A investigação, da qual fez parte o Laboratório Nacional de Computação Científica, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, constatou a possibilidade de que uma pessoa possa estar infetada por diferentes mutações do SARS-CoV-2 ao mesmo tempo.

A descoberta surgiu a partir de um estudo genético de amostras de 92 pacientes no estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, país que acumulava até quarta-feira 220 mil mortes e quase nove milhões de casos do covid-19, segundo dados oficiais.

Em pelo menos duas dessas amostras foram registados casos de infeção simultânea com diferentes linhagens do vírus, sendo um deles denominado E484K, mutação inicialmente encontrada na África do Sul.

Ainda não há evidências sólidas de que esse fenómeno represente um aumento da perigosidade relacionada à doença.

Esses dois pacientes coinfetados “tiveram um quadro de covid-19 leve a moderado e se recuperaram sem a necessidade de hospitalização” em novembro passado, enfatizaram os investigadores em comunicado.

No entanto, os cientistas afirmam que esse tipo de infeção simultânea é “preocupante” porque mistura genomas de diferentes variantes que, em última análise, podem resultar na evolução do vírus.

O estudo também identificou que no Rio Grande do Sul, quinto estado brasileiro com mais casos de covid-19, com 536.746 infetados e 10.512 óbitos, circulam “cinco linhagens” diferentes do novo coronavírus, sendo uma delas nova e denominada VUI – NP13L.

Também foi possível constatar a ampla disseminação naquela região, fronteira com Argentina e Uruguai, da variante E484K, que já havia sido encontrada no mês passado no Rio de Janeiro.

O E484K faz parte de um grupo de variantes do SARS-CoV-2 que estavam associadas ao aumento dos contágios, dado que parece aumentar o vínculo entre a proteína ‘spike’ do vírus e o recetor, afetando assim a neutralização dos anticorpos.

“Isso é preocupante, pois sabe-se que essa mutação pode estar associada a uma fuga de anticorpos formados contra outras variantes do vírus”, disse o professor Fernando Spilki, do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, que também participou na investigação.

Para Spilki, a disseminação do E484K é “mais uma evidência de que essas novas variantes podem causar problemas mesmo em pessoas que já têm imunidade prévia”.

Por outro lado, o Brasil também observa a evolução da nova variante detetada no estado do Amazonas, onde houve um aumento exponencial de infeções, que levaram novamente ao colapso de hospitais, com falta de cilindros de oxigénio para os seus pacientes.

A variante detetada na Amazónia foi identificada no início do mês pelas autoridades japonesas após análise realizada em quatro viajantes daquele país que percorreram o Amazonas, e posteriormente confirmada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), importante centro de investigação médica da América latina.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, casos dessa variante detetada na Amazónia já foram registados em oito países.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.176.000 mortos resultantes de mais de 100 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.