Ainda são poucos os dados disponíveis e a maioria dos especialistas pede prudência na análise dos números avançados mas são vários os estudos científicos internacionais tornados públicos nas últimas semanas que defendem que os fumadores são menos atingidos pelo novo coronavírus. "Constatámos que a esmagadora maioria dos casos graves não são de fumadores, como se o tabaco, através da nicotina, os protegesse do vírus", revela Jean-François Delfraissy.
As afirmações do diretor do comité científico encarregado de acompanhar a evolução da COVID-19 em França têm menos de uma semana e contrariam as indicações da comissão nacional contra o tabagismo francesa, que ainda no final de março tinha alertado contra os malefícios do tabaco. "Fumar altera as defesas imunitárias e as funções pulmonares e, além disso, os fumadores levam muito os dedos à boca, que é uma das portas de entrada do vírus", advertiu.
Várias ingestigações chinesas e norte-americanas compararam números e suscitaram a dúvida. Depois de analisar mais de 7.000 doentes infetados com SARS-CoV-2, um grupo de cientistas americano apurou que apenas 1,3% eram tabagistas. Num estudo chinês, essa percentagem não ultrapassava os 12,3%. Os investigadores contavam que fosse o quíntuplo. "Dois estudos de qualidade detetam cinco vezes menos fumadores entre os doentes de COVID-19 na China e dez vezes menos do que nos EUA", alerta Bertrand Dautzenberg, um reputado ex-pneumologista, que agora preside à organização francesa Paris Sans Tabac.
"Não nos podemos, no entanto, esquecer que o tabaco mata 200 pessoas por dia. É urgente aprofundar esta análise e fazer novas investigações", defende o especialista. "Será por causa do fumo? Será devido à nicotina? Ainda não o sabemos mas há vários estudos em andamento para tentar explicar este fenómeno", informa Bertrand Dautzenberg. "Temos de ser muito prudentes em relação a esta matéria", defende Marion Adler, médico de um hospital francês.
"Ainda só existem alguns estudos chineses e americanos", sublinha. "Os fumadores são muito mais suscetíveis a infeções, porque sabemos que a capacidade de produção de anticorpos, quer o próprio funcionamento do sistema imunitário, é muito mais deficiente. Têm muito mais pneumonias bacterianas e infeções virais em geral. Seria muito estranho se não ocorresse com o novo coronavírus", referiu o pneumologista José Pedro Boléo-Tomé ao site Polígrafo.
"O tabaco nunca será uma solução contra a COVID-19. Isso seria como tratar uma pneumonia com [recurso a] uma [arma] kalachnikov. As pessoas devem deixar de fumar. O tabaco nunca será uma coisa positiva", critica Marion Adler. "A evicção tabágica é sempre recomendável", anui Sandra Cerdeira, uma das médicas que têm respondido a dúvidas colocadas por cidadãos num grupo do Facebook criado para esclarecer as dúvidas dos utilizadores desta rede social.
"O tabaco mata mais que o coronavírus", garante. "O risco dos fumadores virem a desenvolver complicações graves pela sua condição de saúde atual é superior à dos demais", adverte a profissional de saúde portuguesa. Um estudo americano divulgado, no fim de março, pela publicação especializada New England Journal of Medecine, incluía os diabéticos, os hipertensos, os doentes cardiovasculares e os fumadores na lista dos grupos de maior risco da COVID-19.
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