Portugal está a engordar. Por ano, perdemos cerca de 200 mil anos de vida devido ao excesso de peso e, como se não bastasse, este é um problema que custa mais de mil milhões de euros à economia portuguesa. Dois em cada três adultos têm excesso de peso e não vamos ficar por aqui, uma vez que este é o fator de risco para a saúde com maior crescimento desde o início do milénio. É um problema, e as nossas soluções não estão a ser suficientes!

E se tentássemos algo diferente? Passamos cerca de um terço da nossa vida ativa no trabalho, e isso representa uma oportunidade para implementar políticas de saúde simples, pragmáticas e eficazes. A proposta é clara: as empresas que contribuírem para resolver o problema da obesidade devem ter benefícios fiscais. Incentivamos as empresas a promover estilos de vida saudáveis, os trabalhadores tornam-se mais saudáveis e o Estado, que poderá perder alguma receita fiscal no imediato, estará a atenuar um fator de risco que lhe custa imenso dinheiro. Cada euro investido na prevenção da obesidade pode gerar um retorno de até seis euros. Beneficia o Estado, beneficia a empresa e, acima de tudo, beneficiam as pessoas.

Mas como é que vamos fazer isso? Usando o que já existe! Os exames periódicos da medicina do trabalho são uma forma eficaz de acompanhar a evolução do peso, garantindo a confidencialidade dos trabalhadores e evitando conflitos de interesse. Com uma boa recolha de dados agregados, sem acesso a resultados individuais para proteger a privacidade, será possível avaliar o impacto real das políticas de saúde de cada empresa na redução do excesso de peso, naturalmente excluindo os casos clínicos que justificam exceções. Se os resultados forem neutros ou negativos, a fiscalidade mantém-se como está. Mas se forem positivos, então a empresa começa a beneficiar fiscalmente — e quanto melhores os resultados, maior poderá ser o incentivo. Um verdadeiro prémio para as campeãs da prevenção.

Esta política focada em resultados não impõe medidas específicas, deixando nas mãos das empresas a responsabilidade de serem inovadoras, investirem na saúde dos seus trabalhadores e, em troca, beneficiarem de ganhos fiscais. Naturalmente, começarão a surgir com mais frequência programas de alimentação saudável, acompanhamentos nutricionais e incentivos à prática de exercício físico, como ginásios ou grupos desportivos. Cada empresa decidirá o que melhor se adapta à sua realidade e, pouco a pouco, todos caminharemos para uma vida mais saudável.

Funciona! No Japão, desde 2008, uma lei semelhante tem apresentado enorme sucesso, com o país a registar um índice de obesidade de apenas 3,7% (contra os 28,7% em Portugal), o mais baixo entre os países desenvolvidos. Numa realidade diferente, mas igualmente inspiradora, a Johnson & Johnson demonstrou que programas de promoção da saúde no trabalho podem gerar um retorno de até quatro vezes o valor investido.

Em conclusão, esta proposta é tão simples quanto justa: premiar fiscalmente as empresas que investem, de forma séria, na saúde dos seus trabalhadores. Passamos grande parte da vida no trabalho e, como tal, este deve ser um parceiro central nas grandes causas. Para além disso, em Portugal sabemos bem que “prevenir é melhor que remediar”, por isso está na hora de diminuir o peso da obesidade no país e de começarmos, juntos, a caminhar para uma melhor saúde para todos!

Referências:

  1. Direção-Geral da Saúde. (2025). Roteiro de Ação para Acelerar a Prevenção e Controlo da Obesidade em Portugal, DGS

  2. Borges, et al. (2024). Burden of Disease and Cost of Illness of Overweight and Obesity in Portugal, The European Journal of Obesity

  3. Henke, et al. (2011). Recent Experience In Health Promotion At Johnson & Johnson: Lower Health Spending, Strong Return On Investment, Health Affairs