A polipose nasal é uma forma de rinossinusite crónica chamada rinossinusite crónica com pólipos nasais. Como o nome sugere é uma doença em que as fossas nasais e os seios perinasais se encontram continuamente inflamados e produzem pólipos nasais. Os pólipos nasais são, então, dilatações benignas, em forma de gota ou uva, que crescem e preenchem as fossas nasais e os seios perinasais.
O termo “crónica” significa que afeta os doentes durante um período prolongado, pelo menos 3 meses, mas frequentemente durante anos ou décadas.
A rinossinusite crónica com pólipos difere da rinossinusite aguda que é uma doença de curta duração que, habitualmente, resulta de uma vulgar constipação e que melhora habitualmente ao fim de 2 a 3 semanas.
Estima-se que cerca de 4% da população portuguesa tenha polipose. É mais frequente em pessoas com asma e surge frequentemente a partir dos 40 anos de idade.
Quais os sintomas?
Os doentes com polipose apresentam como sintomas: nariz obstruído (habitualmente dos dois lados), diminuição ou ausência de olfato, corrimento nasal e, menos frequentemente, dor na face.
A perda de olfato que é muito característica da polipose, é também um dos sintomas mais comuns da infeção COVID-19 e, em muitos casos, é o único sintoma. A diferença está no facto de a perda de olfato por COVID-19 ser tipicamente repentina e grave. Se o doente já tem o diagnóstico de rinossinusite/polipose e, de repente, perde o olfacto, deve tentar perceber se houve agravamento simultâneo da obstrução nasal. Se a perda de olfato ocorre sem outros sintomas, o doente deve admitir que está infetado. A perda de olfato e paladar associados à infeção COVID-19 é habitualmente de curta duração e melhora em 2 a 4 semanas.
A compreensão da polipose tem melhorado nos últimos anos, mas ainda não se sabe porque é que algumas pessoas desenvolvem polipose e outras não. Pensa-se que seja uma combinação de diferentes fatores que, em conjunto, levam à inflamação dos seios perinasais, nomeadamente fatores genéticos, asma, anti-inflamatórios não-esteróides, bactérias, fungos, poluição, doenças sistémicas, entre outros.
É importante relembrar que a polipose não é uma infeção, embora um dos fatores que podem produzir inflamação sejam as bactérias. De qualquer forma, não é erradicando as bactérias dos seios perinasais com antibióticos que se consegue curar o problema.
Como doença crónica que é, o tratamento é de longa duração e consiste em lavagens nasais, corticosteróides nasais e, em doentes com sintomas severos, curtos períodos (de 1 a 2 semanas) de corticosteróides orais. Os corticóides orais permitem uma melhoria significativa dos sintomas, podendo ser dados 1 a 2 vezes por ano, mas não são usados por longos períodos pelos seus efeitos adversos.
Qual o tratamento?
A polipose nasal é tratada primariamente com medicação. No entanto, esta medicação pode não ser suficiente para o controlo dos sintomas. Quando um doente já se encontra a fazer o máximo de medicação, mas os sintomas ainda afetam a sua qualidade de vida, poderá estar indicada cirurgia endoscópica nasossinusal. A cirurgia permite a remoção dos pólipos e a melhoria da ventilação dos seios perinasais.
Embora a cirurgia permita uma melhoria significativa dos sintomas, não cura o problema de base (a inflamação) pelo que os pólipos podem recorrer. 1 em cada 5 doentes poderá necessitar de uma nova intervenção nos 5 anos seguintes. Até recentemente, estes doentes com polipose grave não tinham outra opção senão cirurgias repetidas e uso de corticóides orais, com impacto importante dos sintomas na sua qualidade de vida.
Felizmente, isso mudou recentemente com o aparecimento de novos tratamentos aprovados para este tipo de doentes, os biológicos. Os fármacos biológicos são um novo tipo de tratamento médico, que atua diretamente no sistema imunitário bloqueando a inflamação.
Existem vários medicamentos biológicos disponíveis que podem ser usados para a polipose e é natural que o número de biológicos comercializados venha a aumentar nos próximos anos.
O dupilumab é o primeiro medicamento biológico, aprovado na União Europeia, dirigido à polipose nasal. Os ensaios clínicos revelam que os doentes que fizeram o tratamento tiveram uma redução no tamanho dos pólipos e melhorias da respiração nasal, do olfato e da sua qualidade de vida.
Um artigo do médico João Pimentel, especialista em Otorrinolaringologia.
Comentários