"Quero deixar bem claro o meu desagrado, porque o que aconteceu entre 16 de março e 30 de junho não pode voltar a repetir-se porque foi um erro crasso. As fronteiras não podem encerrar da maneira como encerraram", afirmou hoje à agência Lusa o social-democrata Manuel Lopes.
O autarca, que reagia a uma eventual nova limitação à mobilidade entre os dois países, no âmbito da avaliação à evolução da covid-19 que os governos dos dois países vão fazer nos próximos dias, admitiu a implementação de medidas de controlo da pandemia causada pelo novo coronavírus, mas recusou a reposição de fronteiras, no caso de Valença com a cidade galega de Tui.
As duas cidades separadas por apenas 400 metros, servidas por duas pontes sobre o rio Minho e que, em 2012, formalizaram a eurocidade Valença e Tui, lideram o tráfego rodoviário diário entre os dois países com 15.741 veículos.
"Que haja controlo nas fronteiras, tudo bem. Que haja controlo das pessoas oriundas de zonas com surtos de covid-19, tudo bem, mas encerrar as fronteiras a povos vizinhos, como nós, que não vivemos o nosso dia-a-dia uns sem os outros, seria um desastre financeiro e psicológico. O corte das fronteiras entre março e junho afetou muito a nível psicológico as pessoas dos dois lados do rio Minho", reforçou Manuel Lopes.
O presidente da Câmara de Caminha, Miguel Alves, admitiu que esse cenário lhe causa "muita apreensão", considerando que o fecho das fronteiras não seja a "solução" para travar o aumento de casos de infeção nos países vizinhos.
"O número de infeções está a crescer nos dois lados da fronteira, mas não estou convencido que o seu encerramento seja a solução. A vida está a regressar com a normalidade possível às escolas, às empresas, às ruas. A relação entre os povos irmãos pode ter mais regras, algumas limitações, mas não me parece que fechar fronteiras seja uma solução. Se acontecer, metade da atividade comercial tradicional vai ao charco", reforçou o autarca socialista.
A ligação entre a vila portuguesa de Caminha e o município galego de La Guardia é assegurado pelo ‘ferryboat' Santa Rita de Cássia.
Para o presidente da Câmara de Melgaço, concelho ligado a Arbo, na Galiza, por uma travessia internacional, avançar novo encerramento de fronteiras "será muito mau para os dois lados do rio Minho".
"Os municípios da raia irão sofrer imenso, novamente", frisou o socialista Manoel Batista.
A Lusa questionou ainda os presidentes das Câmaras de Vila Nova de Cerveira e Monção, mas ainda não obteve resposta.
De acordo com dados recentes do Observatório Transfronteiriço Espanha-Portugal, dos 60 pontos existentes entre ambos os países, os de Valença-Tui, Cerveira-Tomiño e Monção-Salvaterra do Minho estão entre os seis com maior fluxo de tráfego transfronteiriço, somando, entre as três, mais do 50% do trânsito de veículos".
Na terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros português afirmou que vai abordar a evolução da pandemia de covid-19 em Portugal e Espanha com a homóloga espanhola na sexta-feira, destacando o trabalho "de forma muito coordenada" entre os dois países.
"Eu terei o prazer de receber a minha colega espanhola [Arancha González Laya] na próxima sexta-feira, dia 18. Teremos depois a cimeira bilateral entre os dois países, no dia 02 de outubro, e, naturalmente, essas são oportunidades para nós trocarmos informação sobre o modo como estamos a acompanhar a evolução da pandemia e das medidas que todos estamos a tomar para combatê-la", disse à Lusa Augusto Santos Silva.
O ministro dos Negócios Estrangeiros acrescentou que tem havido um trabalho "de forma muito coordenada com as autoridades espanholas".
Questionado sobre a necessidade de uma eventual nova limitação à mobilidade entre os dois países, depois de as autoridades espanholas terem anunciado, na segunda-feira, 27.404 novos casos desde sexta-feira, Augusto Santos Silva sublinhou que as decisões recaem sobre os ministros da Administração Interna de Portugal e do Interior de Espanha.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 936.095 mortos e mais de 29,6 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.878 pessoas dos 65.626 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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