O único caso existente naquele concelho do distrito de Portalegre foi detetado na quarta-feira a uma jovem do concelho, mas que estuda em Évora.
Maria de Jesus é proprietária de um café no largo do município e, em declarações á agência Lusa, explicou que as pessoas que residem naquela vila alentejana estão “mais preocupadas” com a evolução da pandemia, não existindo movimento nas ruas e no comércio ao final do dia.
“As pessoas estão mais preocupadas, sente-se e vê-se de manhã, à hora de almoço e depois, para o lado da tarde, as pessoas deixam de aparecer, estão mais resguardadas”, disse.
Para a comerciante, o “segredo” do reduzido número de casos no concelho passa pelo pouco movimento existente e pelas “precauções” tomadas pelos habitantes.
“Não há muito movimento, mesmo no verão não houve aquele movimento que havia com as festas do verão, vários eventos que havia e não houve, e também acho que isso contribuiu para não haver casos”, acrescentou.
Já no centro da vila, António Ferreira, que também dirige um café, revela à Lusa que a população vai fazendo uma “vida normal”, tentando cumprir com as regras que os “comandantes disto” vão indicando.
O comerciante, que não se “queixa” da falta de clientes como sucedeu na “anterior crise financeira” alerta, no entanto, que este “bicho” [covid-19] impõe “um bocado respeito” e que “estamos a brincar com a morte”, perante um “inimigo invisível” que “mudou” o mundo.
O concelho de Fronteira tem cerca de 3 mil habitantes, a maioria da população é envelhecida e no lar da Santa Casa da Misericórdia todos os cuidados são poucos para que o “bicho” não entre naquele espaço.
“O que nós temos feito tem sido, `ao fim e ao cabo´, o que todas as outras instituições também fizeram: limitámos o acesso dos fornecedores, os nossos colaboradores têm sido estimáveis na colaboração, de eles próprios se prevenirem e evitarem os contágios, e isso julgo que é o fundamental. Quem trabalha com os idosos tenha o máximo de cuidado na sua vida social para que não transporte o vírus para dentro do lar”, explicou à Lusa o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fronteira, Jaime Teles.
O responsável, que enalteceu a ação do município logo no início da pandemia, com a distribuição de equipamentos individuais de proteção e a colaboração que tem existido ao longo dos tempos entre as diversas entidades no combate ao vírus, relatou ainda que, no interior da instituição, com 70 utentes, o ambiente é “tranquilo”.
“Os lares hoje cada vez mais têm pessoas mais dependentes e algumas com algumas dificuldades já cognitivas, mas aqueles mais conscientes estão bem, nós temos tentado levar-lhes atividades com animação sociocultural para que se sintam bem e, portanto, o ambiente é tranquilo”, disse.
Jaime Telles explicou ainda que as visitas dos familiares e amigos aos utentes são efetuadas no exterior, permanecendo os visitantes num alpendre e os utentes “atrás de uma janela”.
Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Fronteira, Rogério Silva, elogia o comportamento da população que desde o início e de forma célere “conseguiu assimilar” todo este problema, tendo sido “sensível” no acolhimento das recomendações que eram indicadas pelas autoridades.
Este comportamento, segundo o autarca, obteve resultados que “acabam por ter expressão”, uma vez que passados vários meses desde o início da pandemia só agora surgiu o primeiro caso naquela comunidade.
“Eu creio que não há um segredo maior. Aquilo que nós fomos aprendendo ao longo do tempo é que é importante comunicar, é importante sensibilizar, é importante reforçar essa sensibilização, mas eu, sinceramente, aquilo que eu entendo e os resultados até agora de toda esta situação deve-se, essencialmente, ao comportamento de cada um de nós e, felizmente, a população de Fronteira tem assumido esse comportamento”, acrescentou.
Rogério Silva sublinha ainda que tem observado um “recato maior” por parte da população, que está a “combater um inimigo invisível” e que “conhece mal”.
Por último, o autarca apontou como um dos “segredos” para o reduzido número de casos no concelho a gestão efetuada pelo município neste processo, tendo a mesma passado pelo “grande contacto e a grande proximidade”, bem como pela “troca de informação” com as instituições de solidariedade social, bombeiros, agrupamento de escolas, forças de segurança e autoridades de saúde.
“Mantivemos sempre um contacto muito próximo e esse contacto muito próximo acabou por ter efeitos”, concluiu.
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