Outra conclusão do “Barómetro Covid-19: Opinião Social”, apresentada hoje pela diretora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP-NOVA) na reunião de peritos para avaliar a “situação Epidemiológica em Portugal”, aponta que 83% consideram que a covid-19 teve impactos negativos nas suas vidas e das suas famílias e na saúde mental.
“Importa frisar que a dimensão das relações sociais foi precisamente aquela em que foram reportados mais impactos negativos da pandemia, com potenciais efeitos a médio-longo prazo”, disse Sónia Dias citada num comunicado da ENSP-NOVA.
Para a coordenadora do estudo, “o suporte social constitui um importante fator de amortecimento de impactos negativos em contextos de crise pelo que é importante reforçar estratégias promotoras da coesão social e do bem-estar individual e coletivo”.
No centro das preocupações para 66% dos inquiridos está a recuperação dos efeitos negativos nas relações com familiares e amigos, que se traduziram num maior isolamento e redução dos contactos.
Um terço dos participantes reportou um agravamento da saúde mental, incluindo sofrimento psicológico (ansiedade e depressão), embora uma pequena minoria tenha relatado uma maior sensação de bem-estar e qualidade de vida.
“De facto, o que é apontado como um contexto de adversidade pela maioria, parece ter-se traduzido numa oportunidade para alguns: a obrigatoriedade de teletrabalho e os períodos de confinamento, que representaram para a maioria uma elevada sobrecarga, cansaço e fator de stress, para outros permitiram estreitar laços familiares e passar mais tempo de qualidade com a família, potenciando o bem-estar e a saúde”, refere a ENSP.
Segundo Sónia Dias, “são os participantes com menores rendimentos quem mais reporta um impacto negativo na sua saúde física, situação económica e profissional”.
“Estes dados confirmam os impactos desiguais da pandemia de acordo com as circunstâncias de vida das pessoas, apontando um agravamento de situações de vulnerabilidade socioeconómica”, salienta.
No momento atual, 65% dos participantes no estudo considera ter risco moderado ou elevado de ficar infetado com covid-19, sendo que uma em cada três pessoas perceciona risco baixo ou nulo, sobretudo homens, grupos etários mais jovens e pessoas com mais de 65 anos.
Apesar da perceção de risco reportada, 69% referem estar pouco ou nada preocupados com a covid-19.
Os participantes mostram-se mais preocupados com a saúde mental (55%), com o acesso a cuidados de saúde de rotina (50,9%) e de urgência (60%) do que com aspetos como a covid-19 ou outras doenças respiratórias.
O inquérito revela ainda que maioria dos participantes já tomou (26%) ou pretende tomar o reforço da vacina (44%), sendo que é entre os mais jovens e com maior nível de escolaridade que se verifica uma maior percentagem de hesitação (22% do grupo 16-25 anos não pretende tomar a vacina).
Por outro lado, verifica-se que a maioria dos participantes (79%) recomenda a vacinação a pessoas próximas que façam parte de grupos de risco.
“Num contexto de normalização da infeção, poderá haver alguma tendência para atribuir importância à vacinação apenas no caso de grupos mais vulneráveis”, salienta Sónia Dias.
Mantendo o compromisso de monitorizar as perceções da população ao longo dos quase três anos da pandemia, a ENSP-NOVA atualizou a recolha de dados, junto de mais de três mil participantes, para compreender como se posiciona a população na fase atual de evolução da pandemia.
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