Qual a dimensão do problema?
Morrem por ano mais de 8 milhões de pessoas por doenças associadas ao tabaco, das quais cerca de 1,2 milhões por exposição ao fumo ambiental.
Dados de 2019 da Direção Geral da Saúde revelam-nos que, em Portugal Continental, 16,8% da população com 15 ou mais anos era fumadora.
Quais as consequências do tabagismo para a saúde?
Em 2019 morreram mais de 13.500 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco.
Cerca de 70 substâncias do fumo do tabaco estão identificadas como podendo provocar cancro em diferentes localizações.
Todas as formas de tabagismo contribuem para as principais doenças não transmissíveis (respiratórias, cardíacas, diabetes); diminuem a imunidade; aumentam o risco de infeções respiratórias; diminuem a fertilidade e agravam o risco de complicações perinatais.
A exposição ao fumo passivo também aumenta o risco de doenças, não existindo um limiar seguro de exposição.
Quais as novas formas de consumo de tabaco e suas consequências?
O cigarro eletrónico é um dispositivo operado por uma bateria que produz um aerossol (vapor), que normalmente contém nicotina, solventes, aromas e outros aditivos.
Os produtos de tabaco aquecido são dispositivos eletrónicos compostos por uma bateria que aquece um stick de tabaco processado de forma a criar um aerossol que depois é inalado.
Tem-se vindo a acumular evidência que mostra que o vapor emitido por estes dispositivos contém numerosas substâncias tóxicas e carcinogéneas pelo que não são seguros; mesmo os líquidos sem nicotina, devido à presença de aromatizantes, podem, também, ser nocivos para a árvore respiratória.
Não são aconselhados na cessação tabágica, visto que muitas pessoas que tentaram deixar de fumar com recurso, por exemplo, aos cigarros eletrónicos mantêm o seu consumo indefinidamente ou voltaram a consumir outros produtos do tabaco em simultâneo.
Quais os benefícios de deixar de fumar?
Em média, as pessoas fumadoras morrem cerca de 10 anos mais cedo do que as pessoas que nunca fumaram.
Parar de fumar tem benefícios imediatos e a médio e longo prazo:
Após 20 minutos: a pressão arterial e a frequência cardíaca voltam ao normal;
Após 12 horas: os níveis de monóxido carbono no sangue voltam ao normal;
Após 2 semanas a 3 meses: o risco de enfarte do miocárdio diminui; o olfato e o paladar melhoram;
Após 1 a 9 meses: sente um aumento gradual do bem-estar geral; a tosse e a falta de ar diminuem;
Após 1 ano: o risco de ataque cardíaco diminui para cerca de metade do observado nas pessoas que continuam a fumar;
Após 2 a 5 anos: o risco de AVC diminui; o risco de cancro da boca, da garganta, do esófago e da bexiga reduz-se para metade;
Após 10 anos: redução de 50 % do risco de ter um cancro do pulmão do que as pessoas que continuam a fumar;
Após 15 anos: o risco de doença coronária é semelhante ao de uma pessoa não fumadora.
Por onde deve começar para deixar de fumar?
A ajuda especializada para a cessação tabágica através do apoio comportamental e tratamento farmacológico quadriplica a taxa de sucesso.
A intervenção intensiva ou especializada, individual ou em grupo, requer uma abordagem mais demorada ao longo de várias sessões de cerca de 20 a 45 minutos, e é realizada por uma equipa multidisciplinar constituída por médico e enfermeiro e deve incluir ainda psicólogo e nutricionista, ao longo de vários meses, idealmente até um ano, apresentando uma taxa de sucesso de 25 a 40%.
Que tipo de tratamentos existem para deixar de fumar?
Os fármacos com benefício comprovado pertencem a três grupos: substitutos de nicotina (gomas, pastilhas, adesivo transdérmico); anti-depressivos e agonistas parciais dos recetores nicotínicos. Pode ainda ser útil associar ansiolíticos em doentes com elevados níveis de ansiedade.
A dependência do tabaco é um fenómeno complexo, pelo que a intervenção psicológica na cessação tabágica é muito importante.
Qual a relação entre tabagismo e cancro do pulmão?
O tabaco é o principal factor de risco para o cancro do pulmão sendo que entre 85% a 90% dos casos são detectados em fumadores.
O cancro do pulmão é uma das principais causas de morte oncológica, em parte, resultante do diagnóstico tardio por ausência de sintomas em fases iniciais da doença. A deteção precoce é, por isso, fundamental dado que pode proporcionar uma terapêutica eficaz e melhorar a sobrevivência.
O rastreio do cancro do pulmão não é ainda uma prática habitual a nível mundial. O exame que é considerado mais eficaz na deteção do cancro do pulmão numa fase precoce é conhecido como TAC de dose baixa. Assim, populações de risco, isto é, fumadores de longa duração e ex-fumadores, entre os 50 e os 75 anos de idade devem procurar realizar este exame e ter um acompanhamento regular pelo seu pneumologista.
Um artigo do médico José Carlos Carneiro, Pneumologista no Hospital CUF Porto.
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