Foi a 24 de março de 1882 que Robert Koch anunciou a descoberta da causa da tuberculose – o bacilo da Tuberculose (mycobacterium tuberculosis). Quase 140 anos depois, ainda há muito por fazer para erradicar a doença.
"A Tuberculose continua a ter consequências devastadoras a nível da saúde global, da economia e das condições sociais. De facto, em todo o mundo, a cada dia morrem cerca de quatro mil pessoas e vinte e oito mil adoecem devido a esta doença. Foram dez milhões de mortes em 2019", explica o pneumologista António Domingos, coordenador da Comissão de Trabalho de Tuberculose da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
O tema "The Clock is Ticking", ou "0 tempo está a passar" em tradução livre da língua inglesa, foi o escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para este ano de 2021.
"Portugal, com menos de vinte casos por cem mil habitantes, situa-se no limiar dos países de baixa incidência. Todavia, a diminuição sustentada do número de novos casos, ainda está aquém do desejado", adverte o médico.
"A demora entre o aparecimento dos sintomas (tosse persistente, febre ao final do dia e sudorese durante a noite, expetoração, cansaço, perda de peso, entre outros) e o estabelecimento do diagnóstico e início do tratamento, é responsável pelo prolongamento da transmissão e agravamento da doença", alerta o especialista. "Não devemos esquecer que o tratamento correto cura a doença", frisa.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico definitivo da Tuberculose é bacteriológico, exigindo a identificação do agente – Mycobacterium tuberculosis – nos tecidos ou líquidos biológicos (expetoração, secreções brônquicas, suco gástrico, líquidos pleural, ascítico, pericárdico, líquor, pús, urina, sangue ou fezes) atingidos pela doença.
Como é feito o tratamento?
O tratamento consiste na administração, por via oral, de antibacilares de 1ª linha, fornecidos gratuitamente no CDP.
No total, a duração mínima do tratamento da Tuberculose são seis meses, embora a duração seja decidida caso a casa pelo médico em função da gravidade e evolução clínica da doença, podendo atingir os 24 meses de terapêutica.
É fundamental o rigoroso cumprimento da terapêutica, sob pena de se criarem resistências aos antibacilares e se comprometer a terapêutica e possibilidade de cura da Tuberculose.
Como se previne?
O uso de máscara quer pelo doente, quer pelas pessoas que com ele convivem diminui a probabilidade de contágio, uma vez que limita o número de bacilos libertados e que impede a sua inalação.
Como o bacilo da Tuberculose é muito sensível à ação dos raios ultravioleta presentes na luz do sol, ao manter um determinado espaço arejado e exposto à luz solar, diminui-se o número de bacilos no ar.
A melhoria das condições de higiene, habitação e nutrição das populações, assim como o reconhecimento e o tratamento precoce dos doentes com Tuberculose são a melhor forma para de prevenir o contágio.
Como se transmite?
A Tuberculose transmite-se via inalatória. Ou seja, quando um doente com Tuberculose respira, fala, tosse ou espirra pode libertar no ar grandes quantidades de bacilos, que conseguem ficar suspensos no ar durante várias horas.
Quando inaladas por outro indivíduo, estes bacilos podem depositar-se nos pulmões.
Qual a diferença entre Tuberculose latente e Tuberculose doença?
Quando os bacilos inalados durante a inspiração alcançam e se depositam nos pulmões, pode ocorrer uma das seguintes situações:
- O indivíduo que inalou os bacilos consegue eliminá-los dos pulmões através das suas defesas naturais;
- O bacilo ultrapassa e vence as defesas naturais, causando o aparecimento de sintomas – Tuberculose doença;
- Após a inalação dos bacilos, estes podem permanecer no interior do organismo por longos períodos de tempo – Tuberculose latente. Isto significa que o indivíduo se encontra infetado pelo bacilo, mas não tem sintomas, não se encontrando doente.
O tratamento tem efeitos secundários?
Os fármacos utilizados no tratamento da Tuberculose são, na maioria dos casos, bem tolerados. O efeito secundário mais frequente é a intolerância gastrointestinal. Mais raramente, podem surgir efeitos mais graves como: reações alérgicas cutâneas, efeitos tóxicos sobre o fígado, aumento do ácido úrico, alterações sanguíneas, como anemia ou redução do número de plaquetas e dores articulares.
Na suspeita de algum efeito secundário ou queixa relacionada com a terapêutica, o doente deve procurar o seu médico, sendo este último, a decidir sobre possíveis alterações ou suspensões terapêuticas.
Onde é feito o tratamento?
O seguimento dos doentes com Tuberculose, o rastreio de conviventes e o tratamento da doença é feito preferencialmente nos Centros de Diagnóstico Pneumológico (CDP), espalhados por todo o país.
O médico de família faz a avaliação inicial do doente, referenciando-o ao CDP da área de residência ou a um serviço hospitalar de Pneumologia, caso considere necessário.
A maioria dos casos de Tuberculose é tratada em regime ambulatório. O internamento só é proposto quando as condições clínicas assim o exigem, pela gravidade da doença e/ou mau estado geral do doente e nos doentes bacilíferos sem condições sociais/psicológicas para restrição do contágio ou cumprimento da medicação prescrita.
Geralmente, os doentes são tratados em regime de toma observada diretamente (TOD), o que significa que o doente se dirige diariamente ao CDP para administração da terapêutica. A TOD permite não só a confirmação do rigoroso cumprimento da medicação, como a avaliação dos possíveis efeitos secundários.
Quais os sintomas da tuberculose?
Na maioria dos casos, as queixas não são inicialmente valorizadas, pois não são específicas perpetuando-se e agravando-se ao longo do tempo, de forma indolente.
Na Tuberculose Pulmonar, os principais sintomas são cansaço fácil, perda de apetite, fraqueza, emagrecimento, suores noturnos, febre habitualmente baixa de predomínio vespertino e tosse persistente frequentemente acompanhada por expetoração que pode conter sangue.
Na Tuberculose Extra-Pulmonar existem queixas muito variadas, dependentes do órgão atingido.
Qual a probabilidade de contágio?
A probabilidade de ficar infetado depende sobretudo do número de bacilos e do tempo de exposição aos mesmos. Estima-se que cerca de 10 em cada 100 pessoas infetadas vêm a desenvolver sintomas ao longo da vida (Tuberculose doença).
Isto acontece particularmente nos dois primeiros anos que se seguem ao contágio e em determinadas condições que tornam as pessoas mais suscetíveis: extremos etários (crianças e idosos), desnutrição, infeção pelo vírus da SIDA, diabetes, cancro e medicação que comprometa as defesas naturais, como por exemplo a quimioterapia ou o uso prolongado de corticoides.
Só os pulmões são atingidos pela doença?
O contacto do bacilo com o organismo é feito por via inalatória, sendo o pulmão o principal órgão atingido pela doença – Tuberculose Pulmonar.
No entanto, outros órgãos podem também ser afetados, tal como os gânglios linfáticos, pleura, meninges, pericárdio, ossos, rins, fígado e intestinos, entre outros, designando-se esta situação por Tuberculose Extra-Pulmonar.
Nos casos mais graves, quando o bacilo atinge a circulação sanguínea, todo o organismo pode ser atingido e surgir Tuberculose Disseminada. Estas duas formas de Tuberculose são mais comuns em doentes com as defesas naturais (imunidade) diminuídas.
Todos os doentes com tuberculose são contagiosos?
Não, apenas os doentes com Tuberculose Pulmonar que eliminem o bacilo para o ar durante a tosse, o espirro, a respiração ou a falar. Pelo contrário, as formas de Tuberculose Extra-Pulmonar não são contagiosas.
As informações são da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
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