direita, votaram sistematicamente contra os estados de emergência estavam de alguma forma a negar a importância e a relevância da pandemia só que isso nunca aconteceu nem com a minha bancada nem com o CDS”, apontou.
Para Telmo Correia, “o problema aí é que abrir exceções para a política é sempre um erro, porque perde-se autoridade quando se permite à política o que não se permite aos outros”.
“E foi por isso que nós criticámos, não a organização, porque o PCP organizado é, mas a oportunidade da Festa do Avante!. E é por isso que aquilo que a IL fez este fim de semana, não só retira qualquer legitimidade da crítica que foi feita no passado, a quem a fez, como é igual em pior porque não teve sequer a capacidade de organização mais ou menos soviética que teve o PCP”, criticou.
Mas Telmo Correia foi mais longe, defendendo que “não é por reclamarmos da liberdade, que temos a liberdade como um exclusivo”.
“Doutrinariamente há uma diferença entre aquilo a que nós chamamos o livre arbítrio, que obviamente é o exercício da liberdade baseada num conceito de responsabilidade, com o puro individualismo. Porque o puro individualismo, o ‘eu posso fazer o que eu quero’, acaba por dar em negacionismo e pode comprometer obviamente outras pessoas e a vida de outras pessoas”, vincou.
Minutos mais tarde, João Cotrim de Figueiredo defendeu-se, atirando ao PS que “não vai funcionar essa tentativa de responsabilizar o arraial liberal por tudo o que se está a passar em Lisboa, porque não é um evento com centenas de pessoas ao ar livre que vai passar por cima da responsabilidade de eventos de milhares de pessoas não planeados”.
“Senhor deputado Telmo Correia, estou muito de acordo consigo, há vários tipos de negacionismo, e um deles é achar que é igual uma Festa do Avante! feita antes do Inverno com 0% da população vacinada e um arraial feito as portas do Verão com 43% da população vacinada, isso é negacionismo também. E se a única critica que encontra é não termos sido suficientemente soviéticos pois eu acho isso um grande elogio”, rematou.
Momentos mais tarde, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, também 'apontou o dedo' ao deputado único da Iniciativa Liberal: "Com todo o respeito, as festas populares pelo menos tiveram a oportunidade de mostrar o quanto podemos contar com a IL para o controlo da pandemia. Esperamos, por isso, no futuro uma maior responsabilidade, uma maior sensatez e um exercício diferente naquilo que são os seus direitos, obviamente, mas também são os seus deveres enquanto agente de saúde pública".
Apesar de a Câmara Municipal de Lisboa ter cancelado os festejos tradicionais dos Santos Populares e de as autoridades de saúde terem emitido um parecer desfavorável, a IL agendou um arraial comício no último fim-de-semana, ocupando o Largo Vitorino Damásio, em Santos, com dezenas de mesas, quiosques de venda de bebidas, assim como quatro generosos assadores para sardinhas e bifanas.
Em agosto de 2020, depois de o PCP ter decidido manter a realização da Festa do Avante, o presidente e único deputado da IL, João Cotrim de Figueiredo, apresentou na Assembleia da República um requerimento para que fosse divulgado na íntegra o parecer da Direção-Geral da Saúde (DGS)sobre aquela iniciativa.
No requerimento o presidente da IL alegava existirem “dois pesos e duas medidas em matéria de grandes eventos” e Portugal e que a realização da Festa do Avante colocava em causa “os sacrifícios dos últimos meses”, ao longo dos quais as regras de contenção da pandemia impediram a realização de festas.
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