“Em particular, países em desenvolvimento, onde este encaminhamento apropriado dos resíduos hospitalares não tem lugar. Já existe informação muito recente que demonstra que estes resíduos estão a chegar em grande quantidade aos oceanos”, disse à agência Lusa Francisco Ferreira.
O especialista falava a propósito do alerta lançado hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a “necessidade extrema” de se melhorar a gestão de resíduos, face ao aumento de milhares de toneladas de resíduos médicos resultantes da pandemia de covid-19.
“É uma preocupação que a OMS levanta porque a pandemia afetou-nos à escala mundial e os países que não conseguem fazer a triagem e o tratamento adequado dos resíduos acabam por ter um impacto em termos de saúde e também no ambiente muito considerável”, afirmou.
Francisco Ferreira lembrou que Portugal tem um sistema que encaminha estes resíduos hospitalares, seja para tratamento e depois para aterro seja para incineração, quando têm maior perigosidade, mas diz que era preciso um maior investimento na redução e na reutilização.
“Não fazemos ainda, em muitos casos, o investimento que achamos que seria possível na redução e reutilização de alguns destes materiais, que poderiam ser substituídos”, disse o especialista, acrescentando: “É um esforço não apenas da pandemia, mas sistemático, desde há muitos anos, para diminuir produção de resíduos hospitalares”.
Além dos resíduos hospitalares, aponta outra vertente do problema dos resíduos relacionados com a pandemia, que são os produzidos pela população em materiais de proteção e testagem.
“Aí não é um problema apenas dos países em desenvolvimento, mas também em Portugal, onde as máscaras continuam infelizmente a estar presentes nas ruas, na paisagem, e também acabam por, depois de serem arrastadas pelo vento e pela chuva para as linhas de água, chegar aos oceanos”, afirmou.
Sublinhou a necessidade de a população colocar este tipo de resíduos junto dos resíduos indiferenciados e disse que muitos até poderiam ser entregues nas farmácias, como os que resultam dos auto-testes.
“O caso das máscaras é o mais visível. Deveriam estar a ser encaminhadas sempre para os resíduos indiferenciados e nunca serem deitadas fora, nas ruas, como infelizmente acaba por acontecer, marcando a paisagem que temos”, concluiu.
Francisco Ferreira adiantou que a Zero tem feito um grande apelo para o uso de máscaras não descartáveis, que têm um período de vida e cuidados de lavagem, mas permitem poupar o ambiente em termos de produção de resíduos, mas reconhece que a maioria opta por máscaras descartáveis.
“Provavelmente por receio da nova variante e também pela falta de informação e sensibilização para o uso de máscaras reutilizáveis devidamente certificadas”, explicou.
“Aí depende daquilo que é a atitude e responsabilidade de cada um em colocar as descartáveis nos resíduos indiferenciados”, acrescentou
O dirigente da Zero aponta ainda dois movimentos contrários com a pandemia: por um lado, o teletrabalho e o maior período de tempo passado em casa fez aumentar a produção de resíduos e, por outro, a quebra na atividade turística nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, fez cair a quantidade de resíduos produzidos para níveis abaixo da situação em pré-pandemia.
“No equilíbrio, acabamos por ter reduções de produção resíduos em relação ao que tínhamos”, disse.
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