Não se trata de um filme de realidade alternativa. É o mundo da britânica Rachel Warwick, onde banhos de imersão são pesadelos e mergulhos no mar são autênticas descidas em escorrega de giletes.

Qualquer contato com a água, incluindo o suor, deixa Rachel com irritações dolorosas, inflamações e prurido. Pode durar várias horas. "É como se tivesse corrido uma maratona. Fico cansada e tenho que me sentar para recuperar a energia. É horrível, mas se eu chorar piora: a minha cara fica inflamada", explica à BBC.

Pelo menos 60% do corpo humano é composto por água, mas não é a água do corpo humano que parece ser um problema para quem sofre da urticária aquagénica. As reações alérgicas são provocadas pelo contacto da substância com a pele. "Quando as pessoas sabem do meu problema, fazem-me dezenas de perguntas sobre como faço para comer, beber ou tomar banho. A verdade é que preciso de aguentar a dor e continuar a minha vida", admite.

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A doença confunde os cientistas. Tecnicamente, a urticária aquagénica não é uma alergia, mas sim uma reação imunitária despertada pelo corpo. Uma das primeiras teorias para explicar como a doença funciona é que a água interage com a camada mais externa da pele, composta maioritariamente por células mortas e substâncias oleosas que mantém a pele húmida. Este contacto pode levar esses componentes a libertarem compostos tóxicos, gerando uma reação imunitária dolorosa.

Doença devastadora

Quaisquer que sejam as causas, este tipo de urticária é uma doença devastadora, comenta o dermatologista Marcus Maurer, fundador da ECARF, um centro alemão de estudos de alergias, citado pela televisão britânica. "Tenho pacientes que sofrem de urticária há 40 anos e que ainda acordam com manchas e edemas diariamente", explica. Pessoas que sofrem deste problema de saúde desenvolvem quadros de ansiedade ou depressão. "Em termos de qualidade de vida, é um das piores doenças que se pode ter", acrescenta Maurer.

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Rachel tinha 12 anos quando o problema lhe foi diagnosticado, depois de perceber uma irritação na pele enquanto nadava. Rachel não nasceu com urticária aquagénica, mas o seu corpo desenvolveu a condição durante o seu crescimento.

Sobreviver com a urticária não é um problema, mas suportá-la é outra história. Em períodos de muita chuva, por exemplo, Rachel não pode sair de casa. Atividades corriqueiras como lavar a louça são executadas pelo marido. Ela limita os banhos: apenas um por semana. Para minimizar o suor, usa roupas leves e evita fazer exercício.

Para evitar água, Rachel bebe leite, já que a reação não é tão dolorosa. O tratamento é feito à base de anti-histamínicos. A urticária aquagénica afeta apenas uma em cada 230 milhões de pessoas no mundo. Ou seja, apenas 32 pessoas no planeta sofrem da doença.